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LETRAS USP
Gestão Por Isso Me Grito convoca debate sobre proporcionalidade
Flávia Toledo
São Paulo
André Arruda

A gestão Por Isso Me Grito do Centro Acadêmico de Letras da USP, fez um chamado aos estudantes para discutir proporcionalidade na gestão do centro acadêmico e demais pontos relevantes do estatuto da nossa entidade para esta quinta-feira, dia 18/08.

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Defendemos a proporcionalidade na gestão do CAELL desde a nossa campanha eleitoral e em cada debate cotidiano que tivemos com os estudantes ao longo desses meses de gestão. E defendemos esse método por entendermos que é esse o método mais democrático. Uma gestão proporcional se configura da seguinte maneira: todas as chapas participantes do processo eleitoral compõem a gestão da entidade de maneira proporcional ao número de votos que levarem. Dessa maneira, todas as vozes que foram votadas pelos estudantes se expressarão na entidade e as decisões serão tomadas pela base dos estudantes organizados em assembleia do curso. Os espaços de divulgação do CAELL, como a página do Facebook, levariam aos estudantes as diferentes opiniões existentes na gestão, e cada posicionamento divergente seria apresentado para o curso e debatido, proporcionando a experiência com as mais diversas concepções políticas.

Isso, entendemos nós, significa fazer política de maneira madura e verdadeiramente democrática. É impedir que grupos políticos tomem as entidades como brinquedos particulares que sirvam unicamente para seus interesses, coisa que vimos acontecer por anos na Letras e no DCE. A gestão proporcional pressupõe um amplo debate cotidiano, com as diferentes posições tendo de se testar na realidade e com a base dos estudantes se colocando como sujeitos da política no movimento estudantil e social.

Nossa intenção no CAELL não é e nunca foi alçar-nos pessoalmente para conseguir qualquer tipo de benefício, e sim fomentar o debate e a mobilização na Letras, na USP e fora dela. Responder à profunda crise pela qual passa o país a partir do maior curso universitário do Brasil, com milhares de estudantes que querem e precisam se posicionar frente ao que vivemos. Nossa gestão tem, sim, falhas. Nunca tivemos a ilusão de que ela seria perfeita. Desde que assumimos, sabíamos que não poderíamos responder até o final ao conjunto de responsabilidades históricas que temos enquanto estudantes de uma universidade pública na atual conjuntura, pois compomos uma gestão única de uma entidade que representa mais de 5000 estudantes. Não podemos representar a todos, pois a forma como se dá essa gestão não é profundamente democrática.

Esta é uma forma que carrega os vícios de uma tradição sindicalista do país pouquíssimo combativa, que se aliou com os patrões e governos traindo a sua base. Essa tradição tem como principal força a CUT, que traiu e trai a classe trabalhadora, e a UNE no movimento estudantil. Uma entidade engessada e aparatista, que beneficia seus diretores e que treina sua casta burocrática nas entidades estudantis Brasil afora afastando-as da base dos estudantes, imobilizando-os e fomentando a ilusão de que pode responder sozinha aos anseios de milhões de jovens. Não é nesse movimento estudantil que acreditamos, e nossa gestão tem como principal tarefa fomentar uma nova tradição de movimento.

Mas por que não iniciamos o debate antes?

A resposta, sincera e fraterna, é a de que não tivemos condições de fazê-lo antes. Tomamos posse em dezembro de uma entidade fantasma, uma porta que servia café e que por dois anos teve à frente uma gestão que escondia seus posicionamentos políticos. As gestões Ruído Rosa, que se transformaram na chapa Candeia no processo eleitoral pra 2016, despolitizaram, desmobilizaram e aprofundaram o distanciamento entre o CAELL e os estudantes de Letras. Muitos estudantes sequer sabiam a função de um centro acadêmico. A votação expressiva, com ampla diferença de votos que tivemos, nos apontou que os estudantes da Letras viram em nós o que faltava nas antigas gestões. Se desenhava um processo reacionário no país, o sucateamento da universidade se aprofundava, os secundaristas nos davam uma aula de luta e não era mais aceitável que a gestão da entidade representativa dos estudantes fosse apenas um grupo de amigos que sequer conseguia apresentar uma proposta política nas assembleias que convocava unicamente por pressão do movimento.

Nos propusemos a ser uma gestão que se ligasse à luta de toda a juventude, das mulheres, negros e LGBTs, sem perder de vista a importante aliança com os trabalhadores. Que fosse politizada e combativa. Trabalhamos para isso. Organizamos uma calourada que reivindicava a luta da juventude secundarista e que apresentou, sem qualquer floreio, a atual situação da universidade pública, chamando todos os ingressantes a se colocarem na linha de frente da luta por uma educação pública gratuita e de qualidade para todos.

