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Por que querem criminalizar a juventude que luta contra o golpe?
Odete Assis
Mestranda em Literatura Brasileira na UFMG

No último domingo, antes mesmo do início da manifestação pelo Fora Temer, 26 jovens foram detidos pela polícia militar e levados ao Deic. Lá foram mantidos incomunicáveis por mais de 8 horas. Afinal, porque querem tanto criminalizar a juventude que luta em defesa dos seus direitos?

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Na tarde de domingo, antes da manifestação de mais de 100 mil pessoas na Avenida Paulista pelo Fora Temer, 26 jovens foram detidos. Ao invés de serem levados para as delegacias comuns, foram parar no Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), órgão da Polícia Civil que costuma lidar com crimes ligados ao crime organizado, como roubo de cargas, facções criminosas e fraudes financeiras. Lá foram mantidos incomunicáveis por mais de 8 horas, nem os pais, nem os advogados puderam falar com eles. O comando da Polícia Militar do Estado de São Paulo tinha ordenado um tratamento diferente para os jovens.

Vinte e um jovens, sendo três adolescentes, foram presos por volta das 15h, no Centro Cultural São Paulo (CCSP), no Paraíso, zona sul de São Paulo, quando se preparavam para ir ao protesto. Outros cinco adolescentes foram detidos no início da manifestação, na avenida Paulista, por volta das 16h30. Os 26 jovens detidos nas duas ações foram autuados por associação criminosa e corrupção de menores, crimes que podem render penas de até 5 anos de prisão. Segundo os policiais, os suspeitos pretendiam cometer ações de “vandalismo” durante a passeata da Paulista. Entre os objetos apreendidos que comprovariam a versão da polícia, estavam máscaras contra gás, lenços e vinagre. Esses seriam os objetos com os quais os jovens se levantariam contra as balas de borracha, as bombas de gás e a tropa choque.

Dezoito jovens foram liberados nessa segunda, após o juiz que analisava o caso reconhecer o absurdo das prisões e que não houve flagrante no suposto crime. As suspeitas de que os policiais manipularam as provas que comprovariam o tal flagrante começaram a vazar na internet, deixando cada vez mais evidente a verdadeira intenção por trás da polícia assassina que reprime a juventude nas manifestações e forja provas para justificar a truculência e as prisões. Como esquecer Rafael Braga, preso durante as manifestações de junho de 2013 porque portava uma garrafa de Pinho Sol?

Afinal, porque querem nos criminalizar?

Junho de 2013 marcou profundamente o país, sendo que a juventude esteve na linha de frente dos atos e manifestações, questionando a péssima qualidade dos transportes públicos, a falta de saúde, moradia, educação, toda a casta política e seu regime burguês. O golpe institucional era uma tentativa da burguesia de tentar fechar com uma resposta a direita o cenário aberto por aquelas milhares de pessoas que saíram as ruas. Entretanto, os atos diários na semana da consolidação do golpe e os 100 mil na paulista nesse domingo, mostraram que o governo golpista longe de se estabilizar, permanece em meio ao cenário de crise orgânica no país.

Em Junho, era comum a polícia justificar o uso abusivo da violência devido a presença de jovens mascarados denominados Black Blocs, como se esses jovens fossem bandidos e criminosos passiveis de repressão. Esse texto não pretende entrar no mérito da discussão a respeito da tática black bloc, por esse motivo centraremos apenas nos argumentos que visem justificar o por que a polícia busca cada vez mais criminalizar a juventude que se coloca contra os ataques e a ordem dessa sociedade de ricos e poderosos.

Associar os manifestantes que vão às ruas protestar contra os ataques que vem sendo implementados pelos políticos burgueses, e mais recentemente contra o governo golpista de Temer, a vândalos e bandidos é parte da estratégia de deslegitimação da nossa luta. Como se não bastasse a mídia burguesa utilizando todo seu aparato ideológico para jogar a população contra as manifestações, a polícia busca passar a imagem de que não reprimiram qualquer jovem, mas sim bandidos perigosos e violentos, que atentam contra a ordem e a propriedade privada. Buscando dessa forma algum legitimidade para as tamanhas atrocidades cometidas ao reprimir as manifestações.

