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LIBERDADE PARA BELÉN
Você sabe quem é Belén? Uma presa devido a um aborto espontâneo
Odete Assis
Mestranda em Literatura Brasileira na UFMG

Uma grande campanha na Argentina intitulada #LibertadParaBelén toma as mídias e as redes sociais, conheça um pouco sobre a história dessa mulher

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Belén é uma mulher Argentina que está presa há mais de dois anos. Seu crime? Ter sofrido um aborto espontâneo em Tucumán, província Argentina, e procurado o hospital devido as dores abdominais. Foi o suficiente para que sem nenhuma prova fosse acusada de “homicídio duplamente qualificado por vínculo”. A grande questão é que nunca houve uma verdadeira investigação sobre o caso. A justiça com todo seu reacionarismo julgou e condenou Belén a 8 anos de prisão, sem nem ao menos ter feito um exame de DNA que comprovasse que o feto encontrado no banheiro do hospital era dela, sem nem ao menos ter ouvido e levado em consideração a sua versão.

Os mais de 900 dias de prisão de Belén escancara como o Estado Capitalista pretende controlar nossos corpos. Todo esse absurdo gerou uma enorme revolta nos movimentos de mulheres e partidos de esquerda argentinos, que passaram a organizar massivas mobilizações pela Liberdade para Belén e uma ampla campanha democrática, que conta com apoio de artistas, médicos, trabalhadores, deputadas e deputados de esquerda, que não aceitam esse absurdo.

A forte mobilização exigindo #LiberdadParaBelén tem se tornando um fator na Argentina assim como aconteceu com as massivas mobilizações do NiUnaMenos, obrigando a que os grandes meios de comunicação pautassem o caso, claro que para colocar todo o seu conteúdo reacionário, numa cruzada contra os direitos das mulheres.

Foi com Belén, mas poderia ter sido comigo, poderia ter sido com você

Esse caso nos mostra a impunidade com a qual a justiça conta para criminalizar as mulheres. Uma justiça machista e de classe, que condenou Belén por ser mulher, jovem e pobre, por não ter tido o direito à educação sexual, nem contracepção gratuito, nem ao aborto não passível de punição, nem sequer ao direito à saúde. Uma justiça que a condenou justamente porque ela não teve acesso a tudo aquilo que essa sociedade machista e patriarcal nos nega.

Belén poderia ser eu, poderia ser você, poderia ser qualquer uma de nós que saímos às ruas na primavera das mulheres, que lutamos contra o governo golpista e os ataques do PT, poderia ser a terceirizada que limpa o chão da minha faculdade, a operária que acabou de ser demitida da fábrica, a jovem desempregada, a secundarista que ocupou sua escola e que devido a proibição do debate sobre gênero e sexualidade não teve acesso métodos preventivos da gravidez. Belén somos todas nós, que temos não temos o direito ao nosso corpo, enquanto o Estado, as igrejas e a mídia ditam as regras do que podemos ou não fazer.

Lutar pela liberdade de Belén é lutar pela liberdade de todas nós. É parte da mesma luta que nos levou às ruas ano passado contra o PL 5069, que nos fez gritar Por Todas Elas, que nos fez lutar contra a violência de gênero fruto dessa sociedade machista. Por isso é fundamental que cada jovem que saiu às ruas na primavera das mulheres, agora também se coloque em luta pela liberdade de Belén.

Reproduzimos abaixo a carta escrita por Belén, lida por sua advogada Soledad Deza, horas antes das massivas mobilizações que tomaram diversas cidades Argentinas exigindo sua liberdade:

Buscam culpados ou buscam justiça?

Nesta sociedade muitas vezes para ocultar algo buscam alguém a quem colocar a culpa. Assinalam com o dedo as pessoas a que não podem defender e se as acusam. Não as escutam. São culpados por sua cara, por sua roupa, por ser pobres o por ser mulher como eu.

A nada lhes importou o que eu tinha para dizer. Eu disse minha verdade, porém ninguém me escutou. Acreditavam que eu era culpada apenas por me ver. Todas falam de mim como se fosse um monstro.

Agora sinto que estou, mais perto de que se faça justiça para mim. Sinto que por fim minha palavra vale. Porém cada noite quando eu vou dormir penso que eu estou aqui e os que me acusaram, marcaram e condenaram estão lá fora.

Para eles é a liberdade, para mim o cárcere. Esta sociedade se converte em sujeira cada dia que passa sem que haja justiça. Durante dois anos e quatro meses que não volto a minha casa, que vejo minha família. Isso é o que mais lamento. Que me separaram da minha família

Graças a todos que pedem por mim e os que me acompanharam desde todos os lugares. Se que faça marchar por mim. Desejo que nenhuma outra mulher tenha que passar pelo que estou vivendo.

Muito, muito, muito obrigada por lutar por mim.

Belén

 
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