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DEBATE CONTRA O GOLPE
Esquerda Diário participa de debate sobre o golpe institucional em Serra Talhada-PE
José Ferreira Júnior
Serra Talhada – Pernambuco
Janaina Freire, de Serra Talhada em Pernambuco

Logo após a consolidação do golpe institucional realizado no Senado Federal, que culminou na perda do mandato da Presidenta Dilma Rousseff, no dia 31 de agosto, a Coordenação do Curso de História da Faculdade de Formação de Professores de Serra Talhada (FAFOPST), com o apoio dos professores e alunos, promoveu o convite a professores e alunos do curso de Serviço Social da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Serra Talhada (FACHUST) e, de maneira breve, estabeleceu discussão acerca do desfecho do golpe.

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No momento citado, falaram os professores Cristiano Soares (historiador e mestre em história) e Alex Oliveira (historiador e mestre em história), trazendo esclarecimentos acerca de como foi urdida a trama que culminou no golpe consumado no Senado. Após as falas, ficou acordado que nova reunião se daria na noite seguinte, no dia 01/09/16, nas dependências da Autarquia de Ensino Superior de Serra Talhada (AESET), mantenedora das faculdades citadas.

Na noite seguinte, no dia 01 de setembro, como combinado, a reunião ocorreu. Formou-se mesa de debate, na qual o Esquerda Diário foi representado por Janaina Freire e José Ferreira Júnior e composta também por Ingrid Karla (mestra em Serviço Social) e Cloves Silva (líder do movimento estudantil e aluno do curso de Letras da Universidade Federal Rural de Pernambuco). A coordenação da mesa coube ao professor Alex Oliveira.

Janaina Freire promoveu discussão esclarecedora acerca da conjuntura pós-golpe institucional, onde 61 senadores protagonizaram uma trama que culminou de forma antidemocrática com a eleição indireta que colocou o golpista Michel Temer na presidência. O Esquerda Diário apresentou o perfil e os crimes destes 61 golpistas que votaram o impeachment.

A fala iniciou-se destacando que o impeachment, que pretendia fechar uma crise, terminou por se desdobrar em duas outras frentes, em diferentes níveis: no plano superestrutural, logo da segunda votação na qual Renan Calheiros e outros 19 Senadores votaram pela não perda de direitos de Dilma e com a ameaça do PSDB de entregar seus cargos, bem como o dito de Aécio Neves, no pós-golpe, de que “É preciso que o PMDB diga claramente qual é o seu nível de comprometimento com esse governo, para que possamos aplicar as reformas necessárias”, o que demonstra o nível de instabilidade no interior do governo golpista, onde, o fator que os unia era tão somente retirar o PT do poder e a organização da agenda de ataques contra a classe trabalhadora, divisão esta, no interior da aliança pelo golpe. A outra crise política e mais relevante é a das ruas, que gera uma forte e juvenil mobilização, com elementos de espontaneidade, não controlada pelos aparelhos do lulismo.

Destacou-se na fala que, frente a consumação do golpe, foi peça fundamental a ausência de ação do PT e sua estratégia de “não incendiar o país”, como anunciou Lula e limitar-se a uma ação de oposição institucional, a partir da “articulação” de convencimento de mudança de votos no Senado, uma estratégia de conchavos com a direita, que se mostrou como uma “oposição responsável” - se limitado à atuar a partir do interior das instituições de onde justamente partiu o golpe - e que fez uso do aparato burocrático sindical como contendor da ação popular mais incisiva durante o transcurso do processo de impeachment: uma ação claramente antidemocrática que fortalece a direita, golpeia o próprio PT, sequestra o voto popular e instala um momento de ataques para os trabalhadores e jovens no Brasil.

Em seguida, na fala, a partir da definição de porquê é preciso caracterizar o fato vivido em 31 de agosto como golpe, lembrou-se também a importância da Operação Lava Jato como base na construção do golpe institucional, juntamente como o judiciário e as frações parlamentares que formavam a antiga base de aliança dos governos do PT.

