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MISÉRIA NO BRASIL | 51,7 milhões estavam abaixo da linha da pobreza antes da pandemia, segundo IBGE

Os números apontam uma situação de forte instabilidade econômica, política e social da qual os patrões se aproveitaram para instrumentalizar o governo golpista de Temer e descarregar a crise nas costas dos trabalhadores.

quinta-feira 12 de novembro de 2020 | Edição do dia

Imagem: FGV/ Reprodução

No ano passado, 51,742 milhões de brasileiros, ou 24,7% da população, estavam abaixo da linha de pobreza definida pelo Banco Mundial para países de renda média-alta. Esse contingente sobrevive com renda mensal de, no máximo, R$ 436 por pessoa do domicílio. Dentro desse grupo, os considerados extremamente pobres - com renda mensal de até R$ 151 por pessoa do domicílio - eram 13,689 milhões em 2019, 6,5% da população, informou nesta quinta-feira, 12, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os dados confirmam a tendência de aumento da desigualdade revelada pelo relatório da Oxfam de 2018. Na época, 15 milhões de pessoas viviam com menos de dois dólares por dia (US$ 1,90, o equivalente à R$ 7,30), um aumento de 11% se comparado à 2016. De acordo com relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) o país, que atualmente é uma das 10 nações mais ricas do mundo, é o 9º país mais desigual, considerando 189 países analisados. De acordo com a Oxfam, ainda, os 10% mais ricos do país ganham metade da renda nacional. No entanto mesmo essa fatia da população é também bastante desigual. Quase metade dela ganha até 10 salários mínimos. No entanto os 1% mais ricos do Brasil tem ganhos superiores à 55 mil reais mensais. A renda dos 1% mais ricos é de 36 vezes a renda da metade mais pobre do país.

Entre 2017 a 2019, a tendência de alta da pobreza cresceu fortemente junto com a recessão anterior à atual, de 2014 a 2016. Durante esse período, a crise arruinou o projeto lulista de conciliação de classes, culminando com Dilma retirando da educação no final de seu governo e o golpe institucional apoiado por amplas camadas do empresariado para descarregar nas costas dos trabalhadores todo o ônus desse processo. O governo Temer significou um duro impacto na vida de milhões de brasileiros, aprofundando a precarização do trabalho e mantendo alto nível de desemprego, ao mesmo tempo em que agilizava no congresso as reformas econômicas de interesse único do empresariado.

Em 2014, quando 22,8% dos brasileiros estavam abaixo da linha de pobreza definida pelo Banco Mundial para países de renda média-alta, menor proporção desde 2012, o contingente era de 45,817 milhões, um número extremamente elevado. De lá para o ano passado, 5,926 milhões passaram abaixo dessa faixa de pobreza, uma alta de 12,9% no período.

Também em 2014, os extremamente pobres eram 4,5% da população, ou 9,033 milhões de pessoas. Entre aquele ano e 2019, 4,656 milhões de brasileiros passaram a essa condição, um salto de 51,5%. De 2018 para 2019, foram 151 mil a mais na extrema pobreza.

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Os dados são da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2020, feita com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C), do IBGE. Referentes a 2019, não captam os efeitos da pandemia.

As primeiras informações sobre a crise atual, obtidas pela Pnad Covid, versão especial da pesquisa do IBGE desenvolvida para acompanhar os efeitos da pandemia, mostram redução da pobreza - medida apenas pela renda monetária, ou seja, não levam em conta outros aspectos, como patrimônio -, puxada pelo auxílio emergencial pago pelo governo federal aos trabalhadores informais de baixa renda. Em meio à pandemia, mais da metade da população foi beneficiada de alguma forma pelo auxílio emergencial. Essa queda da pobreza tende a ser temporária, ou seja, os brasileiros mais vulneráveis voltarão a ficar mais pobres quando o auxílio for extinto.

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A SIS 2020 mostra que, de 2018 para 2019, além de o estrago da recessão de 2014 a 2016 em termos de aumento da pobreza não ter sido desfeito, a desigualdade de renda permaneceu elevada. Como já divulgado pelo IBGE em maio passado, em 2019, o Índice de Gini do rendimento domiciliar per capita ficou em 0,543 (quanto mais próximo de 1,0, maior a desigualdade), acima do 0,540 de 2012, ano inicial da série do indicador, e do 0,524 de 2015 (0,524), menor registro desde então.

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O governo golpista de Temer, para responder à crise financeira que atingiu o país em 2014 e garantir os lucros dos capitalistas, aprovou uma série de ataques aos trabalhadores e a população mais pobre. Além da PEC do fim do mundo, aprovou a Lei de terceirização, que amplia irrestritamente a terceirização, deixando os trabalhadores, sobretudo mulheres, sujeitos à contratos mais vulneráveis de trabalho e à precarização. Bolsonaro seguiu essa mesma linha, de forma ainda mais violenta, com a aprovação da reforma da previdência. No meio de uma pandemia, permitiu que demissões acontecessem a rodo, enquanto se preocupava com o lucro dos empresários, buscando aprovar reformas contra os trabalhadores como a reforma administrativa, privatizando estatais e governando sobretudo para os bancos com o pagamento religioso da fraudulenta dívida pública.

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Para combater esses ataques, a esquerda deveria estar utilizando o período eleitoral para cavar o terreno para um contra-ataque dos trabalhadores, alinhados a todos os setores oprimidos. É somente com a unidade das vítimas desse sistema capitalista que será possível barrar essa tendência de ainda mais opressão e exploração.
Ao longo de todo o período anterior, as centrais sindicais não chamaram uma luta séria para barrar nenhum desses ataques e foram cumplices dos patrões e governos. Para romper esse imobilismo, nós do Esquerda Diário chamamos os sindicatos e centros acadêmicos levantar um programa pela reversão de todas as reformas, contra as demissões e para que os capitalistas paguem pela crise.

Informações: Agencia Estado




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