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19ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo | 20 anos de Parada: as LGBT’s entre a cruz e a espada

No dia 07/06 aconteceu a 19ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. No geral, se manteve nos marcos do que tem sido nos últimos anos: um evento festivo e social, com o apoio político e financeiro das esferas do governo e o financiamento de inúmeras boates e empresários que atendem o ramo de mercado LGBT (o chamado “pink money”)

Adriano FavarinMembro do Conselho Diretor de Base do Sintusp

quinta-feira 18 de junho de 2015 | 08:23

No dia 07/06 aconteceu a 19ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. No geral, se manteve nos marcos do que tem sido nos últimos anos: um evento festivo e social, com o apoio político e financeiro das esferas do governo e o financiamento de inúmeras boates e empresários que atendem o ramo de mercado LGBT (o chamado “pink money”). O seu caráter político, presente na iniciativa do seu surgimento há duas décadas, já não existe mais. Hoje, não passa de um grande evento comercial despolitizado voltado para um público específico, no caso, as LGBT’s.

Porém, não é politicamente desprezível o significado do público para o qual esse evento é voltado: as LGBT’s. Por vivermos em uma sociedade na qual a liberdade sexual não pode ser permitida, sob a pena do questionamento das próprias bases de formação dessa sociedade, se identificar enquanto homossexual é, em si, um ato político. Nesse sentido, mesmo um evento comercial de caráter festivo que agrupe centenas de milhares de LGBT’s e simpatizantes não poderia deixar de gerar repercussões políticas. Ainda mais quando as esferas dos governos, parlamentares e grupos conservadores e homofóbicos têm se unificado para assumir uma agenda política nacional reacionária.

Foi nessa conjuntura que a encenação da modelo transexual, Viviany Beleboni, se tornou conhecida em todo o país. A atriz encenou um esquete teatral em que permanecia crucificada sob as insígnias “Basta de homofobia” em cima de um trio elétrico durante o evento da Parada em São Paulo. A simbologia do sofrimento da população gay, lésbica, bissexual e transexual no mundo não é para menos. As LGBT’s sofrem a privação de direitos, em maior ou menor medida, em todos os países do mundo. São penalizadas de morte como política de Estado em 78 países oficialmente e em outros tantos informalmente, por política de governo, como no caso da Rússia, na qual gangues de ataques às LGBT’s são toleradas e incentivadas pelo regime [democrático].

A encenação da atriz, porém, ressuscitou o Pastor Marco Feliciano e outros políticos brasileiros que se utilizam da fé de centenas de milhares de trabalhadores para legislarem a serviço dos interesses das elites brasileiras e dos militares. Como parte da tática de se auto-promoverem a partir da polarização entre “cristãos” e “LGBT’s”, estes pastores evangélicos passaram os dias que se seguiram à Parada Gay transformando a mensagem de sofrimento e o pedido de socorro encenado por Viviany em insulto, blasfêmia e desrespeito contra Cristo.

Aquilo que a cena pretendia denunciar, como o título do Brasil de campeão do mundo por assassinato de travestis ou os dados de que uma LGBT é assassinada por dia no país, acabou ficando em segundo plano frente aos discursos de ódio, às provocações, injúrias e ataques homofóbicos que estes pastores incentivaram pelas mídias e redes sociais. Poucos dias depois, a bancada parlamentar evangélica, conhecida como ‘bancada da bíblia’, apoiada pela bancada da ‘bala’ e do ‘boi’, que representam 447 deputados (Bancada BBB), realizaram um ato na Câmara exigindo a aprovação da “cristofobia (sic!)”.

Essa polarização entre “valores cristãos” e “direitos das LGBT’s” tem sido incentivada desde a campanha para a eleição de Dilma Roussef no primeiro turno em 2010, quando a atual presidenta e o PT selaram acordos com a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), CGABD (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil) e líderes da bancada parlamentar evangélica da época, assegurando uma agenda negativa para os direitos das mulheres e das LGBT’s e levando à presidência da Comissão de Direitos Humanos, Marco Feliciano (PSC).

Essa polarização é interessada. Os setores conservadores que conformam a elite brasileira e usufruíram da política conciliatória do governo do Partido dos

Trabalhadores nos últimos anos, agora se apóiam na decepção da base social do PT diante da sua explícita traição para propagar valores reacionários e aprovar uma agenda contra os trabalhadores e os setores oprimidos da população. Sabemos que as grandes associações de organização das “Paradas LGBT” somente se movimentarão politicamente quando essa política reacionária ameaçar seus lucros e suas relações com o financiamento do governo e dos grandes empresários do “pink money”.

É necessário que a esquerda e os grupos LGBT’s politizados se reorganizem por fora da Parada Gay e reavivem o espírito das primeiras manifestações por visibilidade das décadas de 80. Hoje, já aprendemos que a estratégia de visibilidade somente nos leva ao beco sem saída do ‘pink money’. É necessário que as LGBT’s retomem as ruas contra a agenda negativa do Parlamento e do Governo Federal, defendendo os direitos igualitários, mas também combatendo os ataques a toda a classe trabalhadora, tomando os sindicatos das mãos dos burocratas e impondo nas greves uma agenda que defenda os direitos das mulheres, das LGBT’s, dos negros e de toda a classe trabalhadora!




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