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ELEIÇÕES NA FFLCH USP
Eleições-farsa pra Diretor da FFLCH USP
Jéssica Antunes
Mateus Castor
Cientista Social (USP), professor e estudante de História

Nos próximos dias, acontecerá o processo eleitoral para Diretor e Vice-Diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Entenda essa farsa de democracia no regime universitário e quem são os “favoritos” para o cargo.

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Em meio à maior crise que a Universidade de São Paulo já viveu, em consonância com a situação de calamidade que se escancara a cada dia no Brasil, e após uma greve histórica, no dia 31 deste mês acontecerá a eleição do novo Diretor na FFLCH, onde concorrem duas chapas (veja aqui o calendário). A chapa “Ação Acadêmica” composta pela Profa Maria Arminda do Nascimento Arruda, do departamento de Sociologia, e pelo Prof Paulo Martins, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, é a favorita da Reitoria e com maior possibilidade de vencer as “eleições”. A outra chapa, “A FFLCH hoje e amanhã” é composta pelo Prof Osvaldo Luis Angel Coggiola, do Departamento de História, e pela Profa Tania Celestino de Macedo, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas.
Um processo eleitoral farsante e totalmente antidemocrático.

Por incrível que possa parecer, na universidade que figura no topo dos rankings de excelência no Brasil e na América Latina, que produz conhecimento de ponta, a eleição para os cargos de gestão é ainda menos democrática do que a da própria “democracia” brasileira, já profundamente questionada pelas restrições à esquerda e privilégios aos políticos empresários tradicionalmente no poder, e principalmente pela forte crise representatividade pela qual passamos.

Se o próprio cargo de diretor nos soa como algo autoritário, antiquado e conservador, uma pessoa é “eleita” para ter autoridade sobre o conjunto das categorias que compõe a comunidade, e ganha o poder mandar e desmandar ao seu bel prazer independente da vontade desta, é um assombro termos uma eleição indireta na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, onde votam cerca de 150 pessoas numa comunidade composta por mais de 15.000.
Para tentar mascarar esse processo profundamente anti-democrático, a Reitoria da USP e a Diretoria da FFLCH realizam uma “consulta à comunidade”, que eleição após eleição é completamente ignorada pela “casta” votante, composta majoritariamente por professores titulares, membros da Congregação da Faculdade e Conselhos de Departamento, onde a participação dos discentes e funcionários é meramente decorativa, não tendo qualquer expressão nas decisões.

Nos últimos anos nas consultas à comunidade, a chapa encabeçada pelo atual candidato ao cargo Prof Osvaldo Coggiola ganhou com a ampla maioria dos votos. Mas a farsa da democracia se escancara na enorme contradição de sua chapa nunca ter se aproximado da possibilidade real de ser eleita.

Uma chapa da Reitoria para dirigir em tempos de crise

Do outro lado, oposta à vontade da comunidade FFLCHiana, tradicionalmente está a chapa vencedora, a sempre “favorita” chapa “da Reitoria”. Nessas eleições essa chapa é representada pela dupla Profa Maria Arminda do Nascimento Arruda e Prof Paulo Martins. Para quem não os conhece, Maria Arminda até muito pouco tempo fazia parte da gestão Zago na Reitoria da Universidade, como Pró-Reitora de Cultura e Extensão. Reitoria essa que vem implementando o mais profundo plano de desmonte, precarização e elitismo que a USP já viu.
Em 2014, quando os funcionários da Universidade realizaram a histórica “greve dos 100 dias”, que conseguiu barrar a iminente desvinculação e desmantelamento do Hospital Universitário da USP, principal hospital da região, essa senhora foi a responsável pela condução da polícia até o piquete dos trabalhadores no Centro de Práticas Esportivas da USP. Nesta mesma greve, pôde cumprir também o importante papel a pedido do Reitor de sustentar teoricamente em reunião do Conselho Universitário que “os diretores de unidade não precisam se comprometer e votar de acordo com os posicionamentos deliberados em suas respectivas congregações”.
Na recente greve e ocupação que realizamos na Letras, uma de nossas exigências era o compromisso de que o Diretor votasse no CO de acordo com as deliberações da Congregação da FFLCH (favorável às cotas raciais na Fuvest e contra a desvinculação do Hospital). Maria Arminda deixa claro com seu “currículo” que vai contra esse comprometimento mínimo da direção com os posicionamentos de seus órgãos colegiados, compostos, ainda que desproporcionalmente, pelos professores, funcionários e estudantes que todos os dias fazem com que a universidade siga existindo.

