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JUVENTUDE
Revolução: a juventude retoma esse grito
Flávia Telles
Rebeca Moraes
Coordenadora do CACH - Unicamp

A crise capitalista de 2008 mostra os limites da restauração burguesa e dos projetos reformistas na América Latina e abre uma nova etapa, em que novas perspectivas se colocam, com questionamentos mais profundos do que significaram a restauração burguesa. Aliada aos trabalhadores, a juventude pode voltar a colocar em cheque esse sistema podre e toda a exploração e opressão que ele representa.

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A juventude historicamente cumpriu um papel importante na luta contra o capitalismo. No Maio de 1968 francês, milhares de jovens saíram às ruas para questionar as reformas de Charles de Gaulle, e junto aos trabalhadores impuseram uma das maiores greves gerais e movimentos da história, que abriu caminho para outros levantes como a Primavera de Praga, o Cordobazzo na Argentina e as manifestações massivas na Cidade do México. Porém, todas esses exemplos além de serem derrotados pela burguesia ou traídos pela burocracia stalinista foram seguidos de um período de grandes ataques à organização dos trabalhadores e ao questionamento mais profundo do que significava o capitalismo.

O fim dos estados operários, ainda que burocratizados, no início da década de 90, significou a derrota de um obstáculo importante no avanço do capitalismo no mundo e abriu uma grande fase de restauração burguesa. Esta instalou uma correlação de forças desfavorável à classe trabalhadora, fortalecendo a hegemonia da burguesia, e abrindo espaço para ataques como a ofensiva neoliberal dos governos de Thatcher e Reagan. A burguesia atacou não só objetivamente com um rebaixamento do nível de vida dos trabalhadores, mas subjetivamente, com uma ofensiva ideológica, colocando o capitalismo como a única perspectiva para a juventude.

Na América Latina, a restauração burguesa no início dos anos 2000 toma outros contornos, e figuras como Lula, Chávez, Morales e Kirchner, que tinham importante influência popular, foram indispensáveis para estabilizar qualquer tentativa de questionamento mais profundo do regime. Acompanhados de um crescimento econômico mundial e com discursos progressistas, os chamados governos pós-neoliberais puderam fazer concessões e incorporar parcialmente as demandas populares em seus governos, que para uma América Latina marcada pelo desemprego e pela miséria impostos pelo neoliberalismo trouxeram avanços nas condições de vida dos trabalhadores, mas não significaram uma derrota da burguesia. Pelo contrário, como disse o próprio Lula “os bancos nunca lucraram tanto”.

Mas a crise capitalista de 2008 mostra os limites da restauração burguesa e dos projetos reformistas na América Latina e abre uma nova etapa, em que novas perspectivas se colocam, com questionamentos mais profundos do que significaram a restauração burguesa. A juventude negra nos EUA com o “Black Lives Matter”, o levante das mulheres no Brasil contra os reacionários Cunha, Bolsonaro e Marco Feliciano, a luta conta o projeto da “Cura gay”, e as marchas cada vez maiores da juventude LGBT pelo mundo, são exemplos de que as massas passam a identificar os limites do capitalismo e sua impossibilidade de resolver as demandas democráticas das mulheres, dos negros e negras e lgbts e junto à Primavera Árabe em 2010, as lutas da juventude chilena em 2011, do movimento Occupy Wall Street, dos Indignados espanhóis, de Junho de 2013 no Brasil, e mais uma vez da poderosa juventude francesa, mostram confiança da juventude nas próprias forças para atingir suas demandas. Aliada aos trabalhadores a juventude pode voltar a colocar em cheque esse sistema podre e toda a exploração e opressão que ele representa.

O golpe institucional no Brasil coroa um importante passo da burguesia no sentido de não só impor ataques ainda mais duros aos trabalhadores e à juventude, que hoje sofre com 25% de desemprego, mas de frear qualquer questionamento mais profundo ao capitalismo que pode surgir daí, sobretudo na juventude que é a caixa de ressonância para os trabalhadores, não à toa grupos como o MBL, com figuras jovens, se destacam no cenário nacional.

A palavra Revolução retoma as ideias e gritos da juventude. Mas é preciso preencher o sentido de revolução com a história daqueles que resistiram e impuseram derrotas aos exploradores e nos deram lições importantes para ir até o final na luta contra o capitalismo e por abaixo as opressões. A revolução russa de 1917 foi uma experiência em que os setores oprimidos, os operários, camponeses e o povo pobre, tomaram as rédeas da política e da vida em suas próprias mãos, derrubando o Imperador, e a partir da organização de base, em seus locais de trabalho, bairros e região, formaram conselhos populares, fortaleceram seu partido, independente da burguesia, e avançaram para subverter a ordem, transferindo o poder da burguesia para os trabalhadores.

São imensas as diferenças da Rússia de 1917, para o Brasil de hoje, mas é preciso tirar lições da história, e a principal delas é o sujeito revolucionário, a partir da experiência socialista russa e numa perspectiva que vá até o final para acabar com as classes, os operários são os únicos que podem avançar nesse sentido, os que não tem nada a perder a não ser sua condição de exploração e opressão e podem por fim à sociedade de classes. É com essa perspectiva, e para combater a degeneração da revolução russa e a burocratização dos estados operários, que Trotsky elabora a Teoria da Revolução Permanente, o objetivo dos revolucionários deveria ser expandir a revolução para outros países, e acabar com o capitalismo internacionalmente e não isolar a URSS, a tomada do poder era uma etapa da revolução e não um fim em si, era preciso avançar nas demandas democráticas, e revolucionar todo o sentido da vida, acabando com qualquer tipo de opressão.

Essas lições nos ajudam a entender qual a tarefa da juventude, que vem questionando os limites do capitalismo e incendiando quem deve fazer a revolução pelo mundo afora. Nossos sonhos e os anseios não cabem no capitalismo, a juventude como caixa de ressonância que é, pode ser a faísca da revolução, abrindo caminhos para que os trabalhadores coloquem abaixo todo o sistema dos ricos. A tarefa da juventude revolucionária é oferecer uma alternativa para milhões de jovens que querem dar um basta nas misérias geradas pelo capitalismo, e ter a possibilidade de existir e viver uma vida plena de sentidos.

Nossa geração já não é marcada pela passividade. Depois de três décadas de “triunfo do capitalismo”, de promessas de crescimento econômico e felicidade embalada, a farsa não pode se sustentar por muito mais tempo. A verdade é que a podridão que o capitalismo joga diariamente para embaixo do tapete começa a dar sinais da sujeira e da necessidade de se encarar as tarefas históricas que se colocam. Desde os processos que sacudiram o Oriente Médio e as lutas protagonizadas pelos setores oprimidos, por jovens e trabalhadores nos diversos países, que revelam a verdadeira face de exploração, repressão e miséria em que vivemos, a tão temida palavra volta a permear o imaginário dos que sonham e travam batalhas por um mundo livre de opressão: R E V O L U Ç Ã O!

Se é verdade que a cada novo processo de luta se fortalece o questionamento ao sistema e ao regime, o papel dos revolucionários se torna mais fundamental. A disputa de corações e mentes deve ser o combustível que nos incendeia. Essa disputa, para ser travada de maneira efetiva, deve ser embasada por uma teoria que têm em seu DNA a transformação radical da sociedade. É na tradição do marxismo que nos apoiamos e exatamente por isso nos debruçamos sobre as contribuições que herdamos do legado daqueles que se atreveram.

 
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