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2º BREQUE DOS APPS | 3 motivos para apoiar o Breque dos APPs nesse sábado

Trabalhadores do setor de entregas por aplicativo estarão novamente mobilizados em diversas cidades do país nesse sábado 25/07. É preciso fortalecer a luta por melhores condições de trabalho nesse setor essencial e superexplorado. Apresentamos aqui 3 motivos para apoiar o breque diante da escalada da precarização do trabalho, da crise econômica e do coronavírus.

sexta-feira 24 de julho de 2020 | Edição do dia

Nós da rede Esquerda Diário, presente em 14 países, viemos acompanhando e apoiando a organização dos trabalhadores informais de entregas desde a construção do dia 1º de julho, em que se realizou uma jornada de luta internacional desses trabalhadores de aplicativos como Ifood, Rappi e Uber Eats. São uma categoria de trabalhadores que se viram como parte dos serviços essenciais diante da pandemia, transportando alimentos, medicamentos e outros itens fundamentais para milhões de pessoas em cidades do mundo todo, mas também se configuram como uma das categorias mais exploradas e precarizadas, através de relações de trabalho sem reconhecimento dos direitos mais básicos, camufladas sob a máscara do "empreendedorismo de si". Apresentamos aqui alguns motivos para apoiar a luta dessa categoria que se levanta mais uma vez pelo direito ao trabalho digno e à saúde.

1) Suas demandas são as mais legítimas

Quais são as demandas dos entregadores? Bem, eles reivindicam uma série de demandas básicas diante da pandemia e da situação precária de seus vínculos com as empresas. A distribuição de kits de higiene e segurança para enfrentarem os riscos tanto da contaminação pelo vírus, quanto da mobilidade nas ruas, é uma dessas demandas urgentes. Os entregadores estão nas diariamente expostos à pandemia e aos riscos de acidentes e furtos, ao que se liga também a demanda por um seguro de vida e contra roubos. Outras demandas fundamentais por trabalhos mais dignos e em defesa dos empregos são o aumento das suas taxas de remuneração por viagem - algumas empresas reduziram em 50% a tarifa base com a pandemia, por exemplo, e a maioria delas toma para si uma parcela absurda de cada entrega realizada - e o fim dos bloqueios indevidos e sistemas de pontuação, que são métodos de demissão súbita e de chantagem, utilizados pelas empresas para evitar "atrasos" e aumentar a competição e a intensidade do trabalho, às custas da vida dos motoristas.

Confira: [PODCAST] 017 Peão 4.0 - 1º de julho: o maior breque de App da história?

2) São jovens negros que se colocam na linha de frente contra a precarização

Como se evidenciou na pesquisa do nosso Observatório da Precarização do Trabalho e da Reestruturação Produtiva, realizada no 1º de julho, os entregadores mobilizados em sua maioria (66%) são homens negros de até 34 anos de idade. A precarização recai com maior força na população negra, tradicionalmente relegada à terceirização, ao trabalho doméstico e à informalidade. As empresas de aplicativos se baseiam no mais arcaico e abusivo da exploração do trabalho, combinando-a com as novas tecnologias e sujeitando a parcela mais explorada e oprimida da população.

O racismo sempre foi utilizado como um mecanismo de divisão da classe trabalhadora, enfraquecendo a luta contra a exploração ao impedir o reconhecimento de brancos e negros enquanto uma mesma classe com interesses comuns. Porém, o avanço da crise e as trincheiras de luta compartilhadas vêm derrubando os muros que querem nos impôr, e a revolta negra no coração do imperialismo estadunidense também forneceu um claríssimo exemplo de luta e solidariedade de classe contra o racismo imposto pelos capitalistas, com diversas pesquisas indicando que lá no norte as massas da população branca também se levantaram contra esse sistema de opressão e miséria.

Veja também: [VÍDEO] Entregador é estrangulado e agredido pela PM de Doria durante protesto da categoria

3) A "uberização" é um projeto nefasto que querem impor ao conjunto dos trabalhadores

As empresas tentam vender a imagem de que os entregadores são "autônomos", sendo os aplicativos "meros intermediadores" entre consumidores, empresas e prestadores individuais de serviços de entregas. Isso para camuflar que se tratam de empresas multimilionárias que superexploram trabalhadores em jornadas de mais de 10 horas por menos de 2 salários mínimos, sem direitos e até mesmo cobrando deles quase R$100 pelas famosas caixas de isopor com seus logos. Os capitalistas aplicam um retorno do sistema de remuneração por tempo de trabalho de volta para
a remuneração por "peça" (ou nesse caso, por entrega), uma mistificação nada recente e que agora se utiliza das novas tecnologias para gerar concorrência entre os trabalhadores, aumentar o tempo e a intensidade das jornadas de trabalho, camuflar os vínculos empregatícios e a exploração levada a cabo pelas empresas. No século XIX, Karl Marx já analisava esse tipo de relação e suas consequências.

Outra cara desse novo paradigma da exploração 4.0 são os bloqueios das contas, cujo fim também consta entre as demandas dos entregadores, como dissemos anteriormente. Trocaram o RH por uma mensagem sem justificativa direto na tela do celular do trabalhador, impedindo-o de acessar a plataforma e garantir sua renda, na grande maioria das vezes sem motivo aparente. É a nova face da demissão: basta um cálculo do algoritmo, uma reclamação sequer analisada, um suposto atraso e pronto, você está descartado. Os sistemas de pontuação também vão nesse caminho de aumento do controle e da exploração através da impessoalidade tecnológica, pressionando os trabalhadores a estarem sempre disponíveis e realizarem o maior número de entregas no menor tempo possível, evitando o risco de caírem no ranking e receberem menos pedidos no futuro.

Esse novo fenômeno do mundo trabalho, que na verdade é um grande regresso, vêm como seguimento das políticas neoliberais de reformas da previdência, terceirização, trabalho intermitente, bancos de horas e austeridade que marcaram as últimas décadas. São um avanço que os capitalistas pretendem que venha para ficar, aproveitando a pandemia e a crise econômica para facilitar a entrada e expandindo para o conjunto da classe trabalhadora, a começar pelos mais precarizados e vulneráveis. Por isso o dia 25 também é uma batalha de toda a classe trabalhadora, que fortalecendo a luta dos entregadores deve avançar para uma batalha contra o conjunto dessa reestruturação que querem nos impor.

Confira: [VÍDEO] Breque internacional dos APPs e a precarização do trabalho – debate com Ricardo Antunes, Galo, Cuyén Perreta e Marcello Pablito




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