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METRÔ | 4 conclusões para fortalecer estrategicamente a luta dos metroviários

Nossa luta ainda está em curso e o resultado dela ainda depende de que nos próximos dias e semanas nossa categoria possa tomar as decisões necessárias para aprofundar a mobilização e a aliança com a população. Somente isso poderá impor que o Metrô pague já os direitos que cortou e barrar qualquer tentativa de Doria de implementar seus ataques com a ajuda da justiça do trabalho. Ainda assim, já é possível e necessário fazer um balanço da luta até aqui, para extrair as lições mais profundas dela e apontar o caminho pelo qual podemos vencer. Com este texto queremos contribuir para esses objetivos.

domingo 13 de junho de 2021 | Edição do dia

Nós, metroviárias e metroviários, estamos trabalhando na linha de frente durante toda a pandemia, apesar da contaminação de mais de 1600 trabalhadores, e da morte de 20 colegas só da ativa -como a metroviária Mayumi, de 34 anos, há poucos dias. Enquanto Doria se posta demagogicamente como alternativa a Bolsonaro, dizendo que “respeita a ciência”, nós vemos no metrô a população submetida a um transporte lotado e sem segurança sanitária, e trabalhamos sem condições de segurança, com um número insuficiente de funcionários, cada vez mais reduzido frente às demissões de efetivos e terceirizados. E até mesmo a vacinação deixou de fora a maioria das trabalhadoras terceirizadas, como se suas vidas valessem menos. Ao mesmo tempo, enfrentamos as tentativas de Doria e da empresa de retirar direitos, enquanto para os grandes empresários donos das linhas privadas, só em abril deram mais de um bilhão de reais em subsídio - que na semana seguinte foram usados para comprar mais duas linhas da CPTM. E este mês foi além: primeiro vendeu o terreno onde os trabalhadores construíram a sede do sindicato há mais de 30 anos.; em seguida realizou os pagamentos cortando todos os benefícios, até mesmo auxílio-transporte, auxílio-creche, o auxílio para pais de crianças com deficiência.

Nos últimos meses enfrentamos tudo isso com uma forte mobilização, com grande adesão e unidade da categoria nas várias medidas cotidianas, nos atos de rua, e na forte greve do dia 19. Com isso, arrancamos uma decisão do TRT com termos que os trabalhadores já haviam aceitado em uma tentativa de conciliação anterior, que fracassou pela intransigência do Metrô.

Agora, o Metrô provavelmente vai tentar reverter essa decisão na justiça, recorrendo ao TST. E não podemos confiar na justiça! E nem em Doria, que se puder vai continuar não pagando nossos direitos que estão cortados desde o último pagamento - agora desrespeitando uma decisão judicial. Por isso, como viemos defendendo, só será possível impor a garantia dos nossos direitos construindo a mobilização e apostando na nossa luta independente, na aliança com a população que apoiou a greve, e com a juventude que tomou a linha de frente das ruas no último dia 29 contra Bolsonaro e os ataques que estão jogando a crise social, sanitária e econômica nas costas dos trabalhadores e da juventude.

Queremos contribuir para isso, e também para extrairmos as lições mais profundas que a experiência da luta até aqui nos ensinou, apontando quatro conclusões fundamentais desse processo:

1 - É fundamental nossa aliança com a população e a juventude, superando o corporativismo

Durante a greve do dia 19 pudemos ver a força e a importância do apoio da população à nossa greve. O governo queria jogar a opinião pública contra a greve para poder reprimi-la e derrotá-la sem se desgastar. Não à toa a mídia fez uma campanha de intensidade extrema contra a greve, distorcendo as opiniões da população, tentando convencer de que era a greve que causava as aglomerações, repercutindo as mentiras do governo sobre os salários dos metroviários. Mas nada disso foi suficiente, e a greve catalisou a insatisfação popular com os governos por todos os sofrimentos que estão impondo aos trabalhadores e ao povo pobre. Assim, nos piquetes as pessoas aplaudiam a greve dos metroviários. O apoio se expressou também nasredes sociais.

