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INTERNACIONAL
Coreia do Norte e a arriscada diplomacia dos mísseis
Claudia Cinatti
Buenos Aires | @ClaudiaCinatti

No mesmo dia em que celebra o 68º aniversário de sua fundação, a República Popular Democrática da Coreia lançou seu quinto teste nuclear.

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No mesmo dia em que celebra o 68º aniversário de sua fundação, a Republica Popular Democrática da Coreia - que para simplificar o resto do mundo chama de Coreia do Norte- realizou seu quinto teste nuclear. Esta é a segunda detonação controlada ao longo do ano e a maior de sua história.

Curiosidades do regime totalitário do Partido dos Trabalhadores, uma emissora lendária, a mesma que deu a notícia das mortes de King Il-sung y Kim Jong-il (avô e pai do atual líder, Kim Jong-um), foi a encarregada de fazer o anúncio na televisão estatal. Entre outras coisas, o comunicado definiu o fato como uma resposta a hostilidade externa, em primeiro lugar dos Estados Unidos. Além das especulações sobre quão perto estará Pyongyang de adquirir a tecnologia armamentista para alcançar território estadunidense, o certo é que o teste mostrou avanços no programa nuclear.

A explosão que causou um terremoto artificial de magnitude 5.3 é uma metáfora da onda expansiva da mensagem que a Coreia do Norte tem enviado ao mundo e que analistas, diplomatas, governos inimigos e aliados ainda estão decifrando, além dos repúdios generalizados de rigor. Mais enérgicos no caso dos Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul. Menos embora também audíveis no caso da China.

Se se somam os três mísseis de médio alcance lançados em plena reunião do G-20 na China (e da cúpula da ASEAN), com a presença de Obama e outros líderes mundiais, que percorreram uma distancia de 1000Km para terminar caindo no Mar do Japão, a conclusão lógica é que o regime da Coreia do Norte está em modo de provocação.

Internamente, o timing do teste pode ser uma tentativa por parte de KIM Jong-un de dissipar as dúvidas sobre a solidez do regime, depois de deserções de funcionários de alto escalão, como o diplomata que desertou na Grã-Bretanha, e oficiais envolvidos em suspeita de corrupção em favor da dinastia dos Kim.

No plano externo, o bombardeio tem tantas leituras como destinatários. Começando pelo mais evidente, é uma mostra do fracasso da política de sanções econômicas adotada por Washington e seus aliados – e a que se somou a China, pelo menos formalmente.

Historicamente, os diversos testes de misseis balísticos e nucleares foram lidos como o da Coreia do Norte para obter concessões das grandes potencias e de seus vizinhos (ajuda alimentícia, a política “friendly” do Sol nascente por parte da Coreia do Sul entre outras). Esta estratégia de “golpear para negociar” funcionou relativamente até 2009. Mas faz tempo que esse esquema já não corresponde a realidade nem regional nem da política imperialista feita na Ásia.

Neste marco, o que vários analistas assinalam é que o regime norte-coreano tenta forçar um giro a partir da transformação de seu arsenal nuclear, tendo como fato consumado seu desenvolvimento.

O teste nuclear também é uma forma de jogar nas crescentes tensões e rivalidades regionais, exacerbadas pela “articulação” dos Estados Unidos na Ásia que tem por objetivo conter a ameaça que se transforma a China, que já tem produzido acidentes militares menores, mas que em perspectiva podem ser motivo de conflitos com projeção internacional.

Como parte desta política mais agressiva de Washington está a instalação do sistema antimísseis na Coreia do Sul (conhecido como THAAD por suas siglas em inglês) ou a tentativa de Obama de que a cúpula da ASEAN se pronunciara a favor da falha da Corte Internacional de Arbitragem que ditou que as reivindicações marítimas da China são ilegais.
Esta política agressiva dos Estados Unidos está causando atritos com as Filipinas, um aliado tradicional de Washington ao ponto do presidente Rodrigo Duterte insultar literalmente a Obama. Embora depois buscaram baixar os decibéis ao se cruzarem, o dano já está causado. Nem Duterte é um anti-imperialista, pelo contrário é um populista de direita que está tentando impor um estado policial através de uma “guerra contra as drogas”, nem o governo dos Estados Unidos está preocupado com os direitos humanos nesta guerra. O fundo desta questão é que Duterte está em uma política de relativa aproximação da China e para isso desprezou até o momento seguir a denuncia contra a China por disputas territoriais, e isso complica os planos norteamericanos.

A China deve fazer um delicado equilíbrio. Seu principal objetivo é evitar o colapso do regime norte-coreano, o que inevitavelmente lançaria uma onda de refugiados e famintos para suas fronteiras. E colocaria em perspectiva o perigo de uma reunificação dirigida pelo Sul e Estados Unidos. Por isso, apesar de ter aderido ao programa de sanções econômicas da ONU o passado março segue sendo o principal sustento econômico da Coreia do Norte. Porém, não está disposta a tolerar que Pyongyang siga lhe dando justificativas para o crescente militarismo dos Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão. Por isso, em uma declaração pública do governo, fez saber o regime norte-coreano que despreza sua polícia, impulsos a “não escalar” e reafirma sua posição de manter “desnuclearizada” a Península da Coreia.

A falta de outros meios mais eficazes para por limites a esta “estado agressivo”, tudo indica que no imediato os Estados Unidos aprofundará sua politica de sufoco, que ironicamente se conhece como “paciência estratégica”. Isto é aumentar a pressão sobre a Coreia do Norte. Entretanto, as sanções econômicas utilizadas como um palanque para produzir negociações politicas (incluindo o famoso “choque de regime”) e aplicadas contra distintos inimigos dos Estados Unidos e “Ocidente”, desde Rússia até Irã e Cuba, tem demonstrado ser um bumerangue. E neste caso, da Península da Coreia, alimenta um militarismo que não é mais que uma antecipação da virulência dos conflitos futuros.

 
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