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TURQUIA
A simbólica visita de Erdogan a Putin.
Josefina L. Martínez
Madrid | @josefinamar14

A primeira viagem de Erdogan depois do golpe fracassado. Todo um gesto simbólico, em meio a tensões com a UE e Estados Unidos. Não os une o amor mas o espanto.

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As relações entre Turquia e Russia alcançou seu pior momento em novembro de 2015, quando um avião russo foi derrubado pelo exercito turco na fronteira Síria. O que seguiu foi uma escalada de tensões nas relações diplomáticas, acusações cruzadas, sanções econômicas de Russia a Turquia, o bloqueio para meios russos na Turquia, etc.

Putin assegurava então que a Russia não esqueceria a derrubada de seu Su-24 pela Turquia, ação que era tida como "crime de guerra". As autoridades turcas respondiam de forma igualmente dura: "Há uma máquina de propaganda soviética da época da guerra fria, que produz cada dia novas mentiras; primeiro acreditam eles mesmo e logo esperam que o mundo passe a crer também", dizia Davutoglu, o primeiro ministro turco de então.

Em sua saudação anual sobre o Estado da Nação, no final de 2015, Putin acusou Erdogan de "encher seus bolsos com dinheiro roubado" na Síria e no Iraque, sustentando que o presidente turco fazia negócios com o Estado Islâmico.

A tensão só aumentou com o marco da intervenção militar de ambos os países na guerra civil Síria. Enquanto a Turquia intensificava seus bombardeios sobre bases curdas no norte da Síria e buscava a derrota incondicional de Al Assad, a Russia colaborava com as tropas de Al Assad para recuperar posições. Nesse contexto alguns analistas consideravam a hipótese de um possível enfrentamento militar entre ambos países.

Porém, nesta terça-feira se podia ver ambos os mandatários trocando elogios e "boas intenções". O que mudou desde então? Tudo indica que ambos buscam recuperar posições no terreno internacional, ao mesmo tempo em que aproximar posições sobre a Siria.

Uma reconciliação para romper com o isolamento

Putin e Erdogan estabeleceram esta terça uma ponte para a "normalização das relações". "O processo já se iniciou, mas requer tempo", assegurou Putin na conferencia de imprensa conjunta em São Petesburgo.
"efetivamente, atravessamos um período muito difícil", admitiu Putin, que se mostrou disposto a acabar com as sanções adotadas contra empresas turcas. Putín também destacou "o interesse turco em restabelecer a cooperação com a Rusia", algo demostrado com essa viagem.

Erdogan se mostrou disposto a avançar "Espero que como resultado destes passos acreditemos em um " eixo de amizade" (...) pela estabilidade na região", destacou e mencionou a Putín como seu "querido amigo". O presidente turco disse que retomará projetos "tremendamente importantes" como o gasoduto Turkish Stream, e a construção da primeira central nuclear turca, que se encontrava paralisada. Também buscará recuperar o fluxo de turistas russos, cujo número caiu de forma estrepitosa desde o começo da crise diplomática.

A situação pós golpe deixou Erdogan fortalecido internamente, mas debilitado na relações exteriores. Suas relações politicas com o "ocidente" se deterioraram, e busca novo pontos de apoio para fortalecer sua projeção internacional. Sua intensa "depuração" do exercito também mantém sua capacidade de intervenção militar no exterior, segundo vários analistas.

Ler mais: Erdogan acusa a "Occidente" de apoyar el terrorismo y el golpe militar

Nesse contexto, a visita a Russia pode ser considerada tanto um "novo curso" nas relações com a Russia, como uma pressão ao "ocidente" para que consigam negociar sem que suas politicas internas sejam questionadas. Não é ao acaso que Erdogan destacava o "apoio moral" que significou para ele Putin telefona-lo no dia seguinte a tentativa de golpe militar de 15 de julho. Putin tambem se absteve de fazer qualquer critica as medidas bonapartistas tomadas por Erdogan, o encarceramento de milhares de pessoas, a demissão de mais de 50.00, a perseguição a opositores e a imprensa.

De sua parte, Putin busca aproveitar o momento para reconstruir sua relação com a Turquia, que poderia ser uma peça fundamental para encontrar uma saída negociada na Síria. Vários analistas destacam o feito de que a reunião entre ambos mandatários contava com o apoio do Irã, cujo presidente, Hasán Rouhaní, se reuniu com Putin um dias antes em Bakú. Turquia poderia deixar de lado sua posição de pedir a saída incondicional de Al Assad, para negociar uma transição de outro tipo.

Ainda não estão claras as repercussões a longo prazo deste encontro, mas sua importancia simbólica é indubitável. A reunião desta terça-feira não caiu nada bem em Bruxelas e na Casa Branca. As cartas começam a se mover e o jogo segue aberto.

 
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