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DEBATE
É possível batalhar pela independência de classe junto ao MES de Luciana Genro...com o PPL?
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy
Thiago Flamé

Um debate com os companheiros do Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista (MAIS).

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Criticando a decisão do Diretório Nacional do PSOL, que com os votos da Unidade Socialista (US) e do MES (Movimento de Esquerda Socialista) abre possibilidades para alianças com PV, PCdoB, PDT, PSB, PT, REDE e outros partidos nas eleições de 2016, o MAIS (Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista) corretamente se posiciona pela independência de classe como critério para uma eventual Frente de Esquerda nas eleições como expresso na nota de Gloria Trogo.

Em suas palavras, “A resolução do diretório nacional do PSOL estabelece que alianças com o PV, PCdoB, PDT, PSB, PT, REDE e outros podem ser avaliadas caso a caso. Em nossa opinião esta possibilidade deveria estar descartada nas diretrizes para construção da Frente de Esquerda em 2016. Precisamos somar esforços e lutar por uma alternativa política independente dos políticos tradicionais, vinculada exclusivamente à classe trabalhadora e ao povo pobre.

Em vista disso, surpreende que o MAIS tenha declarado apoio à candidatura de Luciana Genro (MES/PSOL) coligada com o PPL em Porto Alegre.

No RS, o MAIS – em nome de participar da Frente de Esquerda nas eleições de Porto Alegre, da qual não figurará o PSTU, que defende uma política funcional ao golpe – resolveu retirar a pré-candidatura de seu militante Matheus Gomes a vereador pelo PSTU e apoiar Luciana Genro. Na Convenção do PSOL em POA, não mencionaram nenhuma crítica concreta à candidatura de Luciana como pode-se ver neste vídeo:, nem mesmo de sua busca incessante em ligar-se com a Rede de Marina Silva, ou sua coligação já travada com o PPL.

Para nós essa política aplicada nas eleições de Porto Alegre contradiz a posição que se delimitava da resolução da executiva nacional do PSOL. Talvez a militância do MAIS busque argumentar que não existe contradição, já que se trata de uma tática “para disputar os que se atraem” pela candidatura do PSOL. Porém, como essa tática de relaciona com a questão estratégica da independência de classe?

Poderia ser correto em certas circunstâncias apoiar criticamente uma candidatura de um partido operário reformista (como é o caso que Lênin discute no Esquerdismo em relação ao Partido Trabalhista na Inglaterra na década de 20) ou de uma frente de esquerda que apesar de um programa incorreto ou mesmo de conciliação de classes, se enfrentasse – por vontade própria ou por força das circunstâncias – às candidaturas burguesas sem ter alianças formais com partidos burgueses.

Não é esse o caso da candidatura de Luciana Genro, que não figura num partido desta natureza, e que ao contrário de se separar taxativamente dos partidos burgueses, conta com uma coligação com PPL. Neste caso estamos mais próximos do tipo de “frente popular” (ainda que neste caso não se trate de uma direção operária reformista de massas), alianças com a burguesia (chamada de “progressista”) que se constituiu em situações como a da Espanha, frentes essas contra as quais Trotsky lutou até o final, em polêmica contra a linha de anarquistas e POUMistas.

Uma discussão que poderia surgir é que seria “tático” apoiar uma candidatura que tenha alianças com burgueses a fim de “disputar o fenômeno progressista” que ora gira em torno de Genro. O limite de princípios seria neste caso “não participar de governos com burgueses". Está discussão não é nova e está inscrita na tradição dos debates revolucionários no século XX. Citamos o POUM espanhol em função dos inúmeros debates que Trotsky fez com esta organização. Contra a orientação de sua direção - que em meio ao processo revolucionário na Espanha na década de 30 sustentava apoio (e posteriormente se incorporou) ao governo de Frente Popular, uma aliança eleitoral entre as direções operárias reformistas de massas e a burguesia “republicana” – Trotsky defendeu a mais irrestrita independência política, uma vez que o rechaço a esta frente de subordinação de classe era a base para conquistar os trabalhadores espanhóis a uma estratégia revolucionária. Esta é a ligação entre tática e estratégia.