Retomando a recente greve, podemos também elucidar quem é o Prof Paulo Martins. Atual vice no cargo de chefe do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Letras, desde o início da mobilização pela demanda de professores se recusou terminantemente a revelar os dados de defasagem de professores em seu departamento que, sabemos por experiência própria, sofre com falta de professores. Com as salas de suas aulas completamente lotadas e com alunos sentados no chão, age como se o quadro de docentes estivesse absolutamente adequado. Vejamos por aí seu padrão de qualidade de estudo e ensino.

Paulo Martins, em completa consonância com a linha repressiva de sua “dupla” de chapa, foi um dos mais intransigentes na negociação com os estudantes e trabalhadores na recente greve, defendendo até o último minuto que o salário dos funcionários fosse cortado e passassem fome se quisessem exercer seu direito democrático de greve. Dessa forma, fica explícito que quando dizem em seu programa que é preciso “afastar toda e qualquer atitude baseada na violência explícita e simbólica” da FFLCH, não dizem isso a respeito da polícia ou de medidas repressivas, mas sim dos métodos dos trabalhadores e estudantes de greve, piquete e ocupação que tanto os assustam. Fora isso, nenhuma palavra sobre as demandas da comunidade FFLCHiana, como as cotas raciais, consta em seu programa.

Ou seja, é uma chapa que se afasta da comunidade acadêmica e se aproxima cada vez mais da Reitoria. Reitoria essa que, com sua lógica cada vez mais produtivista e contrária aos princípios básicos de uma universidade pública, gratuita e de qualidade, deixa à míngua a FFLCH. Essa faculdade, que se dedica às grandes ideias e a um conhecimento de pouco interesse mercadológico, é a última a ser olhada por essa Reitoria. O que esperar de uma chapa que defende os interesses de um reitor que considera “inútil” a nossa faculdade?

Porque é urgente democratizar a Universidade de São Paulo?

Infelizmente, ainda que ambas as chapas falem em democracia, não encontramos em nenhuma delas sequer um questionamento da sua não existência nesse processo. Uma completa legitimação da “não-eleição” para a direção da nossa faculdade, que longe de “representar” os interesses dos três setores que a compõem expressa apenas os interesses materiais de manutenção de privilégios de uma ínfima minoria.

Em tempos de crise política, econômica e social que vivemos em nosso país, toda nossa sociedade se polariza entre duas possibilidades de resposta, conflito que se expressa agudamente em nossa universidade. Há aqueles que defendem manter os lucros dos empresários e que os trabalhadores paguem pela crise, com corte de salários, demissões, retiradas de direitos (creches, permanência), privatizações. Na contramão dessa alternativa, queremos que a crise seja paga pelos empresários, sem nenhum direito retirado, pelo contrário: queremos sua ampliação.
Queremos conquistar uma universidade com qualidade para quem trabalha e estuda, com permanência para toda a demanda e a derrubada imediata dos muros do vestibular que separa a juventude de São Paulo da Cidade Universitária, começando pela implementação das Cotas Raciais imediatamente. Uma universidade sem fundações privadas, que tenha seu conhecimento voltado para a necessidade da população trabalhadora.

Isso jamais poderemos conquistar enquanto estivermos sob um regime antidemocrático, pautado em estatutos herdeiros da ditadura, com Diretores e Reitores que nem ao menos são eleitos pela comunidade universitária. E mesmo que fossem, ainda estariam submetidos aos políticos de nosso país que já demonstram para todos que governam em função de lucros bilionários e não dos interesses populares.

É preciso conquistar uma verdadeira democracia retirando o poder da universidade das mãos desses verdadeiros parasitas, extinguindo esses retrógrados cargos centralizadores e o atual conselho universitário composto apenas por empresários e professores cheios de privilégios, e colocando-a nas mãos dos estudantes, que somos maioria, professores, trabalhadores e da comunidade externa que a financia.
Os tempos e as medidas para enfrentar a crise se aceleram rapidamente, como podemos ver claramente na consolidação que se aproxima do golpe institucional dado pela direita, com a conivência da não luta do petismo. É preciso disputar os rumos destes que são os principais polos de produção do conhecimento para que estejam a nossa favor e não contra nós.

 
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