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DOSSIÊ TROTSKY - 77 ANOS
O trem blindado do camarada Trotsky
Patricio Sandrini

O texto abaixo é parte de um dossiê que o Esquerda Diário está organizando em memória aos 76 anos do assassinato de Léon Trotsky, ocorrido no dia 21 de Agosto de 1940. Não são muitos os que conhecem a história do “trem blindado de Trotsky”. Uma resenha sobre o papel que cumpriu na resistência aos exércitos que buscaram destruir o primeiro Estado operário da história.

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É justo que digamos algo acerca do célebre “trem do Presidente do Conselho Revolucionário de Guerra”. Com essas palavras, começa o capítulo que Trotsky dedicará em sua autobigrafia, Minha Vida, ao trem blindado que o levaria a percorrer o front durante a guerra civil entre 1918 e 1921.

Para enfrentar o avanço reacionário, o Partido Bolchevique conseguiu por em pé um exército de cinco milhões de homens. Trabalho árduo em um país que vinha já de três anos de guerra imperialista (a Primeira Guerra Mundial havia começado em 1914) e se encontrava devastado economicamente. Um país em que as consignas de “paz, pão e terra” haviam sido os motores da revolução, contra a opressão do exército czarista que compulsivamente levava operários e camponeses a morrer nos campos de batalha para proteger seus privilégios.

Trotsky assume a direção militar e política da resistência, organizando o Exército Vermelho. Para dirigir um exército tão grande, em um front tão grande, valeu-se do célebre “trem blindado”, preparado para a guerra em apenas uma noite logo após haver sido expropriado o antigo Ministro de Desenvolvimento. Trotsky diria em Minha Vida que “era um vagão magnificamente equipado para o conforto de um ministro, mas pouco cômodo para trabalhar”. Ali passaria dois anos e meio de sua vida organizando as frentes de batalha, encaminhando provisões às tropas e, principalmente, levantando a moral, “levando o cimento das lições da revolução de Outubro a todas as frentes”.

O trem blindado de Trotsky contava com uma organização de secretaria, uma imprensa, uma estação telegráfica, um centro de rádio e outro elétrico, uma biblioteca, uma garagem para vários automóveis e um tanque de gasolina e uma estação de banheiros. Transportava sempre entre duzentos e trezentos soldados, uma reserva de militantes comunistas que se dividiam entre frentes de batalha, armas e provisões. Era tão pesado que necessitava de locomotivas para mover-se.

Ainda que não haja dados exatos, estima-se que o trem percorreu ao menos 105 mil km em menos de três anos. Outras versões dizem que deu a volta ao mundo, ao menos, cinco vezes e meia. Nesse longo percurso, várias vezes foi baleado ou sofreu bombardeios aéreos. Não apenas pelo importante papel militar e político que cumpria, sempre correndo atrás dos lugares mais críticos da frente de batalha, mas também em grande medida por seu papel moral no enfrentamento bélico. A mera presença do “trem blindado do camarada Trotsky” enchia o peito de valor de (na maioria das vezes) abatidas tropas. “Sua visita vale por toda uma divisão da reserva”, conta Trotsky que se referiam a ele alguns dos chefes militares das zonas que visitava. Do mesmo modo, a lenda que se tecia ao seu redor chegava aos ouvidos das tropas imperialistas, reforçando a influência moral que o trem exercia.

Relata Trotsky em Minha Vida que, passando por Riazan (zona rural aleijada do front), decidiu ver aqueles jovens camponeses marcados por “desertores” por não haverem se alistado ao Exército Vermelho. Os “desertores” haviam imaginado um Trostky muito mais aterrorizante, mas se depararam com um ser humano de carne e osso que, em uma hora e meia, conseguiu infundir confiança em suas próprias forças e nutri-los do “espírito soviético”.

Terminaram prometendo fidelidade à revolução. Muitos dos 15 mil “desertores” que ali se encontravam converteram-se em excelentes soldados. Quando algum mostrava sinais de resistência diante de uma ordem, era comum ser recordado da promessa feita ao camarada Trotsky.

Trotsky encorajando as tropas russas desde o trem blindado

Ao contar com uma imprensa, o trem editava várias publicações por vez. Além das ordens militares, publicava dois periódicos: A caminho era o órgão oficial, enquanto Montando a guarda seria a publicação dos bolcheviques que ali se encontravam. Realizava, por sua vez, um importante papel social: apadrinhava um distrito camponês e vários orfanatos.

O trem se tornaria um quartel general montado sobre rodas. Correndo atrás de cada crise que se abria em uma guerra desigual, sua atuação resultou determinante para a defesa da revolução russa. Lamentavelmente, grande parte de sua história acabou perdida nos expurgos realizados pelo stalinismo. Contudo, assim como as lições da Revolução de Outubro, a história do “trem do Presidente do Conselho Revolucionário de Guerra” mantém vivo o legado de um dos maiores revolucionários da história e aviva a chama daqueles que hoje em dia continuamos em luta.

Veja também: Porque o estudo de Trotski pode ajudar a pensar a crise econômica hoje

Tradução: Vitória Camargo

 
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