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A Faria Lima no jantar de apoio a Bolsonaro: o que está em jogo?

Aqui no Esquerda Diário analisamos a “carta dos 500”, que envolve empresários, banqueiros e economistas como um tiro de advertência, que revela fissuras no setor de finanças, mas que ainda não tinha ganhado o terreno que pintou a grande mídia tradicional e golpista burguesa que faz um grande alvoroço interessado sobre a perda de apoio dos grandes do capital financeiro a Bolsonaro. O jantar de Bolsonaro com setores importantes do empresariado e dos bancos, parece confirmar nossa análise.

sexta-feira 9 de abril de 2021 | Edição do dia

imagem: Mathilde Missioneiro/Folhapress

Como já tínhamos alertado, a carta dos “500”, com seu nome pomposo, de fato revelava fissuras no setor de finanças, mas que eram menores do que uma “ruptura da Faria Lima” com Bolsonaro, como propagandeava segmentos da grande imprensa e da esquerda. Setores centrais dos bancos, da economia e dos empresários não assinavam a carta.

Veja mais em: O que está por trás da carta dos 500?

Esse segmento das finanças e do grande empresariado são os que, conseguindo uma mudança discursiva em relação à campanha de vacinação, aplaudem publicamente o presidente. Fábio Faria, ministro de Bolsonaro, articulou, na casa do dono da empresa de segurança privada Gocil, um jantar com diversos empresários. No banquete intragável dos bilionários e golpistas, estiveram presentes setores graúdos da burguesia brasileira, que não figuravam na lista de assinantes da carta articulada pelo Itaú e pela intelectualidade tucana.

No rol dos bancos, havia representantes relevantes da Faria Lima: Luiz Carlos Trabuco Cappi, do Bradesco; André Esteves do BTG Pactual; e David Safra, do banco Safra. O Bradesco é o segundo maior banco privado do país, e os demais representam importante parcela do capital financeiro brasileiro.

Entre os empresários o jantar reuniu Rubens Ometto da Cosan, Washington Cinel da Gocil (que cedeu a casa para jantar), Flávio Rocha da Riachuelo, João Camargo do grupo Alpha, Carlos Sanchez da EMS e Alberto Saraiva do Habib’s, grupo que foi super ativo na convocação de atos pró-golpe em 2016. Por parte da grande imprensa, estiveram presentes as reacionárias SBT, Jovem Pan, e a CNN.

De um lado, há claras divisões na classe dominante sobre o que fazer com o governo. De outro, entretanto, Bolsonaro não aparenta ter perdido apoio naqueles que o sustentavam.

Ou seja, grandes nomes dos empresários e dos bancos, que apoiaram o golpe institucional e depois o governo Bolsonaro, mostram que seguem com o governo, já dizendo que Bolsonaro faz o que pode para trazer vacina ao país (sic) e que inclusive o Brasil é um dos poucos que produzem vacina.

Isso, em meio aos recordes de mortos que chegam a 4 mil por dia, e ao fato de hoje no Brasil o número de mortes ultrapassarem o de nascimento. É isso que ovaciona o empresariado e os bancos brasileiros.

A verdade é que esse setor do empresariado que esteve jantando com Bolsonaro pressionou por dentro do Congresso, para que Lira e Pacheco impusessem a alteração da linha de Bolsonaro frente à pandemia, sem utilizar o expediente público usado pelo Itaú. Agora, festeja com o presidente uma vacina que não existe para a maioria da população e “reformas estruturais” que significam mais ataques aos trabalhadores.

Com as consecutivas derrotas que veio sofrendo, mais controlado pelo Centrão e rejeitado em sua tentativa de ligar as Forças Armadas golpistas a aventuras contra governadores, Bolsonaro tenta demonstrar forças frente ao seu crescente desgaste. Ao mesmo tempo, mantém uma base dura de 25%, que será um fator para as eleições de 2022.