A tática é a aplicação da estratégia às situações concretas, e não o terreno em que se pode violá-la. A “tática” de aproximação do MAIS à candidatura de Luciana Genro (que está junto ao PPL, e só não se coligou com a Rede de Marina Silva porque esta não quis) serve mais para fortalecer a estratégia reformista de tipo Podemos e Syriza que o MES levanta, do que fortalecer e acelerar um reagrupamento das organizações e setores classistas e revolucionários à esquerda do MES.

Bandeiras comuns em São Paulo: mas e a pró-imperialista Lava Jato que defende o MES?

No dia 31/7, os companheiros do MAIS participaram no ato pelo “Fora Temer” em São Paulo unificando bandeiras com o Juntos, agrupação de juventude do MES. O motivo inscrito é a comunhão de programa que estas duas organizações defendem para a situação nacional, “Eleições gerais”.

Na sua carta de ruptura o MAIS aponta corretamente, em contraposição ao direitismo do PSTU, que “era preciso enfrentar, com centralidade, a política de ajuste fiscal do governo Dilma, mas combater também a oposição burguesa que queria derrubá-la apoiando-se em mobilizações reacionárias”. A questão é que o MES de Luciana Genro vai até o fim nesse mesmo erro da direção do PSTU, sendo o campeão da defesa da Lava Jato de Sérgio Moro, expressão do crescente autoritarismo do judiciário e das relações da direita com os monopólios imperialistas. Ao juntar bandeiras com o MES por eleições gerais os companheiros do MAIS acabam se reaproximando de uma versão da mesma política com a qual acabaram de romper – só que de uma versão ainda mais oportunista.

Sobre o equívoco da defesa de “eleições gerais” (ainda a versão com “novas regras”), debatemos com o MAIS neste artigo de Daniel Matos. Entretanto, mais que isso, o MES pautará suas coligações eleitorais em base ao “princípio” da conciliação com partidos burgueses a fim de – nas suas próprias palavras – “experimentar fatias de poder”, segundo mostra a resolução do Diretório Nacional do PSOL. Em Porto Alegre, onde o MAIS apoiará a candidatura de Genro, o MES chama a REDE da golpista Marina Silva – financiada pelo Itaú e pela Natura, apoiadora de Aécio Neves no segundo turno de 2014 e defensora das reformas mais neoliberais contra os trabalhadores – para sua coligação em base à “confluência na política nacional” com a proposta de eleições gerais. Já possui dentro da coligação um partido burguês como o PPL, que tem alianças com o DEM em Salvador, envolvimento em escândalos de corrupção no DF e na Lava Jato. Para maiores informações, ver aqui.

Mesmo que ela saísse sem coligações com partidos burgueses não poderia encabeçar uma reorganização classista da esquerda por que seu programa é de conciliação de classes (como a defesa da colaboração da Guarda Municipal com a Brigada Militar), todo o contrário da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT) na Argentina – que os companheiros do MAIS reivindicam – que não só pela composição mas pelo programa classista é uma frente progressista para ajudar a avançar a consciência de milhões de trabalhadoras e trabalhadores.

Dessa forma, perguntamos aos companheiros como defender uma Frente de Esquerda com “independência de classe” participando na prática de uma coligação cujos componentes são eminentes representantes da política anti-operária da burguesia (e da direita golpista)?

