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RACISMO EUA
Por que a juventude negra de Baltimore está se revoltando?
Ian Steinman

Os comentaristas burgueses se perguntam como que se chegou a esta situação. Repórteres que tinham mantido uma frieza diante de cadáveres agora se chocam com o espetáculo de uma loja de conveniência pegando fogo. Os políticos pregam a não violência, ao mesmo tempo enviam um exército de ocupação. Todos eles se colocam a mesma pergunta: como fazemos para restabelecer a paz?

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“Paz”. Paz para eles é a espinha quebrada de Freddi Gray. É Eric Garner estrangulado no chão lutando para respirar. Mike Brown alvejado e morto. É a bala que rasgou o peito do menino de 12 anos Tamir Rice, é também a algema que prendeu sua irmã de 14 anos que se atreveu a correr na direção de seu irmão que estava morrendo. A juventude negra militante de Baltimore já percebeu que a “Paz” que classe dominante oferece não passa de uma mortalha funeral posta sobre uma vida curta de privações e pobreza. A paz é morte.

Porque Baltimore arde? Baltimore está pegando fogo por causa da guerra travada, mas não declarada, contra os Estados Unidos negros. Uma guerra que devastou vidas, separou famílias e deixa comunidades arruinadas. Uma guerra que é travada usando armas que vão das balas aos empréstimos bancários. Uma guerra ligada integralmente à ofensiva implacável contra a classe trabalhadora por parte da classe dominante.

O bairro de Freddie Gray tem uma taxa de desemprego acima de 50%, um terço das casas estão abandonadas e 7,4% das crianças sofrem de envenenamento por chumbo. Um relatório da universidade John Hopkins mostrou que as condições de vida da juventude empobrecida em Baltimore é comparável ou até mesmo pior do que setores sociais comparáveis em Johanesburgo (África do Sul), Ibadan (Nigéria), Nova Deli (Índia) e Xangai (China).

Na hierarquia racista dos EUA os trabalhadores negros sempre foram os últimos a ser contratados e os primeiros a ser demitidos, relegados aos piores e mais sujos empregos em muitos dos setores mais vulneráveis à automação. A devastação generalizada trazida pela virada neoliberal e a desindustrialização de vastas áreas dos EUA significou uma guerra contra os trabalhadores negros. Cidades como Detroit, Cleveland e Baltimore – antigos bastiões de radicalismo na classe trabalhadora e do poder negro (black power) – foram transformadas em ruínas vazias.

De mãos dadas com o ataque econômico veio um programa político para destruir a esquerda negra. Uma campanha estatal de infiltração e assassinato foi levada adiante contra os Panteras Negras e outros grupos de esquerda, e isto foi essencial para conseguir desarmar as comunidade negras pobres. O governo dos EUA depois abriu caminho para uma epidemia de tráfico de drogas e violência de gangues. Foi a CIA que ajudou a inaugurar o mercado para o crack nos EUA. Isto aconteceu através de seus acordos com carteis de drogas na América Latina para que estes financiassem ilegalmente os esquadrões da morte, como os “Contras” na América Central.

Os EUA prendem mais gente que todos países no mundo, um total de 2.2 milhões de pessoas. Os negros representam 13,6% da população dos EUA, no entanto, contam em 40% na população carcerária com mais de 800mil encarcerados em prisões e casas de detenção. Seguindo os padrões atuais um em cada três negros será preso em algum momento na vida, isto se compara a um a cada seis latinos e um a cada 17 no caso dos brancos. Os negros nos EUA enfrentam uma taxa de aprisionamento seis vezes maior que homens negros no Apartheid Sul-Africano.

No entanto o Estado Prisional Americano vai muito além dos muros das prisões. 4,75 milhões de americanos estavam em liberdade condicional em 2013 e 30% deles eram negros. As condições da condicional variam muito mas, em sua maioria, envolve a perda de direitos constitucionais relativos a procura e apreensão e ser sujeito a testes regulares sobre o uso de drogas e caras despesas jurídicas.

Condenações levam não somente à prisão e monitoramento mas também a perda de direitos políticos, efetivamente retirando a cidadania de milhões. Um artigo da revista The Atlantic afirma: “No ano 2000, 1,8 milhões de americanos negros tinham sido barrados das urnas...em 2011, 23,3% dos negros na Flórida, 18,3% da população negra de Wyoming e 20,4% dos negros na Virginia não podiam ir às urnas.

E, além disto muitos casos, como de Freddie Gray, não chegam às cortes. De 2005 a 2012 um negro foi morto pela polícia a cada 3 ou 4 dias, número aproximadamente similar ao de linchamentos no inicio do século 20. A probabilidade que a polícia mate um negro é 21 vezes maior do que no caso de brancos.

Prisões, linchamentos e espancamentos policiais, perda de direitos, perda de local de moradia. Morte nas mãos do Estado ou na pobreza. O efeito combinado de assassinato policial, prisão em massa e violência relacionada à pobreza tem resultado em nada menos que um massacre.

Um estudo impressionante que foi publicado pelo New York Times mostra a profundidade da crise. Enquanto em comunidades brancas a proporção entre os gêneros é de aproximadamente 100 mulheres para 99 homens, para cada 100 mulheres negras há 83 homens negros. O resto, 1,5milhão estão “sumidos”. Estão mortos ou presos como consequência desta guerra sem trégua aos EUA negros. Baltimore é uma das cidades mais impactadas, com 19 mil negros “sumidos”.

Por que os negros de Baltimore estão se revoltando? Porque eles se arriscam a sofrer espancamentos, prisão e morte, para queimar carros e prédios em protesto? Porque espancamento, prisão e morte já é o único futuro que o capitalismo estadunidense tem a oferecer a eles. Contra o estrangulamento econômico, político e social de suas comunidades, contra o linchamento promovido pelo estado, contra a estrutura que diz os representar enquanto os mantém oprimidos – eles escolheram resistir.

Baltimore não é a primeira cidade a recuperar a rebelião como arma política e não será a última. As condições sociais e econômicas que estão colocadas por trás da revolta são as mesmas em cada “favela no interior da cidade” e “gueto de subúrbio” em todos os EUA. A raiva ferve nas comunidades negras, latinas e pobres que viram suas famílias e vidas destruídas pela pobreza, prisões e drogas. A rebelião, por si mesma, não vencerá estas condições, porém, ela expressa o profundo descontentamento e a vontade de resistir de uma nova geração.

A guerra unilateral que a classe dominante chama de paz, terminou. A luta continua.

Tradução: Leandro Lanfredi

 
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