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ELEIÇÕES | 6 questões sobre as eleições de ontem e os desafios para uma esquerda revolucionária

O que os resultados eleitorais mostram? Quais desafios estão colocados para uma esquerda que queira superar a experiência do PT, de conciliação com os empresários e com a direita.

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

segunda-feira 31 de outubro de 2016 | Edição do dia

1-

As eleições mostraram um fortalecimento da direita. O PSDB saiu vitorioso em várias capitais, aumentando o eleitorado que ele governa, inclusive começando a dirigir cidades que nunca antes havia governado como Porto Alegre e Santo André no ABC paulista. O fortalecimento da direita teve duas caras, a tucana e a de uma pulverização de vários pequenos partidos como o PRB de Crivella, o PHS de Kalil em Belo Horizonte e o PMN com Greca em Curitiba. O PMDB de Temer conquistou mais algumas capitais, como Florianópolis, e apesar de ser o partido com mais prefeituras no país, um ponto de apoio para Temer, não sai fortalecido pois perdeu suas duas principais capitais: Rio e Porto Alegre.

2-

O Rio de Janeiro foi um contraponto nacional a essa vitória da direita. Ali Crivella também venceu, mas mais de um milhão de pessoas votaram em Freixo (mais de 40%) e ali junto ao movimento de estudantes que ocupam suas escolas e universidades se expressa o potencial para uma força nacional contra os ataques de Temer. Essa força da juventude se mostra em especial no Paraná onde há centenas de escolas ocupadas pelos estudantes.

3-

A vitória da direita em boa parte do país aconteceu após a desmoralização de milhões de eleitores que confiavam no PT e seus aliados como o PCdoB. Pelo país à fora explodiu o número de abstenções, votos nulos e brancos, especialmente em locais onde o PT era forte como o ABC paulista, onde pela primeira vez desde 1982 o PT não dirigirá nenhuma prefeitura. O PT e PCdoB foram esmagados nas urnas em Santo André, Contagem e outros locais onde disputaram segundo turno com exceções muito pontuais como Santa Maria (RS) e Aracaju (SE). Essas derrotas são inseparáveis da atuação da burocracia sindical ligada ao petismo, como a CUT e CTB, de sua não luta contra o golpe institucional e sua trégua frente aos ataques de Temer, do judiciário, do Congresso e das patronais.

4-

A vitória da direita em várias cidades foi conquistada ao preço de um forte discurso “anti-político”, seja isso nas formas de “um gestor sério” como Dória em São Paulo e Marchezan Junior em Porto Alegre, ambos tucanos, de ataques aos pobres e políticos tradicionais como Greca em Curitiba, ou cheios de palavrões como Kalil em Belo Horizonte. Os tucanos são os maiores vencedores das eleições, mas a fragmentação dos partidos à direita, o discurso anti-político, o alto índice de abstenções são novos sinais da continuidade e aumento da crise de representatividade. Essa vitória da direita não define ainda a correlação de forças entre as classes, são vitórias oriundas antes de mais nada da decadência do PT e do discurso anti-político do que vitórias próprias, de um fortalecimento de seus partidos.

5-

As vitórias tucanas e de outros direitistas e golpistas pelo país abrirão as disputas por 2018. Aécio sai derrotado em Belo Horizonte, mas seu aliado Marchezan Junior em Porto Alegre é um ponto de apoio para se contrapor às muitas vitórias de Alckmin. O PMDB, dos partidos golpistas é o que menos se fortaleceu, e fora a pressão dos seus aliados tucanos de quem temem uma rasteira agora ou futura, seguirá sofrendo uma especial pressão da Lava Jato que escolhe quem e quando atacar conforme os interesses políticos. Essa dificuldade com os de “cima” se soma a pressão que aumentará para Temer realizar toda agenda de profundos ataques prometidos (reforma trabalhista, previdenciária) que prometem aumentar a insatisfação dos “de baixo” com seu governo. Já vemos as primeiras mostras disso na juventude.

6-

O fortalecimento da direita, que teve um contraponto no Rio de Janeiro, acontece ao mesmo tempo que jovens em muitos estados ocupam suas escolas, e alguns setores do funcionalismo começam a cruzar os braços contra a PEC 241 e outros ataques. A CUT fala em greve geral dia 11 de novembro, mas segue sem se mover em sua trégua com Temer e as patronais. A juventude com suas ocupações de escola e os resultados no Rio de Janeiro podem ser um ponto de apoio para organizar uma resistência contra esses ataques e lutar para romper essa trégua dos sindicatos dirigidos pelo petismo. Mas mais que isso, é preciso tirar lições das imensas derrotas do PT e não repetir seu caminho de conciliação com os empresários como Freixo buscou fazer no Rio, e mais ainda não repetir a conciliação com os partidos patronais como fez o PSOL se coligando com partidos burgueses em Belém e Porto Alegre. Podemos e devemos ver na crise de representatividade, nas ações da juventude e nos resultados no Rio uma oportunidade e dever de erguer um programa e uma força anticapitalista, revolucionária e socialista.

No primeiro turno as candidaturas do MRT em filiação democrática pelo PSOL conquistaram mais de 8 mil votos e mostraram como há espaço para um programa e uma força anticapitalista. O Esquerda Diário avançou muito no período das eleições se consolidando como uma ferramenta para informação e opinião de amplas setores de esquerda que buscam superar a experiência do PT. À luz desses desafios vamos organizar um ciclo de debates "anticapitalismo e revolução" pois não é somente possível, mas necessário erguer as ideias e uma grande força revolucionária.




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