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A Frente de Esquerda na Argentina | A “Frente Única” como justificativa para disputar candidaturas

Fredy LizarragueDirigente Nacional do PTS da Argentina

terça-feira 7 de julho de 2015 | 12:44

Grande parte do discurso de encerramento de Jorge Altamira no ato do Estádio de Ferro, foi dedicado a polemizar elipticamente contra PTS, que supostamente "não entende" que a FIT é uma forma de Frente Única.

Nesta área, Altamira criou enorme confusão entre o significado da Frente Única para a organização e a luta da classe trabalhadora, à qual o PO historicamente sempre se opôs (e seria muito saudável se mudasse agora), e uma suposta "Frente Única" no campo eleitoral, que tem sido a base histórica dos acordos frentepopulistas que liquidaram a independência política dos trabalhadores (tais como a Frente do Povo primeiro e Esquerda Unida depois, entre o velho MAS e PC nos anos 80).

Altamira já havia afirmado em uma entrevista que deu ao jornal da Esquerda Socialista (El Socialista N°292) que "A defesa da Frente Única é a grande delimitação estratégica e de princípios no interior da Frente de Esquerda". Pretende justificar, assím, a criação de chapas para as eleições primárias argentinas (PASO), o que é ridículo como uma diferença "estratégica e de princípios" pode ser resolvida em uma eleição primária burguesa?

Vamos primeiro tentar esclarecer as confusões, uma vez que o objetivo de armar "fracionalmente" seus militantes contra o suposto "sectarismo" do PTS, levou o PO para fundamentar afirmações que não têm nada a ver com as lições táticas e estratégicas do primeiro congresso da Internacional Comunista que nós marxistas reivindicamos.

O marxismo revolucionário sempre defendeu que, na arena eleitoral, não se trata de "Frente Única", mas de agitação política programática para as massas. A Frente Única dos trabalhadores é para a ação (como disse o próprio Altamira, mas referindo-se à "ação eleitoral"). A frente eleitoral é para a difusão de idéias e de um programa.

Apesar na história das organizações operárias revolucionárias têm sido lícitas as táticas específicas como o voto a partidos operários de massa reformistas, mesmo nestes casos, o fundamental é a agitação política independente dos reformistas.

A Frente Única operária e dos trabalhadores, para a ação, não necessita de um programa político acabado mas um programa de acção progressiva da classe trabalhadora, tanto defensiva (tais como as promovidas no Terceiro Congresso da Internacional Comunista, contra vários ataques do capital sobre os trabalhadores e suas organizações) ou ofensivo (com a criação dos conselhos ou sovietes de trabalhadores, como Trotsky levantou na História da Revolução Russa). Trotsky apontou que desta forma a frente única operária permitiu trabalhadores de se organizarem nas mais amplas massas exploradas e oprimidas, onde a democracia dos trabalhadores é desenvolvido através da liberdade de tendências no contexto da tomada do poder. Isto Altamira mencionou no ato, o que alcança dois grandes problemas.

Por um lado, o PO historicamente sempre se opôs à organizar coordenações entre os sectores em luta, experiências embrionárias "conselhistas", como a Coordenadora de Alto Vale que foi impusionada pelos trabalhadores de Zanon junto com as organizações de desempregados. Nós sempre fomos acusados de "fetichistas soviéticos" como se despreciássemos a construção do partido pela ênfase que sempre demos a auto-organização das massas (trabalhadores, estudantes e todo povo pobre) e de sua vanguarda. Inclusive no ano passado o PO se opos ao Encontro Sindical Combativo de Atlanta, que dirigimos junto a Pollo Sobrero, a Esquerda Socialista (ES) e a Perro Santillán, e boicotaram os encontros regionais posteriores, onde participaram milhares de trabalhadores (particularmente na Zona Norte, onde se prepararam os conflitos de Gestamp, Lear e Donnelley, os mais duros de 2014). Além disso, Altamira apresentou a "Frente Única", incluindo o desenvolvimento da democracia dos trabalhadores dentro do seu interior e o governo dos trabalhadores como "máxima expressão" da mesma. Mas o que não é dito é que a democracia operária (ou soviética) é o meio pelo qual o partido revolucionário tem que derrotar todas as tendências centristas e reformistas dentro dos "sovietes", porque se não eles vão se tornar organizações conciliatórias no regime burguês (como na própria Revolução Russa entre fevereiro e outubro de 1917, e a Revolução Alemã 18-19, por exemplo).

Por tudo isso, a FIT não é uma "frente única" mas sim um pólo político-programático com base na independência de classe entre correntes que nos consideramos operárias e socialistas, altamente progressivo em um país onde a classe trabalhadora tem sido levada a duras derrotas pela direção burguesa do peronismo e a burocracia sindical, que em grande parte permanecem. Na tradição do marxismo revolucionário do século XX, não se pode encontrar exemplos de partidos revolucionários importantes que surgiram como "Frente Única" em alianças eleitorais com reformistas, pequenoburgueses e/ou populistas. Pelo contrário, esse tipo de "experiências" eleitorais foram sempre fortemente denunciadas por Trotsky e outros marxistas como frentes populares ou "embrião" disso. Isto é, as organizações para "anestesiar" e enganar a classe operária e sua vanguarda.

O discurso de Altamira trata de desenvolver um giro que vem dando o PO: do sectarismo no sentido de reais frentes únicas, a defesa da frentes eleitorais como se fossem "frentes únicas". Lembre-se que Solano, na Prensa Obrera de 21/5, já havia argumentado que "Não deixamos em nenhum momento de lado a defesa e propaganda do nosso programa, mas subordinamos e complementamos ao desenvolvimento da frente única". Ou seja, que "subordinam" a "defesa" do programa, a um acordo com as correntes frentepopulistas, como se fosse uma Frente Única operária, que (reiteramos) é sempre a luta, para "golpear juntos e marchar separados".

Parte dos ataques de PO ao PTS é dizer que para nós a FIT é um "terreno em disputa", tentando dar a entender que não nos interessa seu progresso como uma coalizão política de independência de classe, uma questão absolutamente desmentida pelas prévias campanhas eleitorais aonde assumimos a responsabilidade central em Mendoza, Santa Fé e Neuquén, e militando em pé de igualdade no Centro Autônomo de Buenos Aires e Córdoba.

Outra questão é que mesmo sem ser uma "Frente Única" mas um polo de independência de classe, na medida em que não somos um partido comum, haverá tensões, lógicas, debates e controvérsias em defesa das posições por cada partido. O próximo ascenso operário confirmará na experiência viva da luta de classes a correção da orientação tática e estratégica de cada organização, e abrirá o caminho para as rupturas e fusões que tenham a construir um grande partido revolucionário comum.

As diferenças teóricas sobre a Frente Única e as frentes eleitorais que já observamos, não constituem no dia de hoje diferenças no terreno político de uma magnitude tal que justifiquem a ruptura da frente por questões programáticas. As diferenças sobre como incorporar as correntes que se aproximam da FIT que ainda não compartilham seus princípios e programa constitutivos, não tem nada a ver com as PASO, porque nelas apenas se expressam as principais candidaturas que o PO aspira em conservar, acompanhado por ES, que é a verdadeira explicação de sua negativa em concordar com uma fórmula e uma lista comum das três correntes da FIT. Altamira deu peso à questão da "frente única" no ato de Ferro pois não tem outro propósito senão o de ignorar os nossos apelos e dar uma unidade a sua militância baseada em atacar o "sectarismo" de PTS.




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