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DISPUTAS NO TUCANATO
Ala de Alckmin se fortalece para dar perfil mais “empresarial” ao PSDB
Fernando Pardal

Os 53% da vitória de Doria, levando o pleito da prefeitura da capital de São Paulo ainda no primeiro turno, consolidam um feito inédito e que dá a seu padrinho político, o “eterno governador” Geraldo Alckmin, um novo fôlego para a disputa com outros setores no interior do PSDB.

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Mal acabou a disputa eleitoral que consolidou Doria como futuro prefeito e os setores internos que se opunham à sua nomeação como candidato a prefeito voltaram a se pronunciar publicamente. O vice-presidente nacional do PSDB e ex-governador de São Paulo, Alberto Goldman, declarou em entrevista que “não vai abrir mão” de sua visão crítica ao empresário eleito. Ele, assim como FHC e Serra, sequer compareceram ao discurso de vitória de Doria, que, no entanto, citou Goldman e disse que é preciso unir o PSDB.

FHC também publicizou, por meio de um artigo divulgado em grandes jornais nesse domingo, a opinião de que 2018 pede uma candidatura de “centro-esquerda”. Levantando bandeiras como a de direito ao aborto, ele desfere alfinetadas com um alvo preciso: Geraldo Alckmin, uma ala de direita mais linha dura, mais idelógica, que certamente não está habilitada a cumprir o papel proposto por FHC nas eleições de 2018.

Momentos da disputa interna peessedebista: o pré e o pós eleição

O desgaste no período pré-eleitoral dentro do PSDB graças à disputa pelo nome que concorreria à prefeitura foi grande. Na grande imprensa, denúncias de lado a lado e ânimos acirrados na convenção partidária, chegando às acusações de compra de votos feitas contra Doria por José Aníbal e Goldman. A vitória de Doria levou à ruptura de seu rival na disputa pela vaga de candidato, o fundador do PSDB Andrea Matarazzo, que trocou o partido pelo PSD e assumiu o cargo de vice na chapa de Marta, em sua “nova cara” golpísta no PMDB.

O primeiro round foi vencido pela ala de Alckmin, que tinha em Doria seu representante, contra a ala de Serra, que apoiava Matarazzo. Mas a prova de fogo eram as eleições municipais, e Alckmin conseguiu se fortalecer não apenas com a fulminante vitória de Doria, mas também com a conquista de posições em diversas cidades do interior paulista.

Duas estratégias tucanas frente à decomposição do regime

Tanto a ala composta por Serra, Goldman e FHC quanto a de Alckmin procuram uma saída para que, diante da crise de legitimidade que sofre o regime, e que atinge sobretudo os partidos mais emblemáticos da ordem – em primeiro lugar o PT, que sofreu imenso desgaste no processo de impeachment, mas sem dúvida também o partido “testa-de-ferro” do golpe, PMDB, e o tradicional partido da direita, o PSDB.

Contudo, as visões para isso são distintas: FHC, em sua entrevista, deixa claro que quer dar uma cara mais “democrática” para o tucanato tentar recompor sua credibilidade. Incluir algumas pautas de esquerda ou qualquer simulacro disso seria um caminho para tentar parecer mais palatável aos que não querem mais sustentar esse velho regime carcomido por políticos corruptos que governam em nome de seus próprios interesses. Até onde FHC está disposto a tentar essa reformulação de “centro-esquerda” é algo que só o futuro pode demonstrar, mesmo porque a atual correlação de forças impõe que FHC chegue a acordos mais profundos com outros tucanos para poder fazer frente ao fortalecimento de Alckmin.

A visão de Alckmin para a “renovação” do PSDB que possa enfrentar a crise do regime se expressa perfeitamente no colossal banho de marketing dado a Doria, e que permitiu alavancar sua campanha de maneira surpreendente nessa eleição. Contra a imagem nada popular de um “almofadinha” com o pulôver amarrado no pescoço e que é um empresário multimilionário que faz careta para tomar um pingado na padaria, os marketeiros de Doria criaram e difundiram o mito do “João trabalhador”, de um jovem que trabalhou duro desde os treze anos e que ficou milionário por seu próprio esforço e mérito.

