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FRANÇA
Governo Francês inicia um novo curso político marcado pela repressão
Julián Vadis, Paris

Após ter sofrido um revés sobre a questão do Burquíni e a renúncia de Emmanuel Macron, o governo vê se aproximar um novo curso político marcado pelos movimentos sociais.

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Com a proximidade do dia 15 de setembro, onde estão convocadas novas manifestações, o executivo reorganizou sua máquina repressiva, começando por fazer os trabalhadores portuários de Havre pagarem, sendo que estes foram a vanguarda da mobilização contra as leis trabalhistas. O governo tem necessidade de um “caso exemplar” para tentar calar todos elementos de protesto que possam ser uma faísca para ressurgir manifestações de massas, dessa vez pela anulação da lei trabalhista.

A morte de Adama, Burquini, renúncia de Macron: Hollande se encontra em um impasse frente o início do ano letivo

Esse é um governo tão frágil, mesmo em um momento de trégua pelas férias de verão, já se prepara para tentar calar antes que comecem as jornadas dos movimentos sociais e sobre a reforma trabalhista.

Podemos dizer que o verão começou muito mal para o executivo, com a morte de Adama Traoré (um jovem de origem africana assassinado pela polícia) que voltou a pôr no centro da cena nacional o problema da violência policial, após cinco meses de mobilização.

Com o objetivo de apaziguar a revolta da juventude discriminada, perseguida e confinada aos guetos, que pode retomar as ruas como em 2005, em um contexto social extremamente tenso, Valls e seus servidores, exigiram uma vez mais a repressão para acabar com a revolta. Consciente da necessidade de aprofundar a ruptura – frente ao início das aulas – dos jovens estudantes com os bairros populares e o movimento social.

Uma simples manobra para ocultar os verdadeiros problemas? Não é apenas isso.

Ainda que seja certo que, em parte, falar do burquíni permitiu relegar a segundo plano os problemas importantes como o desemprego ou a lei trabalhista, o objetivo central é outro. Com a aposta na xenofobia, o executivo deseja, sobretudo, criar um racha em nosso campo social, entre os trabalhadores e os jovens discriminados desde um ponto de vista racial e os que não estão. O governo pretende ser reconhecido como o “libertador das mulheres”. Uma máscara indignante se pensamos em outro caso que desatou a polêmica nos meios de comunicação, a manutenção da prisão de Jacqueline Sauvage (encarcerada por ter assassinado seu marido após ter sofrido durante anos violências físicas e abusos sexuais) enquanto Hollande rechaça a possibilidade de lhe conceder o indulto presidencial.

A ofensiva racista e islamofóbica iniciada pelo governo segue vigente e continua, apesar da sentença invalidando as ordens municipais emitidas pela justiça.

A renúncia de Emmanuel Macron e a crise de Hollande

O último duro golpe para o governo e para Hollande foi infligido por um de seus ministros: a renúncia de Emmanuel Macron, até a poucos dias o Ministro de Economia e Finanças. Apresentando sua renúncia com o objetivo de uma nova chance na disputa presidencial. Macron não apenas dá a impressão de ter abandonado um “barco à deriva”, como também que estava muito mais à direita que Hollande.

Agora que a “esquerda” do PS se colocou em movimento, com seu olhar voltado para as eleições internas socialistas, François Hollande e seus seguidores se encontram literalmente contra as cordas, e o fim do mandato quinquenal se anuncia como um verdadeiro calvário.

As eleições presidenciais na França se realizarão entre abril e maio de 2017, passando pelas internas dos partidos no mês de novembro deste ano.

Uma atmosfera de instabilidade política que poderia resultar explosiva se o movimento retomasse a mobilização... O governo reprime desde já!

É nesse contexto que o governo tenta se antecipar e deter toda intenção de continuar a luta inclusive antes do 15 de setembro. O conjunto das organizações envolvidas no movimento social durante a primavera chama a mobilizar-se nessa data, e alguns elementos indicam a existência de uma certa radicalidade ainda presente, como a manifestação de mais de 500 pessoas frente ao comício do PS em Colomiers e sobretudo o bloqueio do porto de Havre, capital da luta, como se viu na última semana.

Nos últimos dias a tendência tem sido a repressão. Além da detenção de dois trabalhadores portuários de Havre, um militante da CGT foi convocado ao julgamento de primeira instância essa quinta feira. A central sindical Sud Solidários foi acusada de desrespeitar uma multa de 46.000 euros, e um dos trabalhadores de Air France envolvido no episódio da “camisa arrancada” foi despedido com o apoio direto de Myriam El Khomri, ministra do trabalho.

Podemos afirmar que o governo mantém a mesma linha política da primavera passada, esperando o momento para atacar com os cassetetes e gases lacrimogênios quando seja necessário.

Para o executivo o objetivo é claro: fazer da jornada do dia 15 (que não poderá ser impedida) um último desafio. Aguardemos para ver se o governo tentará novamente uma militarização do espaço público e das manifestações, como já vimos durante as últimas marchas antes da trégua dos estivadores. Um elemento determinante será a política que levam adiante as direções sindicais, principalmente a CGT.

Retomar as ruas do 15 de setembro em diante!

Apesar da nova ofensiva racista e islamofóbica da casta política com a proibição do burquíni, a situação política se mantém muito aberta. Numerosos setores do movimento operário, assim como também uma ampla vanguarda da juventude, ou seja, uma parte importante do chamado “povo de esquerda”, rompeu com o Partido Socialista de Hollande. A este fenômeno se agrega a crise política, que não parece ser somente conjuntural, mas estrutural, o que mostra a profunda crise do bipartidarismo.

Nesse contexto de brechas profundas, se abre a possibilidade de que setores de trabalhadores e da juventude mais oprimida (imigrantes e dos bairros pobres), relativamente ausente do combate durante a primavera, saiam a tomar as ruas.

O movimento social deve hegemonizar a luta reafirmando mais que nunca seu rechaço a todo discurso xenófobo e sexista como o que se expressou no momento do episódio do burquíni, e assim integrar em seu discurso a luta contra a repressão e a denúncia dos assassinatos perpetrados pelas forças policiais nos bairros populares.

Lamentavelmente o caso de Adama Traoré, é apenas um dentre tantos outros.
Ante a política divisionista empregada pelo governo, chegou a hora de fortalecer a aliança de nosso movimento social, contra a política assassina, ultraliberal e xenófoba do conjunto do corpo político institucional. Esta é a condição necessária para construir o “todos juntos” (tous esemble) e assim arremessar à lata de lixo da história a lei trabalhista de El Khomri, Valls, Hollande e seus seguidores.

Artigo publicado originalmente no dia 1 de setembro de 2016 no site Revolução Permanente, seção em francês da rede internacional de diários Esquerda Diário.

 
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