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DEBATES NA PARAÍBA
Esquerda Diário debate conjuntura nacional e internacional em universidades paraibanas
Shimenny Wanderley
Campina Grande

No mês de agosto o Esquerda Diário participou de debates sobre conjuntura política nacional e internacional em diferentes cidades e universidades no Estado da Paraíba: em João Pessoa na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em Campina Grande na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e em Guarabira na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

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Das atividades realizadas e que realizaremos na UEPB não escreveremos nesta matéria já que escrevemos três diferentes: uma primeira sobre a Conferência sobre "Crise brasileira a partir do marxismo: um olhar trotskista", uma segunda sobre minicurso sobre Conjuntura política na América Latina e uma terceira anunciando as próximas atividades onde eu ministrarei uma Conferência sobre a Conjuntura Política pós-impeachment no Brasil e Danilla Aguiar, Janaina Freire e Nivalter Aires realizarão um minicurso sobre as contribuições de Antonio Gramsci para a análise de América Latina

A conjuntura política na América Latina

No dia 11 de agosto o Professor de Ciência Política Gonzalo Rojas fez uma conferência em João Pessoa intitulada “Crise orgânica e conjuntura no Brasil e América Latina” a convite do Programa de Pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) como atividade de um dia de paralisação, mobilizações e luta do conjunto dos setores da educação.

Gonzalo Rojas começa explicando que no início dos anos 2000, especificamente na América Latina presenciamos a ascensão ao poder de um conjunto de governos heterogêneos ditos “pós-neoliberais”: Hugo Chávez na Venezuela, Kirchner na Argentina, “Lula” no Brasil, Evo Morales na Bolívia, que foi considerado como um giro a esquerda. Que foi proporcionada pelo fracasso do neoliberalismo e impulsionado, a partir de meados de 90, pelos movimentos sociais que muda dependendo do país. Esses governos ditos pós-neoliberais emergiram como uma alternativa de superação do neoliberalismo, no entanto após os governos estarem no poder há dez ou quinze anos, as mudanças estruturais foram muito limitadas. O poder econômico manteve o centro das suas posições, no que se denominou o "consenso das commodities". Com o crescimento significativo da economia e altos saldos das balanças comerciais, estes governos puderam incentivar o aumento do consumo das massas e realizaram medidas generalizadas de assistência social.

Porém, diante de uma crise capitalista mundial que vem se arrastando desde 2008 e que se aprofunda. Num quadro de crise orgânica, que articula crises econômicas políticas e sociais que se manifestam de forma desigual e combinada em cada pais dependendo de sua formação econômico-social, Gonzalo Rojas mostra o impacto tardio desta na América Latina com a força que pega nestes governos e por que, centralmente nos últimos dois anos.

Esses governos se estabeleceram em um cenário econômico mundialmente favorável, o que permitiu abundantes superávits nas Balanças Comerciais, de maneira contrária a tendências históricas em países semi-coloniais.

Dividiu os governos em blocos que, por mais heterogêneos que sejam, podem ser agrupados em dois (quase três) blocos na América do Sul: os Países que fazem parte da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América – ALBA com uma posição mais anti-imperialista (Venezuela, Bolívia e Equador); os Países mais moderados que mantém uma relação de dominado em pelo Capital Financeiro (Brasil, Uruguai e Chile); e a Argentina em posição intermediária.

O primeiro bloco realizou mudanças constitucionais, atacaram mais profundamente o imperialismo e também a oposição de direita. Na Venezuela aconteceu o que Trotsky chama de “bonapartismo sui generis de esquerda”, na Bolívia um governo de “frente popular” com o movimento camponês ocupando a posição que tiveram os movimentos operários nas frentes populares das décadas de 1930 e 1940.

O segundo bloco de países – Brasil, Uruguai e Chile – tiveram governos burgueses “normais”, por assim dizer. Enquanto que na Argentina os governos dos Kirchner tiveram que conciliar as forças descendentes das rebeliões populares de dezembro de 2001.

Esses governos, se montaram em posição favorável devido a expansão econômica mundial, entretanto não realizaram transformações estruturais, a não ser de maneira limitada. A Venezuela obviamente dependente da renda petroleira, com as exportações do “ouro negro” representando 96% do total da renda gerada no país. A Argentina com a soja. O Brasil também passando por um processo de reprimarização. Bolívia sem mudanças no padrão de acumulação mantendo as relações agrarias e de propriedade da terra, isto é, as mudanças se deram no campo democrático-cultural. No Equador os povos originários questionaram as concessões realizadas as multinacionais. Nesse sentido aconteceu o que alguns autores chamaram de “consenso das commodities”.

Com o alto nível de crescimento econômico mundial esses países experimentaram um aumento no consumo das massas populares e classes médias, muito baseadas nos programas sociais e assistencialistas. Outra característica desses governos é a cooptação das organizações de populares de trabalhadoras com objetivo de limitar e conter as aspirações e mobilizações das massas.

