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RACISMO NA USP
Sem cotas, a Medicina da USP não abrirá vagas para o ENEM também
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED

A Faculdade de Medicina da USP anunciou que, dentre as 250 vagas que abre para ingressantes a cada ano, zero será o número delas reservada para o ingresso pelo SiSU através do ENEM, que havia sido a única concessão para cotas na universidade mais racista e elitista do país.

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Foto: JF DIORIO /ESTADÃO

Uma das principais demandas da greve de mais de dois meses não apenas na USP, mas na Unicamp, reunindo milhares de trabalhadores, estudantes e docentes, era que essas duas universidades finalmente tivessem cotas para negros e indígenas. A tentativa de mascarar essa recusa foi ampliar o ingresso de vagas pelo ENEM, abrindo uma possibilidade de que cada unidade da universidade discutisse em suas congregações uma reserva de vagas dentre essas para cotistas, com diversas possibilidades de combinação entre cotas raciais e por renda. Essa foi a forma encontrada pela reitoria de tentar se isentar da responsabilidade de continuar mantendo seu racismo e elitismo ao impedir os negros e indígenas de ingressar na universidade, e tentar fazer com que funcionários, estudantes e docentes lutassem separadamente em cada unidade pressionando as direções locais por mudanças.

Foi uma conquista parcial essa ampliação do ingresso e vagas pelo SiSU, muito aquém do que seria necessário. A implementação de cotas proporcionais à população negra e indígena do estado de São Paulo seria uma importante vitória dos que lutam pela democratização da universidade, mudando bastante o perfil do corpo discente, predominantemente branco e vindo das escolas particulares.

De cem mil estudantes que se inscrevem no vestibular da USP todo ano, aproximadamente noventa mil ficam excluídos. As cotas mudariam o perfil dos ingressantes e seriam uma conquista muito grande, como mostram as experiências em universidades federais, onde hoje se vê estudantes negros em toda a parte, muito diferente do que ocorre na USP ou Unicamp. Contudo, a exclusão da maior parte dos negros permaneceria, pois a realidade de nossa sociedade capitalista é de um racismo tal que, enquanto houver um estudante excluído da universidade, ele certamente será negro. Por isso colocamos a necessidade de lutar pelo fim do vestibular, com a ampliação das vagas para atender toda a demanda e fazer valer a educação superior como um direito universal. Isso seria possível a partir da estatização das universidades privadas, tirando da mão dos empresários a “educação como negócio”, e com fim do pagamento da dívida pública para ter dinheiro para investir na ampliação da educação.

Contudo, mesmo a conquista que tivemos da ampliação de vagas para o SiSU foi sumariamente ignorada pela Faculdade de Medicina, um dos cursos mais elitizados da universidade. A Congregação dessa unidade – órgão máximo de deliberação de cada faculdade ou instituto – decidiu que destinaria zero vagas entre suas 250 para o ingresso pelo ENEM. Não acompanhamos o debate da Congregação, mas, conhecendo os debates que já se desenvolveram anteriormente no Conselho Universitário – órgão máximo de deliberação da USP – pode-se imaginar o teor das considerações do diretor e professores que compõem esse colegiado. Argumentos como o de que a qualidade dos alunos cairia (o que é, aliás, desmentido por diversos estudos já realizados nas universidades federais que há vários anos já contam com sistema de cotas), mal disfarçam o racismo institucional que está por trás da recusa das cotas.

Seguiremos desafiando esse racismo da USP com a organização dos setores que, dentro e fora da universidade, lutam contra essa herança de um Brasil escravocrata, que traz como marca uma das burguesias mais racistas do mundo. Lutaremos até o fim pelas cotas para negros e indígenas, e pelo fim do vestibular, estatização do ensino privado e acesso universal à educação.

 
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