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INVESTIGANDO A LAVA JATO | A Lava Jato como parte da disputa entre imperialismos

Você já ouviu falar de alguma empresa americana envolvida em esquemas de corrupção no Brasil? E condenação de alguma empresa europeia mencionada? Como a Lava Jato e outras operações judiciais podem estar relacionadas a crescentes disputas entre os imperialismos?

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

sexta-feira 7 de julho de 2017 | Edição do dia

A operação Lava Jato e diversas outras operações policiais e judiciais recentes mostram conexões com interesses internacionais. Essas conexões jogam luz sobre alguns aspectos das operações, não esgotando, evidentemente, as ações de seus agentes e como eles se casam com os interesses e ações de outros atores fundamentais na política brasileira. Alguns aspectos das maiores operações recentes mostram que há elementos para entender essa operação como uma peça de uma crescente disputa entre imperialismos. Uma peça, que não é a central mas é importante. Qual o lugar do Brasil no mundo? Eis a questão. De um lado pode-se somente vislumbrar alguns atores ocultos e de difícil nomeação no imperialismo americano, e de outro lado seus competidores europeus, em especial a Alemanha.

Muita tinta já correu para mostrar como Moro e o Ministério Público Federal atendem a interesses americanos. Mas há um aspecto que havia escapado a todos analistas (inclusive este autor), sua conexão com disputas entre imperialismos.

O Esquerda Diário já publicou o vazamento de cabos da diplomacia americana, os Wikileaks, que mostram como Moro foi treinado pelo Departamento de Estado. Muitos jornalistas já denunciaram como Janot tem ajudado acionistas americanos a processar a Petrobras e agora, como parte do acordo de delação da JBS ajudou a empresa a transferir sua sede aos EUA.

A Lava Jato, para além de ser um ator político com interesses específicos, tem como objetivo mudar o capitalismo no país, atacando especialmente as empresas estatais e nichos do mercado mundial onde gigantes privados nacionais jogavam como grande capitalistas: construção civil e carne. Esse interesse antinacional se mostra na arbitrariedade com que foi feito o recorte da operação, na quase absoluta impunidade de todas empresas internacionais citadas nas operações (e o que queremos mostrar aqui a impunidade de empresas europeias e absoluto ocultamento de participação de empresas ianques) e alcança até mesmo aspectos ideológicos e um programa político que norteia sua ação.

Para se aprofundar nos aspectos ideológicos da Lava Jato e o objetivo comum de “privatizar tudo” com a Mãos Limpas italiana leia esse artigo

Mas quais empresas e de que países aparecem nas delações?

Quais empresas foram denunciadas originalmente por constituir um cartel nos contratos e obras da Petrobras? Segue a lista completa, segundo a Folha de São Paulo: Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, Mendes Junior, MPE Montagens, Promon, Setal/SOG Óleo e Gás, Techint, UTC Engenharia, OAS, Engevix, Galvão Engenharia, GDK, Iesa, Skanska Brasil e Queiroz Galvão Óleo e Gás.

Como já argumentamos, atacar os corruptos esquemas da Odebrecht e Cia visa substituir esses esquemas por outros mais ligados a empresas imperialistas não somente no Brasil, mas em outros lugares como Cuba, Venezuela, Angola, Peru, Argentina onde as gigantes brasileiras tem (ou tinham) importantes negócios.
Mas substituir por quais empresas? Alguma dessas empresas listadas na Lava Jato é americana? Inglesa? Não. Mas a gigante sueca Skanska, oitava maior do mundo aparece, bem como a ítalo-argentina Techint.

Nenhuma menção a alguma empresa americana teria acontecido porque a Petrobras não teria contratos com empresas anglo-americanas? Não é o caso. Muito pelo contrário, a área de Exploração e Produção, a mais rica da empresa tem numerosos contratos com a Halliburton e diversas outras empresas americanas de sondas e exploração de petróleo. No entanto, essa área da Petrobras, a de maior faturamento, que sozinha é maior que todas as outras áreas investigadas somadas, nunca foi alvo de nenhuma operação da Lava Jato.

Para gigantes americanas da construção civil como Fluor Company e Bechtel não basta mudar o regime na Venezuela, Cuba ou Angola é preciso desfazer contratos e firmar novos que as favoreçam. Não basta abrir o pré-sal e o petróleo brasileiro é preciso que o caminho esteja livre ao capital americano. A Halliburton, que tem como um de seus acionistas Dick Cheney ex-vice presidente americano e raro membro do establishment republicano a apoiar Trump tem que ficar não só intocada como uma Skanska sueca tem que ficar oculta, sem investigação, sem menção.

