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DEBATE
Mal menor, unidade da esquerda e PT: um debate com os leitores do Esquerda Diário
Leandro Lanfredi
Rio de Janeiro | @leandrolanfrdi

A consolidação do golpe institucional no país abre um vivo debate. E agora, o que fazer? Ir às ruas, é a resposta pronta de uma parte daqueles que como nós se opôs ao golpe. Está correto, mas o que mais? O que defender?

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A direita vem quente. Se divide entre o quão rápido e o quanto nos atacar. A mídia e os tucanos cobram de Temer a “reforma da previdência já”. Mas estamos longe de uma ofensiva da direita sem resistência, pois a classe trabalhadora não está derrotada. Mas o perigo está ali. Por isso muitos leitores têm escrito a nós para termos cuidado nas críticas ao PT e outras organizações políticas, porque é preciso “unidade” neste momento difícil.

Trata-se de um sentimento correto, precisamos ter força para enfrentar a direita. E o primeiro pensamento que surge é “bem, se unirmos todos que são anti-golpe”, aí já temos um bom começo.

Em um nível isto está correto. É parte do que nós marxistas chamamos de “frente-única”: como estabelecer uma unidade de ação e fazer cada um, cada agrupação com suas tradições e perspectivas, manter sua independência, mas também juntos golpearmos o inimigo comum.

Por isso o Esquerda Diário e a organização que o impulsiona, o Movimento Revolucionário de Trabalhadores, vai às ruas junto a milhares nestas manifestações que estão ocorrendo.

Porém, ao mesmo tempo tratamos de discutir uma perspectiva para o movimento “Fora Temer”. Para ele realmente ser efetivo precisa se desvencilhar de dois claros limites que o PT tenta impor a esse movimento.

O primeiro é a tentativa de desvincular o movimento da força necessária que precisamos ter para responder aos ajustes, às demissões, às privatizações, ao ataque a aposentadoria. Como se a luta da classe trabalhadora fosse uma coisa e os atos outra. Mas para a elite não é assim. Deram esse golpe para fazer ataques mais duros do que aqueles que o PT já fazia. Se tratarmos assim em separado os problemas, vamos ter greves fracas e isoladas e atos com muita força de juventude e classe média, mas sem a força de travar a roda do caminhão golpista: a economia. Por isso temos levado às manifestações nossa exigência de que a CUT e CTB façam o que não fizeram em 13 anos de PT: uma greve geral.

Mas não fizeram nenhuma greve geral não porque não haviam ataques, que vinham desde militarizar canteiros de obra, o leilão do pré-sal, a retirada de direitos como no seguro desemprego, mas porque não queriam se enfrentar com “seu” próprio governo. Porque nos faziam acreditar que eram um mal menor. "Melhor com o PT do que sem". Essa meia verdade nos paralisa. Como dizia o marxista italiano Antonio Gramsci, o mal menor é uma lógica que sempre nos leva a um mal maior, porque abrimos mão de lutar pelo que efetivamente precisamos em nome de uma suposta unidade. Foi assim que, frente ao candidato de Cunha, o PT votou no Rodrigo Maia do DEM, e é assim que frente aos tucanos o aliado preferencial era o golpista Temer. A seta da lógica do mal menor aponta para a direita. É um caminho lento a ela. Gramsci dizia:

“Um mal menor é sempre menor que um subsequente possivelmente maior. Todo mal resulta menor em comparação com outro que se anuncia maior e assim até o infinito. A fórmula do mal menor, do menos pior, não é mais que a forma que assume o processo de adaptação a um movimento historicamente regressivo cujo desenvolvimento é guiado por uma força audaciosamente eficaz, enquanto que as forças antagônicas (ou melhor, os chefes das mesmas) estão decididas a capitular progressivamente, em pequenas etapas e não de uma só vez (...)” (Cadernos do Cárcere, Caderno 16, §25)

E agora, frente ao golpe, qual o mal menor que advogam? Volta Lula ou venha Ciro. Tanto Lula, como já sabemos, como Ciro se preparam para fazer governos ajustadores. Da eterna conciliação com a direita (afinal sempre tem uma pior). É isso que precisamos? É isso que queremos?

Lutarmos agora por novas eleições como quer Lula e o PT. O que conseguiríamos? Tirar o golpista. Ok. E aí então eleger alguém para nos atacar. E como ficaria a esquerda em uma nova eleição? Com as regras atuais, ficaria de fora da TV, como já está agora. Aí teríamos que, segundo essa lógica, apoiar Lula ou Ciro, já que do outro lado estão Aécio, Bolsonaro, Marina...

Podemos e devemos questionar o conjunto desse regime podre, de corrupção, de ataques aos direitos dos trabalhadores. Não queremos questionar um congresso cheio de privilegiados só de vez em quando, queremos mudar todas as regras do jogo. Achamos que isso só é possível acabando com o capitalismo, mas enquanto a maioria dos trabalhadores ainda não defendem isso propomos que realmente seja o “povo que decida”, que possa discutir tudo. Desde uma lei para proibir as demissões, a continuação ou não do pagamento da dívida pública a 20 mil privilegiados, e qual deveria ser o salário dos políticos, se o atual ou como de uma professora, como propomos. Por isso defendemos lutar por uma nova Constituinte.

É preciso força pra lutar contra a direita e os golpistas. É preciso unidade. Mas em nossa opinião, deve ser uma unidade para realmente levar o questionamento à raiz dos problemas. Estamos juntos para lutar contra Temer, mas é possível e necessário fazer isso levando a luta às fábricas e locais de trabalho para derrotar os ataques que o PT iniciou e Temer quer acelerar. Uma unidade para ir além do mal menor que é o caminho passo a passo à direita. Uma unidade para questionar o conjunto desse regime político.

 
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