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REPRESSÃO POLICIAL
Entrevista com Mauro Santos, advogado negro espancado pela PM em Caxias
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As manifestações contrárias ao governo de Michel Temer vem sendo duramente reprimidas em todo o país. Entrevistamos o advogado Mauro Rogério Silva dos Santos, que aparece em vídeo sendo agredido pela polícia na dispersão do ato em Caxias do Sul na última quarta-feira (31).

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Mauro foi vítima de brutal violência e racismo policial, como mostram as imagens que viralizaram e indignaram milhares na internet. Ele, seu filho, um adolescente e uma ativista foram presos naquela noite na cidade de Caxias do Sul, assim como outros ativistas pelo Brasil. O Esquerda Diário manifesta solidariedade a todos os presos e agredidos pela polícia. Seguimos defendendo a retirada de todos os processos contra os que lutam.

Reproduzimos aqui a entrevista realizada com Mauro:

ED: Porque os policiais não o reconheceram como advogado?

Mauro: Olha, eu ainda me faço essa pergunta. Eu suspeito, não posso afirmar. Primeiramente se trata de uma questão de formação do policial. Ele tem o direito as prerrogativas dadas pelo Estado a ele, mas, tem muita dificuldade de entender as prerrogativas de outros, independente de qualquer coisa. Você soma a isso, que o outro ainda é de uma cor historicamente discriminada. Ai você tem um componente perigoso. Junta-se a isso o clima de tensão que o país está vivendo no âmbito político e ai você está diante do que aconteceu.

ED: ao que o senhor atribui tamanha violência policial?

Mauro:Essa violência policial eu penso que ela é, embora praticada ali pelo soldado, uma violência de Estado. A polícia é um órgão do Estado. Eu penso que há duas visões da polícia: uma como proteção das garantias da população e outra como órgão da proteção do Estado. Mas, a bem da verdade, a parte mais evidente é enquanto repressão, pois, o enquanto proteção da população ela é deficitária. Você não vê ela nas escolas, e falta efetivo nas ruas, mas, nessa matéria de repressão, com órgão de repressão do Estado não falta verba. Ai ela funciona. Dai surge a explicação da violência das polícias, é a priorização dela como órgão de repressão do Estado.

ED: O senhor e sua família foram ameaçados?

Mauro: Esse é uma assunto delicado. Por óbvio eu não vou citar fontes. Mas chegaram informações de duas fontes que eu não posso deixar de reconhecer alguma credibilidade. As informações eram de que nós seriamos mortos numa situação que nos colocaria na condição de marginais, numa condição desmoralizante. Segundo eles, a "bandidagem" estaria batendo palmas para o que aconteceu. E por isso eu e meu filho sairíamos desmoralizados.

ED: O senhor ou seu filho foram torturados na delegacia?

Mauro: Bom, o que eu considero tortura a bem da verdade, sim. Pois, uma coisa é me conter, outra e agredir e usar as algemas da forma como usaram. Isso começou ali na rua, mas, se intensificou dentro da delegacia até a chegada dos representantes da OAB. Ai eles começaram a ceder. O que ocorreu basicamente é que eles usaram as algemas para garrotilhar, para gangrenar as mãos. Bom, você pode ver como ficaram os meus punhos e minhas mãos, estão ainda inchadas. Além disso me pressionavam contra o chão de modo a não conseguir usar os pulmões, ao mesmo tempo que me apertavam a traqueia até eu desfalecer, numa brincadeira de faz morrer, deixa viver.

ED: Isso é comparável as agressões policiais contra negros nos EUA a pouco tempo.

Mauro: Isso, alguns amigos disseram que eu parecia o Rodney King apanhando daquela maneira.

ED: Outra questão é o tipo de contenção que demonstra o despreparo da polícia nessa abordagem. Como o senhor vê esse despreparo?

Mauro: eu tenho minhas dúvidas se é realmente um despreparo ou se é um preparo para aquilo mesmo. Porque sempre a gente ouve esse argumento de que é um despreparo, mas como tem despreparo né!? Como são corriqueiros os despreparos né!? Então, me parece que na caracterização daquela ação, o despreparo é para isso.

ED: Que encaminhamentos o senhor acha e esses policiais devem ter?
Mauro: Eu penso que a Brigada militar deve ter os órgãos de corregedoria dela que eu imagino que irão atuar. Da minha parte eu vou requerer aquilo que o direito me garante. Registrar ocorrência, instaurar o processo que for pertinente, contatar a OAB para a tomada de providências, para que ao final os culpados paguem suas penas. Eu não sou bom e não sou ruim, assim como eles, todos somos bons e ruins. O maniqueísmo é que é o problema, quando se quer apontar um ou outro como bandidos. Quem é a vítima afinal? Essa questão maniqueísta que cria "cidadãos de bem" e "cidadãos do mal" é que é o problema.

ED: O seu filho foi agredido e torturado também?

Mauro: Antes mesmo do fato que foi filmado, meu filho havia levado um tiro de borracha nas pernas e depois nas costas. Eu não cheguei a testemunhar o que fizeram com ele na delegacia porque estávamos em posições que não permitia que eu visse ele. Mas eu penso que a mesma técnica aplicada a mim, foi investida nele também. Os danos são irreparáveis, tanto físicos como psicológicos.

ED: O senhor acha que o impeachment consumado no senado tem alguma relação com o ocorrido?

Mauro: o que me chama a atenção é que não foi um fato isolado de Caxias do Sul. Ocorreram abordagens semelhantes no Brasil todo. Eu acho que foi uma ação organizada pelo governo, as secretarias da segurança pública facultaram, autorizaram para que isso acontecesse. Porque quando as passeatas eram pró impeachment a polícia agia bem diferente. O que eu acho até certo, porque todos tem o direito de se manifestar. Mas o outro lado tem o mesmo direito, que ai não é respeitado.

 
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