Para aprofundar-se nesse tema leia “Lava Jato: por trás de Moro e da grande mídia se escondem alguns dos ’donos do mundo’

Vejamos o esquema do cartel do metrô paulista. Quais empresas foram citadas? Segundo o G1, fora parceiras brasileiras constam:: Alstom, Balfour Beatty Rail Power Systems Brasil Ltda., CAF, Bombardier, Daimler-Chrysler, Hyundai-Rotem, Mitsui, Siemens. Seguramente na grande mídia o leitor só deve ter encontrado alguma menção à francesa Alstom ou à alemã Siemens, no máximo à canadense Bombardier. A inglesa Beatty Rail não.

Os contratos metro-ferroviários com uma gigante americana, a General Electric (GE), misteriosamente nunca ganharam uma linha na mídia, menos ainda uma ação do MPF, e com esta operação que não levou (é claro) a nenhuma condenação relevante de Siemens ou Alstom, mas só a manchar seus nomes, os contratos da segunda foram assumidas pela GE americana. Coincidência ou seletividade?

As empresas imperialistas da Alemanha, França, Canadá, Japão, Suécia citadas nessas operações sofreram pequenas ou nenhuma sanção. Tal como qualquer empresa imperialista. Antes de mais nada essas operações poupam o capital estrangeiro em detrimento do nacional, mas a seletividade com que blindam as americanas é chamativa.

O que temos em curso não é a preparação de uma guerra entre imperialismos. Mas crescentes disputas. A Lava Jato entra nessa disputa. Anos atrás a disputas entre quem pagaria a conta da crise grega opôs interesses americanos e alemães através de políticas distintas do FMI (sob influência americana) e o Banco Central Europeu (dominado pela Alemanha). Depois vimos a escalada com o conflito na Ucrânia quando os EUA atuaram decididamente tentando impedir algum tipo de aliança russo-alemã. Na guerra civil síria, na crise de imigração, e numerosos temas internacionais vemos essas crescentes rusgas e disputas.

É quase impossível achar o “laço” dessa inferência aqui feita traçando o caminho do que é revelado e do que é oculto. Os negócios de bastidores são feitos, como o nome, diz nos bastidores. Para o aluno de Harvard Dallagnol basta um powerpoint. E como afirmamos em outro artigo não precisamos encontrar alguns dos homens de Curitiba no contracheque da CIA para serem agentes – até mesmo inconscientes – de interesses. As séries de “Law and Order”, os estudos lá, as parcerias e investigações e acesso a tecnologias, ganham “corações e mentes” de pequenos messias que se acham donos do bem e do mal mas não passam da centésima versão colonizada de nossos bacharéis entreguistas.

No judiciário brasileiro vemos diversos proeminentes membros fazendo seus mestrados em Harvard, fazendo integrações com o FBI, com o Department of Justice e assim “curiosamente” as investigações fazem recortes que blindam empresas daquele país mais do que de outros. Os tiros dados pelo MPF em um Siemens ou Skanska são tiros de advertência, nada similar aos que são dados na Petrobras ou Odebrecht.

Desde a ditadura, quando internacionalmente o imperialismo alemão começa a se ver fortalecido para começar a trilhar um caminho mais independente dos EUA é uma política de Estado (e não governo) daquele país o desenvolvimento industrial brasileiro. Da transferência de tecnologia para as usinas nucleares de Angra, à triangulação de exportações da Volkswagen do Brasil em troca de petróleo iraquiano para a Petrobras no final dos 80 a todo um saudosismo recente da fundação Konrad Adenauer com os tempos de Brasil dos Brics. Antes do golpe Dilma firmava diversos acordos com a Alemanha para a exploração de terras raras no Brasil e outras iniciativas em áreas de ponta e estratégicas. Talvez esse seja um dos motivos pelas lágrimas alemãs que levam a análise de que tirando ou mantendo Temer os tempos de Brasil relevante no mapa-múndi ficaram para trás.

Para se aprofundar nas posições do partido de Merkel sobre o Brasil, leia "Instituto Alemão afirma que ’Brasil se encontra num beco sem saída, com ou sem Temer"

Fazer o Brasil um ator “latino-americano” parece um grande negócio teuto. Um negócio para suas multinacionais aqui instaladas, mas também porque alguns “lances” que enfraquecem o competidor ianque o favorecem. A Lava Jato, olhada desde esse ângulo, parece uma blindagem de gigantes americanas e alguns aspectos de tiro de advertência (e não de guerra) a seus competidores, sobretudo os europeus.




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