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HISTÓRIA DAS MULHERES
O sinuoso caminho da liberdade e os direitos das mulheres
Celeste Murillo
Argentina | @rompe_teclas

Em um novo aniversário da mobilização pela “Emancipação das mulheres”, uma reflexão sobre as bandeiras de luta vigentes do movimento de mulheres dos anos 70.

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Em 26 de agosto de 1970, marcharam 20 mil mulheres na cidade de Nova York (EUA) exigindo igualdade. A mobilização foi convocada sob o lema “Emancipação das mulheres” e realizou-se no dia em que completavam 50 anos da aprovação da Décima nona Emenda, que garantiu o direito ao voto às mulheres desse país.

Essas mulheres que mobilizaram-se durante anos para que se reconheça um direito elementar, o sufrágio, sabiam (aprenderam com o cárcere e a repressão) que não conquistariam como resultado do “desenvolvimento e avanço” da democracia. Ao contrário, sua conquista implicou em um questionamento da democracia, como quando as sufragistas denunciaram que “nós mulheres dos Estados Unidos dizemos que os Estados Unidos não é uma democracia”.

A experiência histórica lhes deu razão e demonstrou que a igualdade ante a lei (o direito ao voto, que foi uma das primeiras demandas básicas que exigiram as sufragistas) nada tinha a ver com a igualdade ante a vida. As mulheres, mesmo conquistando o direito ao voto, enfrentavam a discriminação cotidianamente: recebiam (recebem) um salário menor ao de seus companheiros homens, eram depreciadas, sofriam violência e discriminação (uma realidade muito mais dura para as mulheres trabalhadoras, afro-americanas, latinas).

E, apesar de Betty Friedan, o dirigente da coalizão NOW que encabeçou a mobilização, talvez não conhecia (ou conhecia muito pouco) Lênin ou o legado da Revolução Russa, na verdade foi levado à mesma conclusão (que nas palavras de Lênin era: “a igualdade perante a lei não é igualdade perante a vida”).

Durante os 50 anos que separaram as duas mobilizações, sancionou-se a Lei de Igualdade Salarial nos Estados Unidos (1963), e no entanto em 1970 as mulheres levantaram a “Women’s Strike for Equality” (Greve de Mulheres pela Igualdade) para exigir o cumprimento dessa lei. Marcharam porque a igualdade legal não tinha nada a ver com a desigualdade real.

Essa marcha em Nova York se deu em um contexto de agitação social no qual se estendia o questionamento à democracia capitalista, que não tinha muito a oferecer à maioria: radicalizava-se o movimento negro, trabalhadoras e trabalhadores lutavam contra a precarização de suas condições de trabalho. A mobilização foi tão ampla que chegou a votar uma rede de creches e cuidado infantil, vetada mais tarde por Richard Nixon porque inspirava ideias de “criação comunitária” de meninos e meninas, e isso debilitava a família.

As mulheres não se detiveram nessas demandas; exigiram para si o direito ao aborto (que seria conquistado em 1973 na maior parte do país através do Roe vs. Wade), a criação de creches gratuitas, igualdade de direitos para acessar a educação e postos de trabalho... Enfim, igualdade, sem a qual era impossível pensar em liberdade, embora para a liberdade tiveram que recorrer a um caminho mais longo e sinuoso.

O aniversário repetido é um lembrete da constante necessidade da mobilização para garantirmos aqueles direitos conquistados, que em nenhum caso são dádivas de nenhum governo nem Estado.

Hoje, o direito ao aborto está sendo atacado em muitos dos países onde as mulheres conquistaram que fosse legal; aplicam-se restrições e criam-se obstáculos, enquanto sua ilegalidade segue gerando um verdadeiro “feminicídio” para as mulheres de grande parte do mundo (como na Argentina). A violência contra as mulheres cresceu à sombra da ilusão da ampliação de direitos, e sobretudo, a igualdade legal segue sendo a desigualdade real.

Embora muitas das feministas que ergueram o movimento pela emancipação das mulheres nos anos 60 e 70 tenham abandonado o horizonte revolucionário da transformação social, suas bandeiras de luta seguem vigentes, à espera dos braços de novas gerações que queiram levantá-las.

 
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