Já os empresários e banqueiros mostram que não vão abandonar Bolsonaro tão facilmente. Tudo dependerá dos efeitos ainda maiores que poderá ter a catástrofe sanitária organizada pelos capitalistas, e a crise econômica, que pode gerar fúria e movimentação dos trabalhadores. No campo das finanças, esses personagens da burguesia são aquilo que o Centrão é na política: condicionam o governo para o seguir apoiando. E assim o fazem porque, como toda a grande burguesia brasileira, lucraram de maneira abismal com a agenda econômica do golpe institucional, levada adiante por Bolsonaro junto ao STF, ao Congresso, aos militares e aos governadores.

A carta dos 500, ainda que mostre fissuras que vem justamente da administração de Bolsonaro na pandemia e da crise econômica, ainda não dá o tom dos grandes capitalistas. A imprensa golpista (Folha, Globo, Estadão junto a setores como o PSDB) tentam desesperadamente criar o mito de uma classe dominante “democrática”, que estaria “indignada” com Bolsonaro. Essas fantasias só vivem na cabeça desses grandes monopólios midiáticos. A burguesia brasileira é herdeira da escravidão, das inúmeras ditaduras e golpes militares contra a população, e do medo terrível que sentem diante da potência dos trabalhadores do país. Está preocupada com a capacidade de Bolsonaro preservar seus lucros, e não incitar explosões sociais que possam colocar em risco a agenda golpista.

Veja mais em: Mourão: quando a farsa da oposição de "centro" se encontra com Bolsonaro

A imprensa também tentou emplacar a ideia da “direita democrática” com a carta de Doria, Amoedo, Ciro Gomes, Luciano Huck e Mandetta pró-democracia (sic), com a intenção de cavar algum espaço ao centro, contra os pólos que já estão colocados para 2022 entre Lula e Bolsonaro.

Estão desesperados para conseguir emplacar uma figura de centro, uma “outra via” para 2022, assim como era o objetivo da lava-jato e do golpe institucional. Mas o nome mais forte que tem por ora é Doria, que também é mais do que responsável pela catástrofe da condução da pandemia, vide os recordes de mortes em São Paulo e não tem tanta simpatia Brasil afora.

A verdade é que assim como em 2018, o grande compromisso que esses setores tem é com as reformas e os ajustes econômicos, quem puder administrar melhor os ataques, em meio a crise social, pandêmica e econômica, leva o apoio.

Diante disso, Lula e o PT prometem mais alianças com a direita golpista, e ao atacar Bolsonaro querem atrair a seu seio o mesmo capital financeiro que lhes exige silêncio sobre as reformas trabalhista e da previdência. Silêncio religiosamente observado por Lula, enquanto propõe capital privado dentro de empresas como a Caixa Econômica Federal, algo que nem Paulo Guedes conseguiu fazer.

Ao contrário da política do PT de reintegrar-se ao regime do golpe, precisamos combatê-lo já. Não podemos esperar 2022, muito menos nos fiar dos movimentos do capital financeiro, como incrivelmente faz certo espectro da intelectualidade que se reclama de esquerda. As batalhas contra os efeitos da pandemia do coronavírus, o desemprego e os ataques econômicos dos golpistas devem andar lado a lado com a defesa dos nossos direitos democráticos.

Essa batalha exige um programa emergencial contra a crise sanitária que ataque os capitalistas, e envolve para nós a imposição pela luta de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana como saída independente de todas as alas desse regime golpista, que permita ao povo desfazer todos os ataques e reformas impostas desde o golpe, e decidir sobre medidas para atacar todos os problemas sentidos pela maioria do povo. Através dos choques entre as classes e a necessária autoorganização dos trabalhadores para impor suas demandas, essa política pode abrir caminho a um governo de trabalhadores de ruptura com o capitalismo, baseado nos organismos democráticos das massas. É essa a resposta política que precisamos, para não confiar em nenhum setor da classe dominante, nem nos conciliadores inveterados do PT.




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