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TROTSKISMO
Inédito: A importância e os métodos da propaganda antirreligiosa
Celeste Murillo
Argentina | @rompe_teclas

O texto que apresentamos faz parte de uma compilação realizada por Jerome Davis, um sociólogo e organizador sindical dos Estados Unido em meados de 1925. Segundo a fonte consultada, a compilação Labour Speaks for it self on Religion apareceu com data de publicação 1924 ou 1925; também, consta uma publicação de 1929 feita pelo editor MacMillan.

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O texto de León Trotsky fez parte da seleção de Davis com a finalidade de dar uma visão sobre as ideias e a politicas das corrente do movimento operários internacional sobre a religião; Fizeram parte da publicação textos de Lenin e Lunacharsky; também de autores da Alemanha, Grã-Bretanha, Bélgica (entre outros europeus), Austrália, Japão e China.

Em "A importância e os métodos da propaganda antireligiosa", León Trotsky revolve um dos aspectos que cruzou as principais batalhas politicas da jovem Revolução Russa de 1917; a luta contra a igreja. Até a revolução, esta instituição dominava todos os aspectos da vida, desde o nascimento até a morte. Quando se põe de pé o primeiro Estado operário, se estabelecem os primeiros registros civis, para eliminas na raiz a ingerência da instituição sobre os assuntos da vida cotidiana e, por essa via, sua influência conservadora.

O questionamento das superstições e dos misticismos da religião foi mais um dos grandes debates com a Igreja. Neste pequeno texto é possível ver algumas das discussões que realizavam os bolcheviques. Na busca das melhores estratégias para disputar com a instituição religiosa os setores menos ativos da sociedade, encontramos os rastro de uma batalha colossal: banir os preconceitos que a classe dominante fortaleceu por séculos para justificar a ordem estabelecida. Acompanhavam esta luta os esforços para modificar as condições materiais que seriam a base de uma verdadeira emancipação.

A vida mudou descomunalmente desde os anos de 1920 quando se publicou este valioso trabalho de Trotsky, que concentrava reflexões e debates da Revolução Russa. Sem dúvida, a vida social atual, inclusive nas democracias capitalistas (degradadas em maior ou menor grau) que se gabam da ampliação de direitos a vários setores da população, segue em grande medida marcada pela ingerência de instituições religiosas. Como há quase um século, a luta pela separação da igreja do Estado, segue sendo uma necessidade indispensável para os setores oprimidos, e os debates sobre a religião e como questiona-la mantém sua vigência.

A importância e os métodos da propaganda antirreligiosa
León Trotsky

Hoje é absolutamente evidente e esta fora de discussão o fato de que não podemos por nossa propaganda antirreligiosa em um nível de luta aberta e frontal contra Deus. Isso não seria suficiente. Substituiremos o misticismo pelo materialismo, através da ampliação sobretudo da experiência coletiva das massas, destacando sua influência sobre a sociedade, ampliando o horizonte de seu conhecimento positivo, e neste terreno podemos também, quando necessário, golpear contra os preconceitos religiosos.

O problema da religião tem uma importância colossal e está ligada de forma estreita ao trabalho cultural e a estrutura socialista. Marx em sua juventude dizia: "A critica da religião é a base de qualquer outra critica". Em que sentido? No sentido de que a religião é um tipo de conhecimento fictício do universo. Esta ficção tem duas fontes: a debilidade do homem frente a natureza e a incoerência das relações sociais.

Frente ao medo ou a ignorância da natureza, frente a impossibilidade de analisar as relações sociais ou ignora-las, o homem em sociedade procurou satisfazer suas necessidade com a criação de imagens fantásticas, dotando-as de uma realidade imaginária e ajoelhando-se frente suas próprias criações. A base destas criações reside na necessidade prática do homem orientar a si mesmo, o que, por sua vez, surge das condições da luta pela existência. A religião é uma tentativa de adaptação ao ambiente que o rodeia para superar com êxito a luta pela existência. Existem nesta adaptação regras apropriadas e práticas. Mas tudo isto está relacionado com mitos, fantasias, superstições, conhecimento fictício. Assim como todo desenvolvimento da cultura é a acumulação de conhecimentos e habilidades, a crítica da religião é o fundamento de outras criticas. Para pavimentar o caminho de um conhecimento correto e real é necessário eliminar o conhecimento irreal. Neste caso, sem dúvida, só é verdadeiro aquilo que é analisado em seu conjunto. Historicamente, não só em casos individuais, mas também no desenvolvimento do conjunto das classes, o conhecimento real está ligado, de diferentes formas e proporções, aos preconceitos religiosos. Frequentemente, a luta contra uma religião determinada ou contra a religião em geral e contra todas as formas de mitologia e superstições entra em conflito com as necessidades de uma determinada classe em um novo ambiente social. Em outras palavras, quando a acumulação e a necessidade de conhecimentos não cabem nos marcos das verdades irreais da religião, então é possível um golpe certeiro e o casco da religião se quebra.

