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TRIBUNA ABERTA
Empoderamento vende!
Alice Silva, estudante de nutrição da UNIP Campinas

Empoderamento, termo que vemos e ouvimos diariamente não é mesmo? Mas oque acontece que em meio a era capitalista e opressora a qual vivemos, um termo como este esta aparecendo tanto juntamente com o feminismo?

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O capitalismo, esse sistema que transforma em mercadoria tudo que toca ( inclusive o feminismo e agora o empoderamento) ataca novamente trazendo a "pura e boa vontade" de empoderar a mulher, a mulher negra e a comunidade LGBT. Seria cômico se não fosse trágico não é? Convenhamos que não há um dia que se passe e a gente não escute uma das duas palavras nos meios de comunicação.

É a nova temporada de Game Of Thrones toda feminista, o retorno das Meninas Super Poderosas. É Playboy cortando o cachê pago às mulheres que posarem nuas alegando que terão espaço na revista para expressar suas idéias e sua história e que não se deve lucrar em cima do corpo delas, o que é o cúmulo porque a venda da revista e as fotos nuas continuam e eles permanecem lucrando. Temos também a Barbie que agora lançou a Barbie negra de trança ou black, plus size e tudo mais.
Temos a Avon, natura e boticário nessa também na produção de maquiagens e afins para peles negras, ou propagandas com representatividade.

Mas oque à de errado nisso? Nessa preocupação repentina pela sociedade e a minoria? Não é oque nos desejamos? Representatividade? Como diz a escritora e ativista Joice Berth, não queremos representatividade queremos proporcionalidade.
Somos mais de 50% da população ou parte dela, então temos que estar em tudo e isso não é um favor (então sem biscoito pra qualquer marca que fale sobre a minoria).

Em torno da década de 40 dois homens chamados Adorno e Horkheimer fizeram um estudo sobre a Indústria Cultural, que fala sobre a situação da cultura no sistema capitalista onde tudo vira mercadoria. Discutem basicamente que os meios de comunicação (tv, rádio, jornal e agora a internet) seriam uma base de alienação, uma não compreensão do real sentido das coisas ou de um todo. Como a cultura (a arte, a música, as peças de teatro, a moda) passam por esses meios de alienação em massa, a cultura, nas palavras dos autores tem sido uma ideologia de falsa consciência e uma inversão da realidade, ou seja, sim a TV manipula e que qualquer coisa que não é interessante a eles é abafada até que ninguém mais ouça falar. Temos aí nas olimpíadas o caso do Arthur Nory Mariano que mudou o nome no intuito de abafar o passado racista. Essa indústria cultural quando não consegue sufocar a minoria que se sobressai tem em sí o ato de assimilação, ou seja "se vai ficar aqui dançando contra minha vontade que dance então a minha música".

E é exatamente isso que todas essas marcas tem feito, uma inversão da realidade, uma ideologia de falso consciência. É até legal ver as marcas empoderando as mulheres e as minorias, mas qual o real intuito nisso? Porque somente na internet quando na televisão ainda fazem comerciais pra servirem a tradicional família brasileira? E o lucro em cima disso tudo? Façamos essas perguntas e não sejamos ingênuas, porque essas empresas não receberam um sopro de consciência e decidiram que sim, é importante falar sobre a mulher e as minorias do nada.

Temos que falar de idéias que vem de baixo pra cima, idéias marginalizadas e abafadas, mas com a nossa própria concepção porque eles não podem mais nos calar. O racismo não vai acabar com os negros em novelas, revista ou comerciais, essa opressões não vão ser superadas numa sociedade capitalista, porque essa sociedade capitalista só se mantém porque a premissa principal é existir a desigualdade, é existir pessoas que possam servir e pessoas que possam dominar e nisso o empoderamento tem se tornado algo ruim, porque é isso oque eles querem, além de mercadoria virou forma de opressão.

Não adianta nada eu estar bem comigo mesma ter colocado na cabeça que sou uma mulher linda, andar com a plaquinha do empoderamento mas oprimir a garota negra do meu bairro pelo cabelo, roupas ou qualquer coisa. Louvar a Mc Carol como diva e afins e achar absurdo a moça acima do peso não estar em acentos reservados a ela. Dizer que quem não tem útero não tem opinião e calar as miga trans e travestis.

É fácil falar de empoderamento portando conjunto adidas, piercing indiano e belas tranças, mas e as minas do seu bairro? O que elas sabem sobre empoderamento e o que você faz por elas? Na real o que você sabe sobre empoderamento? Virou mercadoria, empoderamento vende.

Isso não se trata de se vestir bem. É fazer você e qualquer minoria se sentir bem sendo quem é e oque quer ser, é te lembrar a sua real importância e enaltecer oque você tem de melhor. É legal ver a minoria vencendo sim, é legal ver a minoria aparecendo sim, mas é importante olharmos pra isso com um olhar bem crítico e fazer qualquer marca ter medo quando for se referir a gente, porque vai ter vídeo, vai ter textão, vai ter ato, e a gente vai falar e até desmascarar.

Não aceitemos migalhas porque se houve mudança até aqui quem fez acontecer fomos nós, a nossa mobilização e de gerações passadas. O empoderamento individual é importante mas precisamos também empoderar as minorias que nos cercam, não restringir só a mim e sim xs gay, xs bi, as trava, as sapatão, xs negrxs, as mulheres e juntas nos voltarmos contra esse sistema capitalista e opressor que só faz nos dividir, nos matar, extorquir e explorar.

Diga a uma negra o quanto ela é linda, lembre ela da sua ancestralidade, que sua história não foi só marcada por escravidão. Diga a comunidade LGBT a sua história marcada por luta, fale sobre Stonewall. Diga a mulher que a culpa não é dela, enalteça oque ela tem de melhor e que ela pode fazer oque quiser sem peso algum. Empoderar é isso.

 
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