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IMIGRAÇÃO
O drama dos refugiados e os imigrantes olímpicos
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy
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O drama dos refugiados corre paralelo às Olimpíadas: os refugiados da Ásia e da África, que são forçados a fugir de seus países de origem pelos bombardeios, guerras e a fome produzidas pelo imperialismo europeu e norteamericano, literalmente "emigraram" até os Jogos Olímpicos. Não estão lá "por piedade" ou "justiça" das grandes potências: se dependessem dessas, provavelmente estariam mortos, como centenas de milhares de conterrâneos sírios, iraquianos, afegãos, paquistaneses, líbios, palestinos e tantos outros que desaparecem nas águas do Mediterrâneo, ou soterrados nos escombros dos mísseis ocidentais.

É impossível não se emocionar ao ver a primeira medalha (de ouro!) de Kosovo, vencida por Majlinda Kelmendi, que ficou com o primeiro lugar na categoria 52 quilos do judô. Basta ver a história deste território disputado nos Bálcãs para entender que o imperialismo não ofereceu senão tragédias a essa população.

Por incrível que pareça, o maior contingente de pedidos de asilo em 2015 vem do Kosovo. São 48,875 imigrantes oriundos da região. Este território, localizado na península dos Bálcãs, tendo feito parte do Império Romano, Otomano e da Iugoslávia, é disputado hoje pela Albânia e pela Sérvia. Entre março e junho de 1999 foi palco da chamada Guerra do Kosovo, em que as forças armadas da OTAN devastaram a região no bombardeio contra a Iugoslávia de Slobodan Milosevic. O resultado da guerra e os posteriores conflitos entre albaneses e sérvios deu origem a um enorme êxodo de refugiados, segundo a ACNUR, de 978.000 pessoas, exiladas em Montenegro, na Bósnia-Herzegovina, na Albânia, Sérvia e Macedônia.

O governo alemão, que participou do massacre junto aos EUA e à OTAN, desintegrando os Bálcãs em nações incapazes de manter-se economicamente, hoje nega asilo aos refugiados de Kosovo e de toda a região dos Bálcãs, pois segundo a chanceler Merkel, “não são mais perseguidos políticos, então não há razão para aceitá-los”, diferenciando-os dos “imigrantes legais”.

(Foto dos destroços no Kosovo após o bombardeio de 1999)

Essa também foi a história de Yusra Mardini, refugiada síria de 18 anos que chegou à ilha de Lesbos na Grécia depois de nadar por três horas nas águas geladas do Mediterrâneo venceu sua bateria de natação: ganhou sua bateria de 100 metros borboleta marcando um tempo de 1:09:21.

Mardini foi um dos 10 atletas selecionados para competir na primeira equipe olímpica composta inteiramente de refugiados. Mulheres e homens da Síria, Sudão do Sul, Etiópia e República Democrática do Congo receberam muitos aplausos quando entraram na cerimônia de abertura na sexta-feira.

Foi obrigada a nadar para sobreviver quando seu barco começou a afundar ao transportar ela e cerca de 20 outros refugiados para a Europa no ano passado. Ela e sua irmã, que também sabia nadar, pularam do barco e o empurraram por três horas e meia até chegar à Grécia, disse ela à Agência da ONU para Refugiados.

Um de cada cinco imigrantes no mundo é sírio. Os bombardeios norteamericanos e das potências européias contra o regime assassino de Bashar El Assad e os ataques do exército ditatorial deixaram a economia devastada, com uma inflação de 600%, sofrendo de desabastecimento e falta de insumos médicos. O banho de sangue em que o facínora Assad mergulhou o país é difícil de qualificar.

Teria sido uma vergonha se as pessoas em nosso barco tivessem se afogado”, disse ela. “Havia pessoas que não sabiam nadar. Eu não ia ficar lá sentada reclamando de que eu ia me afogar. Se fosse para se afogar, pelo menos eu me afogaria orgulhosa de mim mesma e de minha irmã.”

Depois de se instalar em Berlim, Mardini começou a nadar em um clube esportivo local, onde chamou a atenção de um treinador.

Fruto das intervenções imperialistas para derrotar a primavera árabe, o auxílio de Turquia, Arábia Saudita e Israel no financiamento do jihadismo, além do desmoronamento do islamismo moderado, surgiu o Estado Islâmico, que com um regime de terror reacionário intensificou a perseguição de sunitas e principalmente xiitas na Síria e no Iraque, num conflito que já cobrou a vida de quase 500 mil pessoas e causou a fuga de 11 milhões de habitantes de seus lares, segundo a ACNUR (Agência das nações Unidas para Refugiados).

Não mencionamos aqui os séculos de colonialismo anglo-francês na África, desde 2011, o Reino Unido é o principal aliado norteamericano nos bombardeios na Península Arábica e no Chifre da África, na Etiópia, no Djibuti, na Somália, no Sudão do Sul, na República Centro-Africana e na República Democrática do Congo. Em importante livro, "A Segunda Guerra Fria", o brasileiro Luiz Alberto Moniz Bandeira mostra o longo histórico de ocupações do exército britânico, que hoje ocupa o Sudão do Sul durante uma guerra civil sangrenta entre o governo local e sete milícias. Demonstra também como o governo francês não fica atrás: a França é o país que mais coordenou ataques militares na África nos últimos anos, participando de invasões no Mali, em Níger, na República Centro-Africana, no Chade, na Somália e no Sudão.

Para uma classe trabalhadora que, como diz o pesquisador italiano Pietro Basso, é crescentemente internacional em sua composição e extensão, e que durante a crise mundial vê as condições de trabalho e de vida entre nativos e imigrantes identificarem-se cada vez mais, a burguesia opõe um racismo institucional que busca incessantemente acrescentar às velhas desigualdades de classe e de gênero, novas desigualdades de base étnica, nacional e religiosa, a fim de enfraquecer a luta comum pela emancipação dos trabalhadores.

Com as Olimpíadas gritamos alto: "Refugees Welcome!"

São os Renzi, os Hollande, os Obama, as Merkel e as Theresa May, com suas políticas de saque, ajuste, suas leis racistas, seus exércitos e suas polícias, os responsáveis por este horror social, que só a classe trabalhadora pode enfrentar unindo sua luta e organização à escala internacional para derrubar estes estados capitalistas, e levantar sobre suas ruínas uma nova sociedade de homens e mulheres livres, onde as fronteiras não sejam propriedade de nenhum estado e sim desapareçam em favor do território mundial livre para a humanidade sem classes.

Os movimentos migratórios forçados sempre foram uma constante no capitalismo desde sua origem e hoje estão atravessados pela dinâmica da crise mundial. O movimento em defesa dos direitos sociais e políticos dos imigrantes, para acabar com as leis antimigratórias, com a repressão costeira, os cárceres chamados centros de internação de estrangeiros (CIEs), a xenofobia e a islamofobia, é imediatamente uma bandeira da classe trabalhadora nativa nos países da Europa e de todo o mundo.

 
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