O êxito da pressão antirreligiosa que temos levado adiante durante os últimos anos se explica pelo fato de que as camadas avançadas da classe operária, que passaram pela escola da revolução, ou seja, a relação ativa com o país e as instituições sociais, as fez passarem por cima dos preconceitos religiosos, que foram totalmente destruído por acontecimentos anteriores. Mas a situação muda consideravelmente quando a propaganda antirreligiosa expande sua influência as camadas menos ativas da população, não só das aldeias mas também das cidades. Os conhecimentos reais que vão se adquirindo são tão limitados e fragmentados que podem coexistir com os preconceitos religiosos. Uma critica abstrata destes preconceitos, sem apoio na experiência pessoal ou coletiva, não produz nenhum resultado. Faz-se necessário aproximar-se desde outro ângulo e ampliar a esfera da experiência social e o conhecimento realista. Há diferentes meios para alcançar estes objetivos. Os restaurantes e os jardins de infância podem dar um estimulo revolucionário a consciência das donas de casa e podem acelerar enormemente o processo de sua ruptura com a religião. Os métodos de pulverização aérea química contra pestes podem jogar o mesmo efeito com respeito aos camponeses. O próprio fato de que o operário e a operária participem na vida dos clubes, que os leva fora da pequena jaula do ambiente familiar com seus ícones e imagens, abre um dos caminhos a liberdade dos preconceitos religiosos. E assim sucessivamente. Os clubes podem e devem medir a capacidade de resistência aos preconceitos religiosos e encontrar formas indiretas para ampliar a experiência e os conhecimentos. Assim, no lugar de ataques diretos da propaganda antirreligiosa, usamos bloqueios, barricadas e manobras indiretas. Em um nível geral acabamos de entrar neste período, mas isso não significa que não faremos um ataque direto no futuro. Mas é preciso prepará-lo.

Nosso ataque a religião é legitimo ou ilegítimo? É legitimo. Tem dado resultado? Sim. Quem temos aproximado? Aqueles que por experiência prévia estavam prontos para libertar-se completamente dos preconceitos religiosos. E que mais? Ainda ficam aqueles que mesmo a grande experiência revolucionária de Outubro não os tirou da religião. E neste setor os métodos formais da critica religiosa, a sátira, a caricatura e coisas similares, não possuem tantos resultados. E se você forçar muito pode obter um resultado oposto. É preciso perfurar a rocha - é verdade que a rocha não é muito firme - obstruir com bananas de dinamite, usar ataques indiretos. Após um tempo haverá uma nova explosão e uma nova queda, ou seja, novas camadas de pessoas serão arrancadas da visão das massas... A resolução da oitava conferência do partido nos diz que neste terreno devemos passar da explosão e do ataque a um trabalho mais prolongado e subterrâneo, em primeiro lugar, através da propaganda das ciências naturais.

