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CULTURA
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Marcelo Magalhães

Sétima parte da série de textos de Marcelo Magalhães

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Não consigo ficar sem perguntar algo, acho que quase não afirmo nada, e de algum modo sou muito firme em minhas duvidas, creio que tenho vontade de saber onde piso. Há terra nos meus pés. Posso afirmar varias coisas. Afirmo que o cigarro faz mal. Afirmo que existe uma arvore que me emociona. Afirmo que sinto saudades, mas não quero voltar. Afirmo que voltaria atrás. Afirmo que não me resta grandes duvidas. Afirmo ser um grande curioso e que gosto de provocar. Afirmo que duvido de algumas coisas grandes. Afirmo ter inveja. Afirmo de uma forma delicada, não quero ferir ninguém com minhas afirmações, mesmo afirmando que às vezes machuco. Eu já lhe machuquei?

Paçoca

Eu penso no meu avô. Posso vê-lo, passos lentos, cabelos brancos. Quero envelhecer e escrever, tranquilo, morrer em paz. Ele não morreu em paz. Os americanos não poderão comprar nossas gravuras. Meu avô não pode comprar um caminhão. O barulho do freio do caminhão. O barulho do portão. A viatura passa longe e o barulho da sirene ecoa em alguma cabeça, essa cabeça pensa, minha cabeça pensa em morte, existe na minha barriga um bicho que remeche todas as vezes que penso em desagrados. O desgosto causa mancha nas pernas, causa o excesso de cálcio nos ossos. Eu penso na vida que mata a fome do bicho na minha barriga. A mania que é evitada. Tomar sol. Tomar remédios. Tomar e só tomar. Já não tomo decisões que ele iria se orgulhar. O gosto das vidas empaçocadas.

Corpo Pedra Lançado – Primeiro: Pedra

Seria melhor: Fazer uma viagem de carro com olhos marejados, cheios de lagrimas; Companhia; Um momento em que os ônibus olhariam pra mim. Os meus medos, não iriam me perguntar nada e nem olhar, com olhos marejados, cheios de lagrimas. Olhos cheios de lagrimas, eu estava evitando os olhos. Evitando a água. Eu era uma pedra. Mármore frio. Pedreira. Rolando, machucando pessoas no caminho. Desmoronamento. Lagrimas escalava minha garganta. Escutava varias vezes a musica vindo. Sentia o cheiro de café fresco. Sentir o cheiro do fósforo riscado para ascender o cigarro a fumaça escalava o ar. Me imagino deitada na cama. E era assim que eu estava: carregando pedras.

Corpo Pedra Lançado – Primeiro sinal de desmoronamento

Trabalho. Eu cheguei. Eu entro. Eu subo. Eu quarto. Quarto. Eu varanda, demora. Bicicleta encostada na parede. Olhos através do vidro da porta. Uma pedra me atinge a alma. Eu, olhos castanhos escuros, respiro rápido, penso, estava ali. Eu quarto sem varanda. Eu estava com fome.

Corpo Pedra Lançado – Primeiro som de desmoronamento

sorrir.

Corpo Pedra Lançado – Prolongando o momento de desabamento.

Entro na cozinha e respiro. Comecei a cavar um buraco. Aquele prolongado momento de desabamento. Olhos. Na porta da cozinha tem um vestido seu. Meu natural falou para ver com olhos livres. O estado de inocência e graça. É ter livros, ler livros, procurar livros, trocar livros, emprestar livros, fazer livros, ser lido.

Corpo Pedra Lançando – A pedra desaba para cima.

O cheiro, o fruto, as folhas, a sombra, uma arvore grande. Chupar, orgasmo, tem os fiapos que grudam e quase não saem. Passar a língua, puxar, enfia o dedo. Eu também. Eu também de alguma forma, de algum jeito. Assas de pássaros. Decidir mudar. Eu não entendo a minha raiva. Menina, ontem eu tinha um cheiro de mofo, coloquei no sol, lavei. Eu pensei, passei os primeiros dias de não saber para onde ir, de querer fazer algo, de varias agonias. Sentir. É estranho. É misturar ruim e bom. Eu não deveria polarizar. É uma mistura, é mistura, então é uma mistura. Misturar leite com manga. Estou. Pássaro.

 
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