Tendo nas mãos um centro acadêmico que fora abandonado numa situação de desmonte da universidade, enfrentamos também um fenômeno profundamente delicado no país. O processo de impeachment abalou toda a estrutura política do Brasil. Para além de como nos posicionamos em relação ao impeachment, e dentro da gestão se expressam posições divergentes - a ampla maioria, incluindo a Faísca (grupo político que compõe a gestão), considera que foi um golpe institucional; um outro setor considera que foi apenas uma manobra reacionária -, o fato incontestável é de que esse processo muda tudo e expressa um descontentamento geral em que ainda não nos está dado para onde vai caminhar. Não se propor a responder à atual situação política do país é negligenciar uma inflexão histórica e isso seria um erro grotesco. Não nos ausentamos do debate, pelo contrário: nós o incentivamos. Defendemos nossa posição, travamos duras disputas, fizemos questão de levar para o curso a tarefa de responder ao que aconteceu.

Por coincidência, no dia em que o governo, golpista para alguns, ilegítimo para outros, assumiu, iniciamos uma greve estudantil. Uma greve da qual a Letras foi pioneira a partir de uma assembleia de centenas que deliberou, também, por ocupar o prédio, assim como fizeram os secundaristas. A nossa atuação serviu de exemplo de luta para toda a universidade. É verdade que as condições objetivas para incentivar os estudantes a lutarem eram enormes, mas basta conversar com estudantes de outros cursos, principalmente os que se mobilizaram pela primeira vez, para perceber a importância que a medida que tomamos teve para o movimento estudantil. O apoio à ocupação foi muito amplo. Apareceram ocupações em diversos cursos, levaram nossos informes para todas as assembleias, recebemos apoio dos secundaristas, nossa luta inspirou uma ocupação no Rio Grande do Sul... Não fizemos pouca coisa.

A mobilização da Letras se deu com um novo setor, e a ocupação que durou quase dois meses só foi possível porque um amplo setor de estudantes estava a par da situação da universidade e se colocando como sujeitos políticos da luta. Os estudantes da Letras protagonizaram uma luta conjunta com os trabalhadores em que eles mesmos dizem que nunca tinha acontecido e que foi extremamente moralizante, e essa aliança não surgiu do nada: ela foi construída com muito debate e esforço político principalmente da nossa gestão.

É verdade que não fizemos o debate a respeito da proporcionalidade ainda, mas fizemos na prática uma disputa por maior democracia no movimento estudantil. Travamos uma forte disputa para que se conformasse um comando estadual da greve, com delegados eleitos pela base, que dirigisse o processo. Fizemos o mesmo na USP, e defendemos até o fim que fosse o comando, e não o DCE, que dirigisse a greve, porque assim seria muito mais democrático e representativo. Assim como, na Letras, o CAELL se dissolveu e a direção do movimento foi tomada pelo conjunto dos grevistas. A defesa que fizemos nas assembleias de greve de que a eleição de delegados se desse por chapas que elegessem proporcionalmente os delegados do curso pro comando é uma experiência com a defesa que fazemos da proporcionalidade. As ideias diversas devem estar representadas. Na reunião de negociação para a qual foram chamados membros dos centros acadêmicos enviamos representantes das duas chapas mais votadas para o comando de greve, e não dois membros da gestão. Isso, para nós, significa democracia de base.

Travamos as batalhas necessárias em cada momento ao longo dessa gestão. Por isso fazemos questão de responder a acusações baixas de que trazemos esse debate agora por oportunismo. Entendemos que ser oportunista é querer que uma entidade estudantil seja um brinquedo para atender aos seus interesses. É resumir a entidade a uma cafeteira. Nós defendemos outro tipo de entidade, que seja profundamente democrática, que traga os estudantes para serem sujeitos políticos, e por isso fazemos questão de organizar todas as atividades com pessoas de fora da gestão e trazemos debates políticos que vão para além da Letras.

Da mesma maneira que demos um exemplo com nossa ocupação, podemos dar um exemplo nacional de como deve funcionar uma entidade. Por isso queremos discutir o nosso estatuto como um todo, e não apenas como se dá o modelo de gestão. Queremos discutir o nome do CAELL. Queremos discutir o fato de não haver uma única linha sobre o combate à opressões no estatuto, e outras tantas questões que podem aparecer e que queremos que os estudantes nos apresentem e que se posicionem. Há uma crise de representatividade no país e os conflitos das ruas nos mostram que as velhas formas de fazer política não dão mais. Precisamos forjar uma nova tradição.

Primeiramente, um governo que não nos representa segue no poder. Em segundo lugar, o ano não acabou e os ataques à universidade também não. Ainda há muito debate a ser feito, muita luta a ser travada e enorme disposição para repensarmos nossa entidade.

Reiteramos o chamado a todas e todos para que participem dos debates que virão.

Pensemos coletivamente.

 
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