Em relação a esses governos houve, pelo menos, quatro posições da esquerda latino-americana: Os que apoiaram de maneira acrítica; os que apoiaram os acertos e criticaram os erros, mas sem uma delimitação estratégica de conjunto; os que se posicionaram contra, mesmo que acabassem fazendo conchavos com a direita; e por fim os que estiveram em uma posição independente, mas se delimitando das direitas tradicionais.

Para uma esquerda classista e socialista estes últimos anos tem sido de “nadar contra a corrente”, visto que esses governos de “reformistas e populistas” tinham uma forte base social. Nesse sentido, destacamos o papel da Frente de Izquierda y de los Trabajadores (FIT) na Argentina, mantendo uma perspectiva de classe, com um programa anticapitalista e socialista.

Com o fim desse ciclo de alta nas commodities, o fim de ciclo destes governos é evidente, esses governos têm assumido uma agenda de “ajuste”, como se tem visto no Brasil, Argentina, e mesmo na Venezuela. Mesmo a guinada à direita do governo Dilma isso não impediu que a oposição de direita se mobilizasse, impulsionado governos diretamente representantes do grande capital como Macri na Argentina e Temer no Brasil, o primeiro por via eleitoral e o outro através de um golpe institucional, evidenciando a tendência de do giro a direita na superestrutura política do subcontinente.

Crise orgânica no Brasil

Um dia antes, no dia 10 de agosto em Campina Grande, Gonzalo Rojas também participou da mesa de encerramento do I Seminário dos Discentes do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), que teve como tema: ‘Os Desafios do Cientista Social”, o Esquerda Diário também participou da mesa de abertura do evento no dia 09 de agosto, na qual Janaína Freire participou representando os docentes do PPGCS.

Nesta mesa além do professor Gonzalo Rojas, estavam presentes os professores Lemuel Guerra e Elizabeth Lima, todos do PPGCS.

Nesta matéria focaremos na fala de Gonzalo, que expressou as posições políticas do Esquerda Diário na sua luta contra o golpe institucional antes de sua consumação. Isto é importante sublinhar.

Gonzalo Rojas, diante do contexto e do ponto de vista da crise geral do capitalismo, expressou que não estamos frente a uma crise cíclica “normal”, mas frente a uma crise orgânica do capitalismo mundial em termos gramscianos. Isto significa que a crise iniciada no ano 2008 é muito mais profunda, já que se inicia nos Estados Unidos, e não em um país periférico, e logo se expande para a Europa e se expressa nas políticas de austeridade, no norte da África na denominada “primavera árabe” para depois chegar com força na América Latina em geral e no Brasil em particular. Isto num contexto onde se articula de forma desigual e combinada crise econômica e crise política em ritmos diferentes por países segundo sua própria formação econômico-social.

No caso do Brasil foi caracterizado o impeachment, que ainda estava em curso, como um instrumento antidemocrático, bonapartista, autoritário, que ficou na Constituição Brasileira como resquício de uma transição pactuada entre a ditadura militar e o novo regime político constitucional. Dessa forma o que aconteceu no Brasil é um golpe institucional. Onde a oposição de direita, o judiciário e a mídia golpista se articulam para impor com força um conjunto de reformas reacionárias, “contra-reformas” para nos, contra a classe operária, para que sejam os trabalhadores paguem pela crise. Uma vez denunciada a trama do golpe, explicou que foi o próprio PT que abriu caminho para o avanço da direita, ao governar com os mesmos métodos corruptos desta. Destacou também a criminosa passividade das burocracias sindicais como a CUT e CTB, que na verdade no lutaram contra o golpe estando sempre mais preocupadas em garantir seus espaços nos aparelhos que dirigem e seguir os interesses eleitorais do lulismo, que em organizar a luta e uma greve geral com os métodos da classe trabalhadora. Criticou a posição de Lula e do PT, que propõe fazer uma “oposição responsável” “de não incendiar o país” contra o governo golpista de Temer, pelos mencionados interesses eleitorais em 2018 e o fracasso de sua política de conciliação de classes e conchavos com a direita.

Nesse contexto foi importante nesse espaço se delimitar politicamente de outros grupos da esquerda, como por exemplo o PSTU, que não criticam e nem sequer reconhecem o golpe, ou o e MES/PSOL, que mesmo reorientando sua linha política às vésperas do golpe buscou aliar-se com golpistas de direita, como o PPL e a Rede de Marina Silva, financiada pelo Itaú e tendo como ponto chave de sua política a defesa de Eleições gerais já, o que significaria uma recomposição do regime político e a limpeza do golpe institucional.

Explicando porque desde Esquerda Diário defendemos claramente o Abaixo Temer Golpista! A través de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana imposta pela mobilização das massas. Entendendo que a defesa dessa constituinte deve ter uma perspectiva anticapitalista e transicional.

Voltamos a esclarecer que estes dois eventos aconteceram antes da consumação do golpe institucional, mas avaliamos a importância de registrar e compartilhar com os leitores desde jornal. Os dois momentos foram importantes para a avaliação da conjuntura política atual no Brasil em particular e na América Latina em geral, mas também nos permitiu aprofundar uma reflexão sobre as tendências, os desafios e as tarefas políticas colocadas para a esquerda latino-americana e no Brasil.

 
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