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CINEMA
Gozo numa visão feminina ou o gozo no cinema. Notas sobre um filme
Romero Venâncio
Aracajú (SE)

O tema do sexo no cinema tem uma longa história. Desde os primeiros filmes de “sexo explícito” dos anos 60 até toda uma produção em vídeo que inundou locadoras nas últimas décadas. De um modo geral, são filmes com ou sem história, mas que tem como objeto direto as práticas sexuais nas suas mais diversas formas.

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O cinema documental também avançou um pouco na temática. Temos vários documentários produzidos em diversos países que trabalham a temática sexual e seus correlatos (saúde, gozo, política pública, preservativos, aborto, virgindade, etc.). Temos a impressão de que o que vem acontecendo no cinema em termos de sexo tem muito haver com as “transformações na intimidade” vividas nas últimas quatro décadas.

A luta feminista tem papel preponderante nesses acontecimentos. As mulheres lutaram muito até os dias atuais por direitos que vão do trabalho ao gozo. Políticas de anticoncepção, liberdade financeira, escolha livre de parceiros e parceiras e uma série de questionamentos sobre o “universo feminino” que transformaram a situação das mulheres no mundo contemporâneo. Temos clareza de que tudo isto não aconteceu de maneira igual no mundo. Em determinados países as lutas das mulheres ainda estão por se fazer pelas próprias mulheres e em outros ainda está só começando e em outros os avanços são notáveis. Usando um termo do vocabulário marxista: a luta das mulheres no mundo ainda é “desigual e combinada”. Isto teve e tem muito impacto no cinema hoje. Em 2008 o diretor brasileiro Euclydes Marinho lançou o longa metragem “Mulheres Sexo Verdades Mentiras”. O filme tem uma narrativa interessante. Trata-se da história de uma cineasta que trabalha com documentários de nome Laura Beck (Julia Lemmertz) e que está trabalhando num projeto de fazer um filme sobre o “gozo feminino” e seu universo a partir da própria fala das mulheres. No filme a diretora vai fazendo uma seleção das mulheres a serem entrevistadas, as perguntas a serem feitas, paralelo a situação vivida pela própria cineasta. Ela está vivendo um “romance aberto” com um homem um tanto desconhecido para nós espectadores.

O universo recortado para o documentário é de mulheres em idades diversas e classes sociais bem diferentes, tendo como linha condutora os desejos sexuais e as práticas vividas pelas mulheres. É muito interessante ver a leitura que as mulheres fazem das suas práticas sexuais e a situação dos homens nessas histórias. De um modo geral, os homens são importantes e “incompetentes”. As mulheres falam da pressa e do “egocentrismo sexual” masculino nas horas do gozo. Merece destaque um a "personagem” com mais de 60 anos que fala abertamente do gozo feminino (o dela em particular) na velhice. Fica claro a importância do sexo na “terceira idade”, a sua qualidade e a necessidade de parceiros compreensivos. Ela faz uma breve avaliação de como se deu a suas práticas sexuais na juventude e de como foram difíceis e repressoras por conta da formação familiar e do homem com casou pela primeira vez. Foi preciso um segundo casamento para melhor compreender e viver um “sexo sem culpas” e prazeroso. São mulheres trabalhadoras, garotas de programa, um profissional de psicologia, jovens estudantes e amigas da cineasta que vão construindo um discurso aberto (as vezes direto e picante) sobre os “direitos do gozo feminino”. Obviamente, o filme ficaria incompleto se os homens não falassem. Isto acontece basicamente no final. Alguns homens falam de suas experiências sexuais e de como veem as suas parceiras. Trata-se de um momento muito curto. O centro do filme é a fala das mulheres.

Do ponto de vista cinematográfico, me atrai muito a forma do filme. É um filme de ficção que tem dentro uma estrutura documental. Ficamos em dúvida se as pessoas são atrizes ou não-atrizes. Algumas mulheres são realmente atrizes. As vemos nas novelas e revistas. Já outras são pessoas do povo que não estão ali vivendo uma personagem para um filme. Elas estão como que falando de si mesmas e de seus desejos. O filme “vasculha” a visão das mulheres entrevistadas os mais diversos temas do universo sexual: masturbação, sexo anal, filme pornô, orgasmo, sensualidade, sexo oral, frustrações, medos, etc. Pode até não ser um grande filme em sentido clássico, mas tem um mérito: abre um “debate-tabu” ainda presente numa sociedade machista, homofóbica e repressora como a nossa, sabendo que já mudamos muito e que avançamos muito para os nossos padrões provincianos nas nossas falas e práticas sobre sexo. O filme tem momentos divertidos (como muitas vezes acontece quando falamos de maneira tão direta sobre práticas sexuais). Enfim, um filme que nos ajuda nos debates sobre relações de gênero nos dias atuais.

 
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