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Desde o dia 06 de abril a Superintendência de Assistência Social (SAS) da USP, está ocupada por estudantes em luta contra as agressões sofridas por mulheres no CRUSP (moradia estudantil) e contra o machismo institucional na USP

Patricia GalvãoDiretora do Sintusp e coordenadora da Secretaria de Mulheres. Pão e Rosas Brasil

segunda-feira 9 de maio de 2016 | Edição do dia

O estopim foi mais um caso de agressão dentro da moradia estudantil. Estimativas apontam para, pelo menos, um agressor em casa andar do prédio da moradia estudantil (CRUSP). E o que querem as mulheres? Fim das agressões, punição dos culpados, uma comissão independente, formada por estudantes, professoras e trabalhadoras, para averiguar as denúncias, vagas nas creches, devolução dos blocos K e L e moradia adequada para as mães. Ou seja, o fim do machismo institucional na USP que acoberta estupros e agressões e ameaça com punição aquelas que lutam pelos diretos das mulheres.

Em fins de 2014, depois de inúmeras denúncias de casos de assédio e estupros em festas da medicina da USP, a abertura de uma CPI, trouxe a tona os inúmeros casos de estupros, agressões e assédios à mulheres da USP. Era a ponta do iceberg do machismo institucional da mais importante universidade do Brasil. Cotidianamente mulheres trabalhadoras são vítimas de assédio, moral e sexual, precarização do trabalho – que atinge principalmente as mulheres – e falta de vagas nas creches. Aliada às denúncias das estudantes, a resposta da reitoria foi zero. Ou melhor, criou um projeto, USP mulheres, cuja principal preocupação, se não a única, foi espalhar cartazes com o mote “elas sempre podem”, sem, contudo, garantir os direitos dessas mesmas mulheres às creches, garantir sua segurança mínima, com mais ônibus circulares e iluminação, ou investigar e proteger as mulheres estudantes moradoras do CRUSP.

A faceta machista da reitoria da USP ficou evidente quando a reitoria, em resposta à ocupação, tentou deslegitimar as pautas, acusando o movimento de “agressivo” e “desproporcional”. No entanto, o próprio reitor Marco Antônio Zago, tem repetidas vezes tomados atitudes cada vez mais agressivas e desproporcional em relação às mulheres durante as reuniões dos Conselhos Universitário. Com gritos e ameaças é como o reitor responde aos questionamentos das mulheres trabalhadoras e estudantes. Mais, em uma conhecida manobra, acusou também o movimento de ser o responsável pela falta de compras de alimentos para serem preparados nos bandejões da USP, para tentar jogar estudantes e trabalhadores contra as ocupantes. Os trabalhadores dos bandejões se recusaram a servir comida feita for restaurantes terceirizados, o que aceleraria o processo de terceirização e paralisaram o trabalho desde o dia 18 de abril.

Com pedido de reintegração de posse expedido, no dia 29 e abril ocorreu uma audiência pública de conciliação onde estiveram presentes, de um lado, representantes do movimento feminista da ocupação, da Secretaria de Mulheres do Sintusp, que tem estado presente de forma ativa apoiando a ocupação, da diretoria do Sintusp e do outro lado reitoria e superintendente da SAS, Waldyr Jorge.

Sobre o resultado, que garantiu a formação de uma comissão autônoma, com membras eleitas em suas categorias, estudantes, funcionárias e professoras, que cuidará de analisar e averiguar As denúncias de agressões, assédios e estupros, Dinizete Xavier, da Secretaria de Mulheres declarou ao Esquerda Diário:

A luta das mulheres no Crusp provou que a Universidade mantém institucionalizado o machismo e banalização da vida das estudantes. A ocupação forçou Waldyr Jorge a confessar sua improbidade quanto a violência institucionalizada no CRUSP. Zago e Waldyr Jorge trataram essas questões tão graves e a pauta de reivindicação como caso de polícia, mas contra essas mulheres. Éramos ré nessa audiência, mas viramos o jogo, que apesar da desocupação, obrigamos os machistas a reconhecerem a comissão feminista de violência de gênero no Crusp. Com toda sua autonomia e poder para acolher, investigar e propor medidas administrativas disciplinares contra os agressores. E ainda deliberar sobre o regulamento do regimento que será reconhecido e institucionalizado pela USP. Tivemos uma conquista importante, valeu muito a luta mais radicalizada, só assim pudemos denunciar a política machista da USP. E abrir caminho para que se crie em toda a Universidade e nos demais locais onde houver a violência contra as mulheres!

A ocupação teria 10 dias para deixar o prédio da SAS.

Ata da reunião de conciliação – 29/04/2016

Porém, nesta última semana, a Reitoria e a SAS tentaram atropelar a decisão acordada e criar ela própria a sua comissão, sem o caráter independente nem autônomo. Diante da recusa da reitoria, o movimento decidiu manter a ocupação, que tem contado com atividades políticas e culturais para manter acesa a discussão e o avanço do debate sobre a luta das mulheres na USP. O movimento feminista alcançou uma vitória importante na luta contra as agressões às mulheres no CRUSP. Não aceitaremos nenhum passo pra trás!

Boletim da Ocupação

As mulheres da USP não aceitarão mais o machismo institucional!

Todo apoio à Ocupação da SAS!

Machistas Não Passarão!




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