Em um dos atos pelo Fora Temer, a polícia de Geraldo Alckmin cegou uma manifestante e rapidamente tentou espalhar a imagem que ela não era uma jovem qualquer, mas sim uma adepta do “vandalismo”, dos “quebra-quebra”, como se isso pudesse em algum momento justificar o uso de bombas e balas de borrachas capazes de tirar a visão de uma jovem.

Essa tentativa de criminalizar os jovens que lutam serve a dois interesses, um que é o de justificar a repressão brutal que a polícia emprega contra as manifestações, que são em sua maioria pacíficas. O outro, é tentar pelo medo calar a nossa voz, fazer com que a juventude deixe de sair às ruas, deixe de protestar, deixe de gritar Fora Temer Golpista e todos os seus ataques, e assim impor uma estabilização do regime para efetivamente consolidar o golpe.

Não calaram nossa voz

Por mais que tentem nos intimidar por meio da repressão a juventude hoje pode ser a caixa de ressonância para fazer ecoar o grito de luta da classe trabalhadora. Somos a geração de Junho, a geração que cresceu vendo o PT no poder e sabendo que esse partido não foi capaz de fazer profundas mudanças nesse regime burguês. Pelo contrário, durante todos os anos de governo petista vimos a passivização e a paralisia imposta pelas suas direções as grandes centrais sindicais e estudantis, como a CUT, CTB e UNE. Tudo para que esse partido pudesse aplicar tranquilamente seus ajustes e ataques. A conciliação e a paralisia petista abriu espaço para que essa direita reacionária e conservadora pudesse dar um golpe no país, um golpe que se volta contra a classe trabalhadora e a juventude, seja por meio do aumento da repressão, com a lei antiterrorismo aprovada durante o governo Dilma, seja com a reforma na previdência, as privatizações e os diversos ataques já anunciados.

A juventude que sai às ruas contra o governo golpista pode ser a faísca de um novo Junho. Mas para isso precisa se colocar de forma independente da política petista de Lula 2018, disfarçada por meio da campanha de Diretas Já. Novas eleições nesse momento seria um desvio da luta, uma saída de recomposição desse regime degradado. E com as restrições impostas pela antidemocrática reforma política quem é que poderia expressar a sua voz em uma nova eleição? Certamente não será a juventude que sai em luta contra o golpista Temer, muito menos a classe trabalhadora que sofre com os ataques.

Temos que lutar para botar abaixo esse governo golpista de Temer e todos os seus ataques. Não basta mudar os jogadores, é preciso mudar as regras do jogo, impondo pela força da mobilização, uma Constituinte que comece a combater os privilégios e a corrupção garantindo que todo político ganhe o salário de uma professora e seja revogável. Que coloque em discussão os grandes problemas da juventude e dos trabalhadores, pelo direito à saúde, educação, moradia, emprego, etc. Como caixa de ressonância da classe trabalhadora a juventude pode e deve batalhar para exigir da UNE e das grandes centrais sindicais como a CUT e a CTB que rompam com sua paralisia e convoquem imediatamente um plano de luta contra os ajustes de Temer e de todos os governos, com assembleias de base, piquetes e paralisações, rumo a uma verdadeira greve geral.

É por medo de que a juventude seja capaz de levantar uma política como essa, contra os golpistas e a conciliação petista, que eles precisam nos disciplinar pela repressão. Tentando dessa forma acabar com nossa luta. Buscando a qualquer custo evitar que se forje uma poderosa aliança entre a juventude e a classe trabalhadora, capaz de fazer tremer os ricos e poderosos de todo país.

 
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