E tudo isso apesar do corporativismo da maioria da diretoria do nosso sindicato. Dentro da categoria, a CTB (Chapa 1) chegou ao ponto de circular vídeos dizendo que a população ficaria contra a greve porque “tem inveja das conquistas” dos metroviários e não tem coragem de lutar por seus direitos. As entrevistas na grande mídia apresentavam a greve como uma luta em defesa de interesses particulares dos próprios metroviários. As correntes da esquerda também não ofereceram uma linha alternativa a isso, e nos melhores casos chegavam a dizer que “bom seria se os demais sindicatos mobilizassem para lutarmos todos juntos, mas já que isso não acontece, ao menos nós estamos aqui lutando pelo nosso”. E nenhuma dessas chapas colocou no centro a luta por vacina para os terceirizados.

Precisamos fazer o contrário disso. Por isso, nós da Chapa 4 - Nossa Classe buscamos mostrar como a retirada de direitos precariza o transporte para a própria população, e também serviria para fazer os metroviários de exemplo e impor um rebaixamento ainda maior dos salários e condições de vida dos trabalhadores menos organizados. Mais ainda, é preciso tomarmos a defesa dos interesses da população e dos setores mais precários da nossa classe, como são os terceirizados. Por isso defendemos ligar a nossa legítima luta por vacina para os trabalhadores dos transportes, que estão tão expostos, à luta por vacina para toda a população. E também nos unificar com as lutas dos que mais estão sofrendo em meio a essa crise com o desemprego, a violência policial e a fome.

Para fortalecer essa perspectiva, colocamos o Esquerda Diário a serviço da luta. Foram dezenas de matérias, noticiando a mobilização, e fazendo um trabalho de contra-propaganda para mostrar as mentiras da mídia contra a greve e fazer a verdade sobre a luta e o ponto de vista dos trabalhadores chegarem à população, papel este que deveria ter sido tomado por toda esquerda.

E também, para expressar de forma ativa esse apoio, nos orgulhamos da presença da Juventude Faísca, composta pelo MRT e independentes, junto a outros estudantes, nos piquetes e em todos os atos de rua, carregando uma enorme faixa de apoio à nossa luta.

Essa batalha contra o corporativismo é estratégica. Uma das várias formas pelas quais os governos e patrões buscam dividir nossa classe é entre os trabalhadores que ocupam posições estratégicas, como nós metroviários que podemos parar a cidade, e a maioria dos trabalhadores que, com menor poder de barganha, sofrem mais com a precarização. A burocracia sindical, como a Chapa 1, alimenta o corporativismo. Depois os patrões usam essa divisão para dizer que somos privilegiados e retirar também os nossos direitos, aumentando a exploração sobre toda a nossa classe. Ao contrário disso, precisamos aproveitar a posição que ocupamos em um serviço estratégico para batalhar tanto pela unidade da nossa classe, quanto para denunciar e combater todos os sofrimentos dos setores mais oprimidos da sociedade e mais atingidos pela crise que estamos vivendo.

2 - É preciso fortalecer nossa democracia! Por assembleias em que os trabalhadores possam falar, propor e decidir os rumos da luta!

Nós da Chapa 4 - Nossa Classe viemos defendendo durante toda a pandemia que é preciso garantir a democracia de base dos metroviários mesmo com assembleias virtuais. Nossa categoria será muito mais forte se os trabalhadores na base tiverem protagonismo em todas as decisões. Por isso, o sindicato não pode restringir a participação das e dos trabalhadores a clicar "sim" ou "não" para o que a diretoria do sindicato diz - ou melhor, uma parte dela. A base dos trabalhadores precisa poder falar, colocar propostas em votação, para a categoria decidir como levar a nossa luta até a vitória.

