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UNICAMP
40 anos do bandejão da UNICAMP: apenas comemorações?
Flávia Telles
Cássia Silva

O restaurante universitário da Unicamp, o “bandejão”, completa essa semana 40 anos de existência, as comemorações contam com um cardápio distinto do comum, música nas refeições e bexigas por todos os lados, mas é preciso pensar o que comemoramos e que história esses 40 anos nos contam.

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Inaugurado em 1976, o RU oferecia apenas o almoço aos estudantes e funcionários, e somente na década de 1990 começou a servir também o jantar. Em 1986, já servia 2.500 refeições só no almoço e hoje cerca de dez mil pessoas, entre estudantes e funcionários utilizam RU todos os dias, mostrando a sua importância para manter a universidade. Mas, qualquer um que utiliza o bandejão pode perceber as condições precárias de trabalho a que os trabalhadores, que preparam a nossa alimentação todos os dias, são submetidos. Desde as altas temperaturas, ao peso das conchas que preenchem nossas bandejas, tudo vai nos mostrando que a história do bandejão está entrelaçada à história de homens e mulheres, negros em sua maioria, que dedicam sua vida todos os dias para um trabalho de baixo salário e muita precarização dos corpos e da vida como um todo.

Osvaldo, trabalhador da Unicamp, que trabalhou no bandejão por 9 anos, nos conta que:

“Ao longo desses quarenta anos de existência, o RU passou por muitas transformações e infelizmente as mudanças não foram para melhor, mas sim para pior pois, o número de trabalhadores contratados via concurso público diminui drasticamente, eram mais de 200 concursados, hoje são apenas 45 a 50 aproximadamente. Isso trouxe desigualdades catastróficas e impactantes, tanto para concursados como para terceirizados, agora maioria, que sofre com a precarização do salário e das condições de trabalho a que são expostos. Ganham bem menos do que a metade do salário de um concursado e são obrigados a serem ‘bombril’, mil e uma utilidades, fazem todo e qualquer tipo de serviço e não podem recusar ou reclamar, sob pena de serem demitidos sumariamente. As máquinas e equipamentos obsoletos com que trabalham agravam mais a situação. São aquecedores de água, ‘boyler’ que precisam urgentemente serem trocados, mas que nunca são, panelas extremamente velhas que são remendadas (soldadas sem precisão técnica de segurança ) e remontadas a esmo, o que já ocasionou acidentes graves que feriram trabalhadores e trabalhadoras e mesmo assim o RU continua a operar nas mesmas condições. Nestes quarenta anos ignoraram o aumento da demanda e não compatibilizaram os equipamentos e nem as condições de trabalho com tal aumento e o assédio moral com os trabalhadores e trabalhadoras terceirizados é desumano e inconcebível”.

O relato de Osvaldo evidencia que a história de 40 anos do bandejão não é tão bonita como quer mostrar a reitoria com as comemorações, mas é marcada pela precarização das condições de trabalho e pela crescente terceirização, que coloca os trabalhadores em condições distintas dos trabalhadores efetivos da Unicamp, não só em relação ao salário, mas também à representação sindical e a se ver enquanto trabalhador da universidade, que são. Quando questionamos a reitoria por exemplo, por conta dos baixos salários, das demissões, e da alta rotatividade do trabalho, ela nos diz que não tem nenhuma responsabilidade por esses trabalhadores, que a responsabilidade é da empresa, ou da Funcamp (fundação privada dentro da Unicamp).

O funcionamento do bandejão diariamente é muito importante para o funcionamento da universidade e para a permanência estudantil de estudantes pobres que não teriam outra forma de se alimentar, se não houvesse o serviço prestado pelos trabalhadores, mas um direito nosso não pode se realizar significando a precarização do trabalho, a qual, sabemos, tende a se aprofundar no atual cenário de ataques e reformas trabalhistas do golpista Temer. Queremos um bandejão de qualidade, mas com condições dignas de trabalho, direitos garantidos, salários justos e contratação de funcionários conforme a demanda, por isso é urgente que os trabalhadores terceirizados sejam efetivados pela universidade sem a necessidade de concurso público, já que provam diariamente suas capacidades de realizar o trabalho.

 
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