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ELEIÇÕES MUNICIPAIS
Luciana Genro e o perigo de um “efeito Podemos” nas eleições de Porto Alegre
Thiago Flamé

Reflexões sobre a última pesquisa momentos antes do primeiro debate eleitoral em Porto Alegre.

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Na foto, Luciana Genro com Manuela Carmena, prefeita de Madrid pelo PODEMOS

Com o Slogan “É a vez da mudança, é a vez da Luciana”, o PSOL aposta forte na vitória em Porto Alegre. Com um discurso centrado na segurança pública, voltado para o eleitor de centro e centro-direita, Luciana Genro toma distância das manifestações contra o golpe. O tiro pode sair pela culatra, a exemplo do que ocorreu com o partido de Pablo Iglesias, no Estado Espanhol.

As primeiras pesquisas de opinião mostravam um cenário eleitoral impressionante em Porto Alegre. A pesquisa Ibope confirmou a liderança de Luciana Genro que despontou com 23% das intenções de voto e um crescimento de Raul Pont (PT) em relação a primeira pesquisa do Instituto Methodus. Neste cenário o PSOL gaúcho priorizou ainda mais o perfil moderado da sua campanha, numa tentativa de convencer a opinião pública de que é capaz de governar. A aposta arriscada é, ao mesmo tempo, manter os eleitores de esquerda, cansados do PT, e abocanhar um fatia dos eleitores mais conservadores que estão insatisfeitos com os partidos tradicionais.

O exemplo que o PSOL gaúcho reivindicou nos últimos meses, o Podemos, deveria ser um alerta de que essa política confunde e desmobiliza os que simpatizam com as ideias de esquerda. No sistema parlamentar do Estado Espanhol os eleitores escolhem os deputados votando nas listas dos partidos e depois os deputados escolhem o primeiro ministro. Se nenhum partido conseguir formar maioria se realizam novas eleições. Em poucos meses os espanhóis passaram por duas eleições – e ainda correm o risco de pela terceira em dezembro.

Entre a primeira e a segunda eleição, o Podemos perdeu um milhão de votos, apesar da aliança que fez na segunda eleição com Izquierda Unida e da moderação do discurso. O sonho de ficar em segundo lugar nas eleições e superar o PSOE (algo como um PT de lá) foi por terra. Mesmo nas cidades em que governa (com o apoio direto – Barcelona - ou indireto do PSOE - Madrid), inclusive na Madrid de Manuela Carmena tão reivindicada pelo PSOL gaúcho, Unidos Podemos perdeu votos.

Fazendo um primeiro balanço das duas eleições Josefina L. Martinez e Diego Lotito, do LID (La Izquierda Diario) do Estado Espanhol diziam “O Podemos foi muito à direita em muito pouco tempo: partindo do imaginário que pretendia ser a continuidade do 15M (dos indignados), até as promessas de “pátria, lei e ordem” de Pablo Iglesias. (...) A moderação, no entanto, não foi o único elemento atuante no fiasco de domingo (dia das segundas eleições). A ilusão no Podemos se desvalorizou em igual medida com a sua “presença institucional” no último ano, como parte de candidaturas cidadãs à cabeça dos governos municipais de importantes cidades como Madrid, Barcelona, Zaragoza o La Coruña.”

Mas o PSOL gaúcho ignora as lições do processo espanhol, assim como ignorou as lições do processo grego e o fracasso do governo Syriza, pois a reflexão sobre essas experiências leva a um questionamento da estratégia que vêm adotando os apoiadores de Luciana Genro. Como afirmou Ivan Tamajón, do LID/Barcelona em polemica com o projeto do PodemosSua formação desenhou para a classe média e as classes populares um Estado capitalista que poderia ser humanizado. Um Estado órfão de conteúdo de classe, um Estado que segundo quem o governasse poderia articular umas políticas ou outras. (...) Contra o que diziam e seguem dizendo, a prática demonstrou que o Estado não é uma "casca vazia" senão que seu caráter de classe capitalista o transforma em um monstro de inúmeros tentáculos, que tão somente pode ser destruído, nunca reformado.

O próprio jogo eleitoral está organizado contra a esquerda, para impedir que as expressões políticas das lutas dos trabalhadores, da juventude e dos setores oprimidos se expressem eleitoralmente. A adaptação às regras do jogo para conseguir governar levaram ao desastre do PT, ao desastre do governo Syriza (que se desmascarou aos ritmos da crise, percorrendo em meses os caminhos que o PT trilhou em anos) e a derrota do projeto Podemos no Estado Espanhol. Por que o PSOL gaúcho espera agora repetir a mesma receita fracassada e conseguir resultados melhores?

No cenário acirrado da disputa em Porto Alegre a política de Luciana Genro pode ter um resultado parecido ao fracasso do Podemos. A certa fragmentação das candidaturas esconde o quadro polarizado da política gaúcha. Depois da consumação do golpe no Senado, a capital gaúcha tem vivido grandes manifestações da juventude contra o governo Temer. Somados os votos de Luciana Genro com Raul Pont temos mais ou menos 40%, contra os votos somados da direita, que está pelos 35%. O cenário de um segundo turno entre Luciana Genro e Raul Pont foi uma foto de um momento que muito dificilmente pode se manter. A tendência é que um candidato da direita se destaque em relação aos demais (Melo é o mais cotado) e que Luciana Genro e Raul Pont disputem entre si a outra vaga.

Assumir uma postura moderada e conservadora e se afastar da luta contra o golpe não vão ajudar Luciana Genro a canalizar a crise do PT. Pelo contrário, ajuda a conter a crise do PT ao não apresentar uma alternativa de esquerda para combater os golpistas. A bandeira de ser uma candidata de “mãos limpas” para o eleitor mais politizado, formador de opinião nos círculos sociais que ela disputa com Raul Pont, não deixa de remeter à operação do mesmo nome na Itália e de forma indireta à Lava-Jato de Sergio Moro.

Defender esse programa conservador para a segurança ("além de cobrar do governo do estado o aumento do efetivo de policiais militares nas ruas de Porto Alegre, também vamos valorizar os servidores da guarda municipal, descentralizando a sua atuação e levando-a aos bairros de forma integrada com a comunidade e a Brigada Militar" Luciana escreve em sua página), apesar de poder caber na boca de qualquer político de direita, não vai fazer o possível eleitor de Melo ou de Marchezan ver em Luciana uma alternativa.

Os ziguezagues do PSOL gaúcho na questão do impeachment, as declarações de Luciana Genro reivindicando a política de Marina Silva, seu discurso conservador sobre segurança pública, sua aliança com o PPL e as negociações de bastidores com a Rede, tudo isso pode fazer o PSOL perder votos para abstenções, nulos e brancos ou até mesmo para Raul Pont de gente que está em crise com o PT, mas está ainda mais indignada com o golpe. Sem dúvida o debate de hoje será decisivo pra definir qual tendência vai primar daqui até dois de outubro. Se esse discurso se mantiver e se aprofundar, o PSOL poderá vivenciar a sua crise à la Podemos. Esse cenário em Porto Alegre só reafirma a necessidade de se construir uma alternativa política à esquerda frente ao golpe e ao fracasso da política de conciliação de classes do PT.

 
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