Na luta deste ano ficou muito clara a importância disso. Já no início da mobilização, pela vacina, nós voltamos a apontar esse problema, em uma assembleia em que propusemos um comitê de luta unificado dos trabalhadores dos transportes e um indicativo de greve, e essas propostas não foram colocadas em votação. E da burocracia da CTB e CUT da Chapa 1 já se espera isso. Mas infelizmente as correntes de esquerda foram coniventes com essa falta de democracia durante todo o processo. Na assembleia seguinte retomamos essa crítica e lamentavelmente o PSTU, como coordenador pela Chapa 2, foi o primeiro a responder defendendo esse funcionamento antidemocrático: “É claro que nem tudo vai para a assembleia porque a própria categoria reclama. Então se a pessoa propõe alguma coisa que não tem grande importância, a categoria tem que decidir aqui o que é mais importante”. O coordenador da CTB pela Chapa 1 seguiu se apoiando nisso para dizer que nossa diretora pela Chapa 4, Fernanda, “dizia mentiras para a categoria”. Mas as assembleias estão gravadas, inclusive a resposta da CTB de que não seria colocado em votação o que não fosse posição majoritária na diretoria.

Quando a mobilização avançou e se aproximava a decisão de deflagração da greve, a CTB/CUT defendeu um proposta de funcionamento das assembleias com fala somente para os coordenadores, das chapas 1, 2 e 3, e, se fosse o caso, uma defesa contrária às propostas apresentadas por eles (mas não de outras propostas), mantendo a participação da base reduzida a clicar "sim" ou "não". Essa proposta foi aprovada mesmo sendo uma minoria da categoria que votou a favor dela, porque a votação foi feita de uma maneira que dividiu os votos de 60% assembleia entre duas propostas que incluíam abertura de falas para a base.

Frente a isso, publicamos uma carta fazendo um chamado à unidade da esquerda por assembleias democráticas, e buscamos as demais chapas para chegar juntos a uma proposta comum que expressasse a vontade da maioria da nossa categoria que havia votado por assembleias mais democráticas. Mas a diretoria votou que esse tema não voltasse a ser tratado em assembleia, em uma reunião na qual foram decisivos os votos da Chapa 3, que se dividiu, com sua coordenadora (Resistência-PSOL) votando junto com a Chapa 1 para que o tema não fosse mais discutido.

A defesa de assembleias democráticas com direito a falar e colocar propostas em votação deveria ser algo elementar para a esquerda. Precisamos aprender com a experiência da luta até aqui e superar imediatamente esse burocratismo.

3 - Precisamos da unidade da nossa classe! As centrais sindicais e a esquerda precisam coordenar e apoiar as lutas!

Viemos apontando que é fundamental coordenar e unificar as lutas. A solidariedade de classe é fundamental. Mais ainda se tratando de uma luta com o alcance e a repercussão desse conflito no metrô, em que uma vitória poderá fortalecer muito toda a nossa classe, e uma derrota poderá ser usada para atacar ainda mais todos os trabalhadores.

Nossa luta poderia ter muito mais força se as centrais sindicais e a esquerda colocassem todo o seu aparato para fortalecê-la. Desde medidas elementares como as centrais sindicais convocarem manifestações de apoio outras medidas que mostrassem ativamente o apoio que a greve tinha. Ou ainda mais elementar: uma campanha de apoio das principais figuras da esquerda. O silêncio de Lula sobre a greve, enquanto negocia com a direita, era de se esperar, mas nem de Boulos houve sequer um pronunciamento público durante toda a greve.

Mas nossa perspectiva nem deve se limitar a medidas tão parciais. O que precisamos é da unidade da nossa classe na luta. E essa necessidade se coloca com ainda mais força frente à retomada das ruas, como foi no 29M, com a juventude na linha de frente: nossa classe precisa entrar em cena de forma organizada, com as centrais sindicais convocando assembleias em todos os locais de trabalho e uma paralisação nacional contra Bolsonaro e Mourão, e o conjunto dos ataques, reformas, privatizações e cortes de direitos! Para levar a indignação até o fim, e não canalizá-la para a campanha eleitoral de 2022.

