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INTERNACIONAL
México polarizado: marcha da direita e mobilização pelos dois anos de Ayotznapa.
Pablo Oprinari

Nos últimos dias, duas mobilizações, de ideias opostas, tomaram as ruas da Cidade do México. Pano de fundo: a debilidade e a perda de legitimidade do governo Peña Nieto.

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No sábado, dezenas de milhares de pessoas convocadas pela Frente Nacional pela Família e a União Nacional Cristã pela Família, manifestaram-se em “defesa da família” e contra o direito ao matrimônio igualitário. Depois de realizar há algumas semanas manifestações em dezenas cidades do todo o país, agora redobraram a aposta. O cenário eleito não poderia ser mais emblemático: a Cidade do México, território no qual distintas demandas do movimento de mulheres e a comunidade LGBT foram conquistadas.

Na mobilização, encorajada pela hierarquia da Igreja Catórica e outras igrejas cristãs, ficou evidente o caráter absolutamente reacionário das demandas levantadas pelos organizadores – entre os quais se destacam junto a renomados políticos e ex-funcionários pertencentes aos partidos Ação Nacional e Encontro Social -, e se somaram mesmo a grupos neonazis.

No dia seguinte, depois do que seus organizadores consideraram um “êxito”, a hierarquia eclesiática voltou fortalecer-se por meio de seu principal líder. Norberto Rivera, primeiro cardeal do México, justificou uma vez mais sua oposição ao matrimônio igualitário, nas páginas de “Desde la Fe” [Da fé], semanário oficial do arcebispado: “Uma criança tem mais possibilidades de sofrer abusos sexuais de um padre homossexual”.

Crise do governo e polariazação

O impulso redobrado dado pela Igreja e as organizações direitistas a este movimento reacionário contra uma demanda democrática fundamental – o direito ao matrimônio igualitário, como é o direito ao aborto -, tem como pano de fundo a debilitação do Governo, que busca aproveitar para impor sua “agenda”. De fato, o projeto de casamento igualitário – cujo apoio por parte de Peña Nieto foi uma tentativa de aparecer como “democrático” – foi congelado no Congresso pela bancada do governo.

Peña Nieto enfrenta uma forte queda em sua popularidade e atravessou recentemente uma importante crise política, que levou à renúncia do “supersecretário” Luis Videgaray. Em um contexto de complicações econômicas mais que evidentes e de descrédito governamental, desde a hierarquia católica até os empresários, começaram a criticar algumas de suas medidas e a exercer pressão sobre EPN (Enrique Pieña Nieto). Claro que isto não implica diferenças em torno do projeto estratégico contra os trabalhadores e o povo, mas sim indica uma debilitação da capacidade governamental para alinhar incondicionalmente setores muito importantes que vinham apoiando sua administração.

Enquanto os empresários saudaram com aprovação a saída de Videgaray, a Igreja mostrou previamente seu distanciamento com o partido do governo nas eleições passadas, quando muitos sarcedotes impulsionaram abertamente o voto na Ação Nacional.

A mobilização do domingo passado – que encontrou como resposta ações protagonizadas por organizações da comunidade LGBT – indicam também uma polarização social e política que ocorre na sociedade mexicana. A mobilização a favor “da família como em Nazaré” é uma clara expressão pela direita disto; e é também uma resposta ao descontentamento crescente e a luta pelos direitos democráticos e trabalhistas que protagonizaram nos últimos anos importantes setores dos trabalhadores e a juventude, desde o #YoSoy132 e as mobilizações de Ayotzinapa à luta magisterial. Embora direcionada hoje em repúdio à comunidade LGBT e os direitos das mulheres, que se confunde com as reivindicações do empresariado de “aplicar pulso firme” contra os professores. E, sem dúvida: representa uma potencial base social de qualquer ataque, do governo e as instituições, contra os trabalhadores e o povo, e contra as liberdades democráticas.

Ayotzinapa: a outra marcha

Apenas dois dias depois da mobilização da direita, dezenas de milhares marcharam do Angel de la Independência ao Zócalo. Nas consignas e palavras de ordem, “Foi o Estado!”, “Ayotzinapa vive!”

Milhares acompanhando nas calçadas e em rios humanos pelas laterais do Paseo de la Reforma, mostrando que a coragem segue mais viva que nunca e que os familiares dos 43 desaparecidos e os três assassinados não estão sós. Numerosos contigentes estudantis, assim como de sindicatos como o dos trabalhadores da UNAM, e organizações sociais, fizeram desta uma poderosa e massiva demonstração política.

O que alimentou a manifestação e as demonstrações de apoio popular recebidas são também uma mostra da polarização social e política à que nos referimos acima, alimentada pelo crescente descrédito do governo.

Não podemos esquecer que apenas 11 dias atrás, no 15 de setembro, dezenas de milhares se reuniram também para reivindicar “fora Peña”. A queda na popularidade de EPN, e o descontentamento existente com sua administração, pode alimentar o revigoramento do protesto social.

Essa possibilidade levanta a necessidade da unificação e a coordenação dos trabalhadores que vêm resistindo às reformas estruturais – como os professores – e lutando por suas conquistas trabalhistas, os setores populares e juvenis que saíram às ruas nos dias 15 e 26 de setembro, assim como quem se manifesta pelos direitos das mulheres e a comunidade LGBT. Um Encontro Nacional de organizações operárias e populares seria um grande passo adiante para concretizar esta perspectiva, e resolver um plano de ação unitário.

Como dissemos no Esquerda Diário e desde o Movimento dos Trabalhadores Socialistas, frente aos planos do governo e os ataques reacionários da direita, é fundamental que os trabalhadores, junto aos explorados e oprimidos do campo e da cidade, deem uma saída favorável a nossos interesses, que são contrários aos dos empresários e seus representantes políticos.

 
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