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Collor diz que o golpe foi em 1992 e não em 2016
Thiago Flamé

Todo o discurso de Collor esteve centrado em reivindicar o seu próprio governo e justificar o golpe institucional em curso. Não faltaram referências a figuras escravistas, oligarcas para defender uma tese profundamente antidemocrática, que faz jus a uma instituição imperial como o Senado.

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O deputado Bernardo Pereira Vasconcelos, que Collor cita para dizer que o golpe institucional é legitimo, era um escravocrata no parlamento do imperador Português. Embasado nessas concepções, não é difícil encontrar frases para justificar todo tipo de reacionarismo.

Só em uma instituição tão retrógrada e tão afastada da maioria do povo como o Senado, um personagem tão vil e rasteiro como Collor pode se por a dar lições de história aos demais. Além do escravocrata, citou outro personagem da historia nacional. Epitácio Pessoa foi o único presidente “eleito” enquanto estava fora do país, em eleições dominadas pelas fraudes e o cabresto da república dos oligarcas de Minas e São Paulo.

Para Collor a destituição do chefe do executivo se torna medida de governo. Reivindica esse “novo” conceito de Epitácio Pessoa para um parlamentarismo de oligarcas, que impunha permanentes estados de sitio que suspendiam as fracas garantias constitucionais. Aplicando essa noção para a realidade atual, quando também o impeachment se torna medida de governo, é a confissão de que as eleições não importam por que o governo não surge das urnas. Se o chefe de governo, eleito, por algum motivo se torna indesejável para as oligarquias que dominam o Estado, então o governo real dos bastidores tem como “medida de governo” o golpe institucional.

Sobre a comparação entre 1992 e 2016, a única coisa útil que fala Collor é que as condições são completamente diversas, mas não como ele quer. O mesmo instituto reacionário do impeachment, medida das oligarquias para resolver crises agudas sem participação popular e sem a intervenção do exercito como foi a regra no século XX, foi utilizado em sentidos diversos.

Em 1992 o golpe foi dado antes, nas próprias eleições de 1989, com a manipulação midiática escandalosa por parte da Rede Globo (chegaram a forjar o envolvimento do PT no sequestro de Abílio Diniz). Contra Collor se levantava o movimento operário, ainda que contido e sufocado pelos já conciliadores petistas, que não queriam defender a derrubada de Collor e só muito a contragosto levantaram a bandeira conservadora de impeachment. Só depois que o confisco das poupanças jogou a classe media na oposição ao governo, os ânimos da elite se voltaram para o impeachment com a intenção de evitar a explosiva unidade que poderia se dar entre as greves operárias e a insatisfação das classes medias contra o governo Collor.

Agora o filme corre ao contrário. Para chegar ao poder o PT vendeu o corpo e a alma para as elites que dizia combater. Mentiu sem nenhum pudor para seu eleitorado em 2014 e quando tentou aplicar o programa econômico exigido por essas mesmas elites se chocou com as esperanças da base que representava. Incapaz de controlar a base parlamentar, incapaz de conter as manifestações de massas como antes (como junho de 2013 e as greves de 2014 mostraram), a burguesia preferiu uma opção mais segura. Para dirimir a crise e tirar de cena o perigo de um protagonismo da juventude e dos trabalhadores, foi necessário um golpe institucional, uma “medida de governo contra a chefe do executivo” que tentava aplicar os ajustes pactuando e cooptando as direções sindicais e a posse de um governo que não teme ser impopular porque não responde em nenhuma medida às urnas.

Mas a crise política que termina nesta votação do Senado um dos seus atos, não se fechará agora. O PT de Lula e Dilma coerente com a sua política de ajustes a serviço da burguesia não organizou nenhuma luta seria contra o golpe. Deixam o trabalho sujo para o governo golpista de Temer e apostam em voltar triunfantes em 2018 para dirigir a recuperação econômica pavimentada pelas reformas neoliberais de Temer.

Mas a última palavra ainda não foi dita. O movimento operário, que está em certa medida desmoralizado pela política petista, poderá ainda se colocar em cena? A juventude, que não está nem derrotada nem desmoralizada, ainda pode se levantar e contagiar a classe trabalhadora?

 
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