4 - Só podemos confiar na força da nossa mobilização independente em aliança com a população e a juventude! O judiciário serve aos patrões!

Mais uma vez, nossa experiência de luta mostra que só assim é possível impor a garantia até dos nossos direitos mais básicos. Muitas vezes parte da diretoria do nosso sindicato coloca a expectativa de que a justiça resolverá o problema como motivo para não levar nossa luta adiante. Vimos isso no leilão da sede do sindicato, que três dias antes a maioria da diretoria ainda colocava em dúvida se iria acontecer, ou se a justiça impediria, deixando pra chamar o primeiro ato para depois do próprio leilão. Mas dessa vez, além disso, vimos a expectativa de que a justiça julgará contra os nossos direitos também ser usada para defender não seguir a luta. Como foi com a CTB defendendo aceitar os ataques de Doria, o que felizmente a assembleia rechaçou em peso, se não já estaríamos agora derrotados, com direitos retirados. É preciso superar as ilusões no judiciário, saber que ele está sim do lado dos patrões, e não é de agora. Mesmo o TRT, no dia 19, atuou para encerrar nossa greve sem nenhuma garantia. Diga-se de passagem, uma jogada entrosada também com Datena, que fez as conversas ao vivo, tentando manobrar nossa categoria com elogios, para em seguida “fritar” a nossa greve transmitindo as ameaças de Baldy e dizendo que “se nos preocupamos com a população” deveríamos encerrar a greve sem garantias, ou sofreríamos demissões.

Por isso, só podemos acreditar na nossa mobilização independente aliada à população. E nesse caso, não só havia motivos para entrar em greve, como havia motivos para continuar na greve até impor ao governo e ao Metrô que fechasse um acordo garantindo nossos direitos, sem nem passar pela justiça, já que tínhamos uma greve forte e apoio da população. Defender o fim da greve naquele momento foi um erro, não só da Chapa 1 (CTB e CUT, dirigidas por PCdoB, PSB e PT), mas da Chapa 3 (Resistência-PSOL, FPSM, UP) e da maioria da Chapa 2 (PSTU, MES). Somente a CST (parte da Chapa 2) defendeu conosco a continuidade da greve, ainda que sem colocar os mesmos fundamentos, em particular a centralidade da aliança com a população. E depois, na assembleia seguinte, também foi um erro, ainda que em outra medida, e dessa vez de todas as demais correntes, se colocarem contra aprovar qualquer indicativo de greve antes do julgamento, mesmo que fosse apontando uma data posterior ao julgamento como nós propusemos, considerando que nossa categoria estava na iminência de ter todos os direitos cortados - como tivemos.

Agora essa lição tem uma importância vital e imediata. É preciso confiar na força da luta da nossa classe. Não se iludir, por um lado, nem se amedrontar, por outro, diante do judiciário. Agora é a hora de impor nossos direitos intensificando a mobilização imediatamente, sem esperar o recurso do Metrô ao TST. Tanto porque já sofremos o ataque, e já estamos com todos os nossos direitos cortados, quanto porque devemos aproveitar a vantagem desse momento de que nossa luta (e uma greve) estariam exigindo nada mais do que o cumprimento de uma decisão da justiça. Por isso chamamos o restante da diretoria a confiar na mobilização e construir essa perspectiva em unidade.

Por fim, chamamos também todas as trabalhadoras e trabalhadores a não somente batalharmos por essa perspectiva nessa situação imediata, mas a debater conosco essas conclusões, e se juntar à Chapa 4 - Nossa Classe na batalha por essas ideias, que precisam ser sustentadas por uma forte corrente na nossa categoria, para fortalecer a luta da nossa classe.




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