Para usar o momento de maneira didática, na extração de lições importantes para os que vislumbram a construção de uma outra realidade, destacou-se na fala a importância e atualidade do revolucionário Leon Trotsky, ao defender que os trabalhadores precisam estar atentos ao caráter mais profundo da democracia burguesa para, desse modo, combater as ilusões democráticas e parlamentares e adotarem uma estratégia de luta independente, que seja construída pelos próprios trabalhadores e para a sua emancipação.

Por fim, apontou-se as implicações do golpe institucional em três pontos.

Uma primeira consequência é a abertura de graves precedentes históricos, como o uso do impeachment: uma instituição anti-democrática, autoritária e bonapartista que ficou na Constituição brasileira como produto da tutela militar e através do qual um grupo de Senadores, com um argumento ultra-neoliberal (que tem relação com a lei de Responsabilidade Fiscal, aceita durante todos estes anos pelo PT), usa-o como argumento central para a fabricação do golpe.

Outra implicação do golpe é a abertura de um contexto repressivo mais agudo no país. As repressões em São Paulo, Rio Grande Sul, em diferentes estados e cidades, incluindo no Nordeste em Campina Grande são uma expressão disto. O aumento da repressão tem relação com o caráter profundamente impopular deste governo e que deve, em pouco tempo, aplicar um programa de ajuste brutal contra os trabalhadores, a juventude e o povo pobre.

Concluindo, destacou-se um aprofundamento no retrocesso de direitos, de pensamento e da política nacional a partir do início do governo golpista. Conclamou-se os presentes a, ante a fala de Michel Temer de que é “hora de pacificar o Brasil”, caber a organização, de forma autônoma, da resistência para a construção de um novo junho de 2013, com reflexão, saída às ruas e luta coordenada.

Ingrid Karla Nóbrega, em seguida, trouxe a discussão acerca do que seja movimentos sociais e da sua morosidade no transcurso do processo golpista e destacou o papel das mobilizações puxadas pela FIESP na Avenida Paulista como esteio legitimador do Golpe. Colocou, também, a centralidade dos trabalhadores como sujeitos revolucionários e o papel decisivo das mobilizações da massa trabalhadora e jovem para abalar as estruturas do governo golpista que hora se instala no Brasil, diferentemente da eficácia duvidosa do que os estudiosos chamam hoje de “Ciberativismo”, que limita a ação à indignação no ambiente das redes sociais.

Cloves Silva trouxe a discussão sobre a morosidade em se convocar greve geral, por parte das Centrais Sindicais. Também conclamou aos estudantes presentes a se organizarem em Diretório Acadêmico atuante, que promova representação da voz dos mesmos que, dentre outros problemas, vivenciam, na Autarquia Educacional de Serra Talhada, à semelhança do que acontece com as outras 12 autarquias educacionais do estado de Pernambuco, dificuldades de manterem-se estudando, uma vez que o governo do estado não promove, de maneira regular, o repasse de verbas relacionadas ao PROUPE (um programa que visa conceder bolsa de ensino para estudantes com baixas condições sociais e econômicas que estejam cursando ensino superior em autarquias educacionais sem fins lucrativos em Pernambuco), uma clara estratégia de promover a essas instituições que, em sua grande maioria, se dedicam à formação de professores por meio dos cursos de licenciatura, uma morte por inanição. Só para dar a dimensão do problema, só agora, no final de agosto, foi realizado o repasse de verbas, do referido programa, relativas aos meses de abril e maio, tendo anunciado o governo do estado que os três meses outros em atraso (junho, julho e agosto), só deverão ocorrer na quarta semana de setembro, condicionados à “prévia disponibilidade de recursos financeiros no caixa do estado”, ficando, assim, na mão mais de 8.800 alunos bolsistas e professores dessas treze autarquias municipais de ensino superior, que têm grande parte de seu funcionamento financiado a partir dessa contrapartida do governo estadual.

