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CASO KATANAS
BOLÍVIA: Instituições do Estado escondem tráfico e comércio de mulheres
Nostariel Kalajsic

Em 19 de setembro passado, na cidade de La Paz, se desvendou o que parece ser uma das redes de tráfico de pessoas mais pesadas da Bolívia.

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Noemí Cámara, filha do proprietário do proprietário do centro noturno Katanas, Marco Cámara, denunciou nesta segunda-feira que dentro do estabelecimento havia presença de pessoas vítimas de tráfico humano, e abriu uma queixa junto com sua advogada Paola Barriga contra funcionários da polícia, a diretoria de migração e a prefeitura de La Paz. Marco Cámara, junto com seu principal colaborador (ambos com ordem de prisão em La Paz) haviam montado uma rede de proteção que os alertava sobre as operações de controle municipal e migratório em troca de pagamentos efetivos em dinheiro além de “cortesias” dos serviços oferecidos na casa Katanas.

Noemí Cámara também declarou que sua primeira denúncia foi feita em janeiro deste ano dirigindo-se ao Ministério de Governo sem resultado algum mesmo depois de se dirigir à administração da cidade, quando em junho deste ano teve que recorrer à Força Especial de Luta Contra o Crime (FELCC), porque sua demanda não encontrava apoio.

Por sua parte, Carlos Juan Córdova, irmão dos donos do centro noturno “La Diosa” ( localizado em frente ao Katanas) também declarou : “trabalhei com Cámara durante quinze anos e posso afirmar que tudo o que sua filha disse é verdade. Eu viajei a Cuba, comprava mulheres a $us 100 (cem dólares), as trazia e prometia que aqui ganhariam muito dinheiro como modelo, depois as explorava”.

Este caso não fez mais que revelar o cenário em que se encontram os Estados alcoviteiros e capitalistas que não fazem mais do que transformar em mercadoria tudo o que toca. A prostituição têm sido o centro de muitos debates religiosos, morais, teóricos e políticos, sobre os quais muitos revolucionários antigos teorizaram a respeito, que ainda que a prostituição seja reprovada socialmente, esta convicção, como disse Engels, “nunca é dirigida contra homens que a praticam, mas sim somente contra as mulheres; a estas se deprecia e se rechaça, para proclamar com isso uma vez mais, como lei fundamental da sociedade, a supremacia absoluta do homem sobre o sexo feminino”.

As origens da prostituição se remontam ao início das sociedades de classe, quando surgem a propriedade privada, a família e o Estado. Desde os tempos em que os vencedores das guerras submetiam seus adversários ao trabalho escravo e ao mesmo tempo, elegiam entre as mulheres do clã vencido para realizar serviços sexuais e eram igualmente utilizadas para doar favores a funcionários do Estado. Na antiguidade as sociedades se organizavam em grupo, com o surgimento das classes sociais surgem novas instituições, a família sobre a base do matrimônio monogâmico, concebida para proteger a propriedade privada e garantir a herança da propriedade através de uma linhagem de herdeiros legítimos, rechaçando a prostituição.

No auge do capitalismo do século XIX, as terríveis condições de exploração dos trabalhadores assalariados impulsionaram muitas mulheres à prática da prostituição. Isto se converteu em uma das indústrias mais importantes a nível mundial. Segundo dados da ONU, estima-se que 2,5 milhões de pessoas sejam vítimas de prostituição e tráfico, além da revelação de que a cada pessoa identificada nesta situação existem outras vinte não identificadas.

A naturalização da violência de gênero na sociedade converteu até a linguagem em um triste eufemismo, com a ilusão de que usar o termo “trabalhadoras sexuais” a palavra trabalhadora dignifique as mulheres e que por arte da magia semântica desapareçam as profundas implicações sociais, econômicas e psicológicas. Assim como um alívio para a consciência.

Não duvidamos em exigir ao estado e seus governos cúmplices que garantam igualdade de oportunidades para todas as mulheres. Se a realidade é que a prostituição surge e se expande graças à união entre o patriarcado e o capitalismo, é utópico pensar que a solução pode sair do mesmo sistema econômico que a produz.

De nada serve a perseguição e criminalização das mulheres em situação de prostituição, como uma caça às bruxas. Muito pelo contrário, é importante dirigir o esforço de nossas lutas à exigência da criação de novas alternativas trabalhistas que permitam acabar com as situações precárias ou de pobreza que cada vez impulsionam a mais mulheres e jovens à prostituição. Desta forma, somente mediante uma luta contra a desigualdade e o capitalismo é possível avançar na luta contra a exploração e opressão das mulheres, uma luta que só é possível com a união da classe trabalhadora.

Denunciamos abertamente a todas as instituições estatais que são cúmplices destas redes de tráfico e prostituição, que possibilitam a mercantilização de mulheres privadas de sua liberdade, nos solidarizamos com as vítimas e defendemos seu direito inevitável de autoorganizar-se contra a perseguição policial e na luta por seus direitos, com absoluta independência dos exploradores dentro e fora do Estado.

Tradução: Zuca falcão
Foto: La razón

 
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