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EXÉRCITO | 19 de Abril: Dia do exército ou da hipocrisia?

Nesta quinta feira ocorreu um evento militar de comemoração do dia do Exército. Temer, a mais horripilante personagem do golpe institucional, encontrou-se com o General Villas Boas, que cada vez mais intervém na política brasileira, com o ápice até então de ter feito uma absurda declaração pública para influir sobre o julgamento arbitrário de Lula, claramente em defesa de sua prisão.

Mateus CastorCientista Social (USP), professor e estudante de História

quinta-feira 19 de abril de 2018 | Edição do dia

Villas Boas declarou que "nas eleições que se aproximam caberá à população definir, de forma livre, legítima, transparente e incontestável a vontade nacional" e pediu que "definido o resultado da disputa unamo-nos como nação".

Declara isso após interferir diretamente sobre julgamento de Lula no STF, através de uma declaração pública de pura chantagem, que teve papel determinante em influenciar o sequestro preventivo do direito de milhões de votarem em quem quiser, nesse caso no líder das campanhas de intenção de voto. Não por acaso, estavam presentes para serem “agraciados” os ministros Alexandre de Moraes que no processo de julgamento de Lula disse que “os direitos civis são relativos” e Barroso que recentemente em evento na universidade de Harvard declarou que "O que você pode sentir é que os militares, como todo mundo no Brasil, estão preocupados e querem mudar as coisas para melhor. Como eu também", ambos votaram contra o Habeas Corpus de Lula.

Villas Boas declarou que "não podemos ficar indiferentes aos mais de 60 mil homicídios por ano, à banalização da corrupção, à impunidade, e à insegurança ligada ao crescimento do crime organizado e à ideologização dos problemas nacionais". Segundo o general "são essas as reais ameaças à nossa democracia".

De que “democracia” Villas Boas está falando? Parece não se tratar dos direitos democráticos de mais de 14 milhões de trabalhadores desempregados e outras dezenas de milhões no trabalho informal e precário, sem as mínimas condições de vida tendo que lidar com o corte de direitos trabalhistas através da destruição da CLT (reforma trabalhista). Esse setor da população não recebe um auxílio moradia de 6.000 reais mesmo com imóvel próprio, como Bolsonaro. Essa “ameaça” à democracia parece não se referir a criminalização das greves e das manifestações de rua e o avanço do autoritarismo do judiciário ou a PEC 55 que congela os gastos públicos por 20 anos. A “democracia” para Villas Boas está longe de ser o direito ao trabalho, saúde, educação e moradia, sendo que a falta dessas condições são as que geram a violência, que é o resultado direto da catástrofe social gerada pelo capitalismo, cuja economia baseada no lucro e na exploração desenfreada desagrega e destrói a vida de milhões de pessoas.

Em todo o discurso de Villas Boas, se evidencia o espaço da “moral e dos valores” contra a impunidade e corrupção. Mas ainda não vimos o General se posicionar contra as declarações pró-ditadura do reacionário General Mourão, que apoiará Jair Bolsonaro - que também esteve presente no evento, esse também não é alvo de punição por suas homenagens ao Coronel Ustra, grande torturador e assassino da Ditadura. Tão pouco mira os olhos nos casos de violação dos direitos humanos e trabalhistas que crescem no Brasil, como é o caso da acusação de utilização de trabalho escravo na produção de roupas por parte de Flávio Rocha, candidato à presidência pelo PRB e dono da Riachuelo que acumula uma dívida de dezenas de milhões em violações de direitos.

O General também disse que "a caminhada não tem sido fácil e registra, como agora, diversos momentos de crise, que exigem da sociedade sacrifício, entendimento e coesão".

Exige sacrifício de quem? Dos 6 brasileiros que detém a mesma riqueza que 50% da população mais pobre? Esses 6 vão ser os brasileiros patrióticos que vão se sacrificar nesse momento de crise? Os bancos vão perdoar as dívidas intermináveis de milhões de trabalhadores como o governo perdoou a dívida de 25 bilhões do banco Itau o caso A alta patente do exército vai abdicar de se aposentar aos 50 anos e deixar de receber suas recheadas aposentadorias e pensões? Os políticos capitalistas deixaram de lado seus salários de 33.000 reais para receber como uma professora de ensino básico?

Os sacrificados serão pagos com jornadas de trabalho de 12 horas por dia, banco de horas, transporte público caro e precário, salários mínimos de 954 reais para criar uma família, filas nos postos de saúde, falta de professores e condições de estudo nas escolas públicas, violência policial, criminalização de mobilizações e greves e o atropelamento dos direitos constitucionais que não convém para a sede capitalista de manter as taxas de lucro em crescimento.

Por fim, o general coloca a “ideologização dos problemas nacionais” como ameaça à democracia, como se as posições tomadas pelo governo golpista de Temer não tivessem uma clara ideologia que rasgou o sufrágio universal através do Impeachment e do sequestro preventivo de milhões de votos com a prisão de Lula, como se todas as suas declarações não fossem expressam de uma ideologia reacionária que está pronta para agir e manter a “estabilidade, ordem e progresso” capitalista, da exploração brutal e ataques aos direitos tão arduamente conquistados pela luta dos trabalhadores, negros, e mulheres.

Um claro momento de aliança e demonstração de unidade entre as diversas forças golpistas, das Forças Nacionais à casta política e o Judiciário, a cerimônia de comemoração do dia do Exército configurou-se como um verdadeiro espaço de gracejos e fortalecimento da aliança golpista entre as figuras mais horrendas do avanço do bonapartismo no Brasil, mas também de ameaças subliminares do exército caso a casta política e o judiciário não deem conta da crise econômica, social e política.




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