Essa tentativa de humanizar Doria e criar uma identidade dele com o povo pobre e trabalhador (que trabalham, esses sim, muito, mas sem herdar fortunas nem acumular mansões com a exploração do trabalho alheio) se combina ao que há de fundamental nos governos que Alckmin emplacou e quer emplacar: o dos gestores. Doria repetiu infindáveis vezes ao longo de sua campanha esse lema: “não sou um político, sou um gestor”. A ideia, em primeiro lugar, é a de se dissociar da imagem dos políticos que está estreitamente vinculada a de todo o regime e a descrença do qual ele é alvo. Doria vende a seu eleitor a imagem de que ele é um empresário bem sucedido, um administrador, e que ele administrará a cidade de forma “eficaz”, isenta de política, imparcial. Para todos os problemas, uma mesma solução: “gestão”.

O discurso “gestor” e seu parente argentino, o presidente Macri

Não é apenas no Brasil que a crise e o desgaste dos governos pós-neoliberais que tomaram a América Latina na década passada levou a uma “mudança de roupa” da direita. Na Argentina, o fenômeno do Kirchnerismo, que empalmou os governos de Néstor e Cristina Kirchner, com caráter bastante semelhante à década petista no Brasil (um governo para os patrões, mas com uma retórica de esquerda e algumas pequenas concessões que podiam ser feitas durante um período de crescimento econômico sem que prejudicasse o aumento do lucro dos capitalistas), foi varrido do mapa por um “estranho” como Doria.

Mauricio Macri suplantou não apenas o governo dito progressista de Cristina Kirchner, mas também a direita tradicional, surgindo para as massas como uma “cara nova”, não um político, mas um “gestor”, um empresário e empreendedor que pode trazer as soluções por meio de uma administração eficaz.

Seu governo foi logo apelidado de CEOcracia, em referência aos CEOs, diretores das empresas multinacionais que assumiram cargos de primeiro escalão em seu governo. O projeto de Macri foi o de colocar diretamente os gestores das empresas capitalistas no comando do Estado argentino. E logo vieram os “tarifaços”, com aumentos exorbitantes em todos os custos de vida da população trabalhadora.

Doria já deixou claro durante a campanha o que é a sua “gestão” que pretende salvar a cidade: privatizar. Tudo. Como o golpista Temer, que mal terminado o impeachment correu para a China fazer um “feirão das estatais” brasileiras, Doria já apresentou propostas para aumentar as Organizações Sociais de Saúde (OSS) que são os hospitais privados administrando os serviços de saúde públicos. A sua famosa proposta do “corujão da saúde” se baseia em privatizar a saúde de madrugada, pagando aos hospitais particulares por exames, e aumentando seu lucro em um período em que ficavam ociosos.

Certamente, perto de Doria, medidas privatizantes como o “mais creches” de Haddad, em que ele pagava dinheiro público pelas vagas nas creches privadas, parecerão uma brincadeira de criança. Ele já prometeu de cara privatizar o estádio do Pacaembu, o autódromo de Interlagos, os cemitérios e o Anhembi. Também disse na campanha que privatizaria a construção e a manutenção dos corredores de ônibus. Doria também afirma que para resolver o problema dos empregos, vai usar a “gestão” para transformar todos em empresários, criando o “Poupatempo Empreendedor” e o “Empreenda SP”.

Esse é o projeto que Alckmin defende para dar uma “nova cara” para o PSDB: tal como os 23 prefeitos milionários que se elegeram no primeiro turno, Alckmin quer “renovar” a política cortando intermediários, tirando velhos representantes corruptos da política e com a imagem já desgastada, para colocar gente que “não é político, mas gestor”, ou seja, os empresários diretamente no controle do estado, para avançar a todo vapor nas privatizações, como seu parceiro golpista Temer. A vitória desse projeto nas eleições municipais desse ano torna mais viável que ele se cacife para concorrer à presidência pelo PSDB em 2018. Mas até lá, ainda há muita disputa entre o tucanato para decidir quem tentará dar uma “cara nova” para uma velha política dos patrões.

 
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