Para mostrar como um ataque não frontal pode as vezes produzir um resultado totalmente inesperado, vou citar um exemplo muito interessante da experiência no Partido Comunista norueguês. Como é conhecido, em 1923, este partido se dividiu em uma maioria oportunista sobre a direção de Tranmel, e uma minoria revolucionária leal a Internacional Comunista. Perguntei a um camarada que vivia na Noruega como Tranmel havia conseguido ganhar a maioria – claro que apenas temporariamente - Me colocou como uma das causas o caráter religioso dos trabalhadores e pescadores noruegueses. A indústria pesqueira, como sabem, possui um nível técnico muito baixo e depende muito da natureza. Esta é a base dos preconceitos e das superstições; e a religião para os pescadores noruegueses, como expresso um camarada, é algo como um traje protetor. Na Escandinávia havia membros da intelectualidade, acadêmicos, que flertavam com a religião. Foram golpeados, com justeza, sem piedade pelo marxismo. Os oportunistas noruegueses aproveitaram habilmente desta situação para fazer que os pescadores se opusessem a Internacional Comunista. O pescador, um revolucionário, que simpatiza profundamente com a República Soviética, que apoia fervorosamente a Internacional Comunista, disse a si mesmo: "Se reduz a isto. Ou estar com a Internacional Comunista, mas sem Deus e os peixes ou, goste eu ou não, é necessário romper". E assim o fez... Isto ilustra como a religião invade a politica proletária. Claro, isto se aplica em um grau maior a nosso próprio campesinato, cuja natureza religiosa tradicional está estreitamente entrelaçada com as condições de nossa agricultura atrasada. Só derrotaremos os preconceitos religiosos profundamente enraizados no campesinato através da introdução da eletricidade e da química na agricultura. Isto, obviamente, não significa que não devemos aproveitar cada avanço técnico ou cada momento social favorável em geral para a propaganda antirreligiosa, para conseguir uma ruptura parcial com a consciência religiosa. Não, tudo isto é obrigatório como antes, mas devemos ter uma perspectiva geral correta. Os simples fechamentos de igrejas, como se tem feito em alguns lugares, e outros excessos administrativos, não só serão incapazes de alcançar qualquer êxito decisivo como , ao contrário, prepararão o caminho para um retorno mais forte da religião. Caso seja real que a critica religiosa é a base de qualquer outra critica, não é menos real que em nossa época a introdução da eletricidade na agricultura é a base para a liquidação das superstições do campesino. Citarei as excepcionais palavras de Engels, desconhecidas até a pouco tempo, que se aplicam diretamente a questão da eletrificação e da abolição do abismo entre o campo e a cidade. A carta foi escrita em 1883. Vocês recordaram que o ano de 1882 o engenheiro francês Deprez encontrou um método para transmitir a energia elétrica a través de um cabo. E se não me equivoco, em uma exibição em Munique demonstrou a transmissão da energia elétrica de um ou dois cavalos de força por aproximadamente 50 km. Causou um grande impacto em Engels, que era extremamente sensível a qualquer invenção no campo das ciências naturais, a técnica, etc. Ele escreveu a Bernstein:

"A nova invenção de Deprez (...) liberta a indústria de qualquer limitação local, possibilita o uso da energia hidráulica à distância. E embora a princípio só se use nas cidades, em ultima instância deverá converter-se na poderosa alavanca para a abolição do antagonismo entre a cidade e a aldeia.”

Vladimir Ilyich (Lênin) não conhecia essas linhas. Esta correspondência se fez pública recentemente, ainda assim compartilhava esta visão sobre a grande transformação que faria a eletricidade na psicologia campesina.

Existem períodos com diferentes ritmos no processo de abolir a religião, deterioradas pelas condições gerais da cultura. Todos nossos clubes devem ser pontos de observação. Devem ajudar sempre ao partido a orientar-se neste problema, a encontrar o momento, a ter o ritmo adequado.

A abolição completa da religião será alcançada somente quando uma estrutura completamente desenvolvida, ou seja, uma técnica que libere ao homem de qualquer dependência degradante da natureza. Pode alcançar somente sobre relações sociais que estejam livres de mistérios, que sejam profundamente lúcidas e não oprimam a humanidade. A religião traduz o caos da natureza e o caos das relações sociais a linguagem das imagens fantásticas. Somente a abolição do caos terreno pode terminar para sempre com seu reflexo religioso. Só uma guia consciente, razoável e planificada da vida social, em todos seus aspectos, abolirá para sempre qualquer misticismo e crueldade.

Traduzido do espanhol por: João de Regina

[Tradução do inglês http://www.laizquierdadiario.com/ideasdeizquierda/ineditos-la-importancia-y-los-metodos-de-la-propaganda-antirreligiosa/ ] por Celeste Murillo da versão publicada no folheto The Fight for Marxism, Two speeches and an article by Leon Trotsky, publicado por New Spark Publications, Londres, 1966.

 
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