Diante do grave problema que tem mobilizado as autarquias em manifestações constantes contra o governo de Paulo Câmara e o seu descaso com a educação em Pernambuco, Cloves Silva finalizou sua fala apontando a intensificação dos ataques que se armam contra os estudantes a partir dessa conjuntura de golpe, daí a necessária retomada do movimento estudantil na instituição, de maneira autônoma, em um momento em que instituições como a UNE, não consegue mais se desvencilhar dos seus limites e da sua inércia burocrática ante os problemas que estudantes vêm enfrentando em todo o país.

Na sequência, José Ferreira Júnior, também colaborador do Esquerda Diário, fechando a exposição de discussões da mesa, falou acerca da necessidade da existência de olhar aguçado, por parte de quem transita no espaço acadêmico, para o que ocorre no cotidiano do jogo social que, embora não exposto e ou divulgado (isto se fazendo necessário à sua continuidade), é passível de observação. Chamou a atenção para o fato de que a cobrança recai sobre quem vivencia o Ensino Superior, visto que o senso comum é massa de manobra do discurso midiática.

Dentre os fatos que o processo de golpe tornou evidente para a sociedade, Ferreira Júnior relembrou, lançando mão da narrativa histórica, o caráter limitado das formas de governo na sociedade capitalista, como a construção da Democracia que, já na Grécia, se constituiu como uma invenção de um grupo social ressentido de inexistência de espaço político e que a sua reinvenção na modernidade, agora de maneira representativa, se faz com vistas a satisfazer interesses burgueses e instrumentalizar a dominação sobre a classe trabalhadora. Assim, o “circo de horrores” vivenciado pela sociedade brasileira em 17 de abril, pode evidenciar para todos, entre outras coisas, o caráter reacionário dos ditos “representantes do povo”.

Somado a isso, o falso laicismo do Estado no Brasil e o conservadorismo moralista religioso que tem acompanhado a política brasileira também foi apontado por Ferreira como um dos fatos que o golpe tornou mais explícito para a sociedade.

Por fim, Ferreira Júnior, a partir de uma crítica ao estímulo ao consumo e à mensuração dos níveis de desenvolvimento da sociedade brasileira pela renda e pelo endividamento, apontou o “fetiche da igualdade” como sendo uma das limitações do “modelo de desenvolvimento” adotados pelo PT nos últimos anos. A incorporação de setores populares via consumo não constituíam uma real transformação da situação de trabalhadores e jovens no Brasil, senão uma falsa ideia que chegou ao seu limite a partir do processo de crise estrutural do capitalismo, iniciada em 2008 e que mais fortemente atacou o Brasil a partir de 2014. Detrás do suposto “neodesenvolvimentismo” se ocultava uma reprimarização da economia.

Após as exposições temáticas feitas pelos componentes da mesa, foi aberto espaço para o auditório que pôde formular perguntas e emitir opinião acerca do que foi falado pelos palestrantes. Acordou-se que haveriam novos encontros, onde outras temáticas seriam discutidas, ficando acordado que haveria, também, mobilidade no sentido de reorganizar o Diretório Acadêmico. A pretensão é que a próxima discussão trate do projeto Escola Sem Partido.

Por aqui, no sertão pernambucano, foi muito relevante participar, a partir do Esquerda Diário, de uma das primeiras atividades pós golpe institucional no nordeste do país, nos permitindo aprofundar o debate político, para, a partir destas discussões, intervir de forma intensa na luta de classes, a partir de uma perspectiva anticapitalista, lutando pelo “Abaixo Temer golpista”; por uma Constituinte Livre e Soberana, imposta pela mobilização e na perspectiva de organizar outros junhos com os trabalhadores, os jovens e o povo pobre pela base.

 
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