Uma Frente de Esquerda anticapitalista precisa se delimitar da velha conciliação petista

Fala-se muito da falência do projeto petista. Certamente a crise do PT, em meio ao golpe institucional e os ataques do governo Temer, exigem da esquerda a iniciativa política de batalhar por uma alternativa política independente dos trabalhadores, que não reedite a experiência do PT. Entretanto, a tese das “fatias de poder” de Luciana Genro e do MES, por mais que negue, é a ressurreição desta mesma experiência petista. Até assinar a “carta ao povo brasileiro” em 2002, na qual se comprometeu com o neoliberalismo, o PT passou por uma grande escola de gestão capitalista do estado, através da administração dessas “fatias de poder local” que agora o MES tanto busca. E o PT fez tudo isso se aliando com os PPL’s e REDE’s de então.

Para Trotsky, e os companheiros o devem ter em nota, o terreno propício da Frente Única Operária não são os acordos eleitorais, mas “ações de massas por objetivos de luta”. Diferencia ambos os terrenos claramente, nas exposições sobre a Alemanha nos 30 (que para além das enormes diferenças contextuais e de fenômenos políticos mencionados, preserva importância de princípios): “Os acordos eleitorais e as negociações parlamentares concluídas entre o partido revolucionário e a socialdemocracia [reformistas] costumam servir, regra geral, à segunda. Um acordo prático para ações de massas, por objetivos de luta, se faz sempre em proveito do partido revolucionário”.

Conclui assim que na tática da Frente Única que a chave é “golpear juntos, marchar separados”. Numa frente político-eleitoral, pelo contrário, a questão do programa assume importância central, e a independência política dos trabalhadores um critério definidor de que tipo de frente política se estabelece.

Se a confusão entre estas duas dimensões, a tática da frente única para a ação e uma frente político-eleitoral, está impregnada de oportunismo, não está menos a ideia de proclamar a independência política dos trabalhadores como princípio para descartá-la na aliança política prática.

O exemplo da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT) na Argentina deixa ainda mais clara esta questão. Nesta frente político-eleitoral não há organizações reformistas (muito menos partidos burgueses): levanta um programa prático de independência política dos trabalhadores e a conquista de um governo dos trabalhadores pela via revolucionária que rompa com o capitalismo e o imperialismo. Para isso, delimita-se claramente não apenas do kirchnerismo, mas das correntes burguesas latino-americanas como o evomoralismo, o chavismo e o petismo, além dos neorreformismos europeus como o Podemos e o Syriza, que em seis meses aplicou um pacto de submissão neocolonial com a Alemanha contra os gregos.

Por isso é uma frente progressista, e não à toa o PTS (corrente irmã do MRT) defende com unhas e dentes o programa da FIT frente a qualquer tentativa de diluí-lo internamente. Ao mesmo tempo, o PTS está disposto a desenvolver todos os acordos pontuais possíveis na luta de classes, que impliquem ações precisas, com setores e direções aos quais não exigimos que concordem com o programa da FIT para lutar em comum.

Esta é a relação dialética entre frente única e frente político-eleitoral que explica os grandes êxitos que a FIT vem apresentando inclusive no terreno inimigo, como o eleitoral. Com Nicolás Del Caño e Myriam Bregman na fórmula presidencial, em outubro de 2015 a FIT conquistou os melhores resultados da esquerda em pleitos executivos desde 1984. Superando os 800 mil votos (3,3% a nível nacional), tornou a FIT a quarta força política nacional e conquistou 1,1 milhão de votos para deputados. Estes resultados da esquerda classista configuram o dobro dos votos conquistados por Luciana Genro do PSOL (1,6%) nas eleições presidenciais no Brasil em 2014. Tudo isso em base ao parlamentarismo revolucionário, com os deputados do PTS ligados ativamente às principais lutas dos trabalhadores argentinos.

A declaração do MAIS se encontra em contradição com sua decisão de apoiar a candidatura de Luciana Genro junto ao PPL em Porto Alegre, e mais estrategicamente com a necessidade de construir uma verdadeira Frente de Esquerda, socialista e anticapitalista, dos trabalhadores. Esperamos desenvolver este debate com os companheiros.

 
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