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ETIMOLOGIA
Origem da palavra companheiro
Nora Buich
Integrante da Comissão de Mulheres de Astillero Río Santiago

Como aqueles que compartilharam o pão em uma ceia, e foram o consolo dos escravos romanos, terminaram sendo os que compartilham a luta por um mundo sem escravos assalariados.

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Escravo, quem te libertará?/ Aqueles que estão no abismo mais profundo/ Companheiro, vão te ver/ seus gritos ouvirão.
Os escravos te libertarão. / Todos ou ninguém. O todo ou o nada. / Sozinho ninguém pode se salvar.

Bertolt Brecht – Todos ou ninguém (Trecho - Livre tradução)

Como bem apresenta o site da “Real Academia Espanhola”, o termo companheiro (a) procede etimologicamente do latim ‘companis’: [forma f. do lat. Vulg. *compania, de com- ‘com-‘ e panis ‘pão’. 1. m. e. f. desus. Companheiro. 2. F. Companhia. Adeus, Pedro e a companheira. Comeram com paz. 3. f. p. us. Família (|| conjunto de criados).]

Há versos indicando que a palavra tem sua origem na última ceia de Jesus com seus apóstolos, em seguida foi usada pelos primeiros cristãos para se nomearem. Disse Rosa Luxemburgo em seu folheto “O Socialismo e as Igrejas”: Os infelizes escravos, tratados como bestas, faziam todo o trabalho em Roma. Neste caos de pobreza e degradação, o punhado de magnatas romanos passavam os dias em orgias e em meio à luxúria. Não havia saída para esta monstruosa situação social. (...) Frequentemente [os escravos] se rebelavam contra seus amos, libertavam-se mediante batalhas sangrentas, porém o exército romano esmagava as revoltas, massacrava os escravos aos milhares e crucificava outros tantos. Nesta sociedade putrefata, na qual o povo não encontrava saída de sua trágica situação, nem esperanças de uma vida melhor, os infelizes direcionaram seus olhares aos céus para encontrar ali a salvação. A religião cristã aparecia para estes infelizes como uma tabula de salvação, um consolo, um estímulo e se converteu, desde seu começo, na religião do proletariado romano.

Mais tarde, na Idade Média, foram organizadas as primeiras corporações ou guildas por ofícios e regiões como forma de proteção ante corporações estrangeiras. As primeiras guildas foram criadas sob regulamentos com rígidos ordenamentos hierárquicos: em primeiro lugar, estava o dono do ateliê, o mestre; na posição mais baixa da escala, os aprendizes e no meio estavam os companheiros. Estes trabalhadores também eram classificados nos estatutos como os famuli.

As mulheres também se encontravam organizadas da mesma maneira nos ofícios, nos quais detinham quase monopólio, principalmente, na área dos têxteis e da confecção (fiadeiras, tecedoras, tintureiras, costureiras ou alfaiates e até lavadeiras), os relacionados com a alimentação (confeiteiras, “verdureiras”, ou fabricantes de cerveja) e os de “taberneiras” e “estalajadeiras”.

Famuli e famulus (e família em espanhol e português) são palavras derivadas de famel que em osco (um antigo dialeto da Itália) quer dizer servo ou escravo. Nessas primeiras guildas o dono do ateliê os operários estavam juntos. No entanto, logo a transformação da produção dos pequenos ateliês em produção em grande escala nas fábricas, os operários se deram conta de que deviam agrupar-se de forma independente de seus patrões alcançar melhores salários e melhores condições de trabalho.

Desta forma, os famuli, os servos, os companheiros que compartilhavam a miséria e o pouco pão, começaram a compartilhar a luta por uma vida melhor. Assim nasceram os primeiros sindicatos e associações de socorro mútuo, com solidariedade de classe como base fundamental entre os operários e suas famílias.
De imediato um grande debate surgiu no interior dessas associações solidárias: se poderiam melhorar sua situação colaborando com a burguesia ou combatendo-a. Em 1848 a Liga Comunista encarregou Marx de elaborar seu documento de fundação, que não foi outro senão o “Manifesto Comunista”. Logo, os companheiros começaram a lutar sob o lema: “Proletários do mundo, uni-vos!”.

Em o Tesouro da língua castelhana ou espanhola, encontramos:
Diz-se da palavra compar, a coisa que é igual a outra. E a companhia pressupõe igualdade, porque os amigos e companheiros o são, enquanto se tratam igualmente; sem fazer diferenciação entre um e outro, de modo que meu amigo seja outro eu. Alguns querem que o companheiros haja como se diz de com e pão, porque entre os amigos não deve haver pão partido, e sim devem comer o mesmo pão. Embora Covarrubias, muitas vezes, faça associações um pouco de criação própria – etimologicamente falando -, sobre a palavra companheiro, diz algo bonito.

Esta palavra tem viajado desde as crenças cristãs que consolaram e agruparam os escravos romanos até os primeiros servos dos ateliês medievais, logo foi parar nas mãos e bocas dos primeiros operários ingleses e franceses que se uniam para protestar contra as exaustivas jornadas de até 16 horas de trabalho, imediatamente agrupou os que marcharam atrás das bandeiras da Comuna de Paris e do Manifesto Comunista.

Até o dia de hoje, nós que lutamos por um mundo sem escravidão assalariada, que sonhamos em tomar o céu de assalto, somos aqueles que compartilhamos o pão da luta – as vezes doce, outras amargo.

O sempre ardente pão da rebeldia compartilhado entre nossos irmãos e irmãs de classe.

Somos as companheiras, somos os companheiros.

Este artigo é dedicado a Jorge Julio López, a dez anos de seu segundo desaparecimento e ao nosso COMPANHEIRO Oscar “Chiche” Hernández, operário do PTS (organização irmã do MRT na Argentina) que faleceu recentemente.

 
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