www.esquerdadiario.com.br / Veja online / Newsletter
Esquerda Diário
Esquerda Diário
http://issuu.com/vanessa.vlmre/docs/edimpresso_4a500e2d212a56
Twitter Faceboock
TRIBUNA ABERTA
Ideologia: afetos e desafetos
Kleber Marin, professor de Barueri

O que é ideologia? Qual a importância da ideologia para o ser humano? Precisamos de uma ideologia para viver? Se precisamos de uma ideologia, compreendo a ideologia que possuo?

Ver online

Em ano de eleição é muito comum inúmeras questões emergirem na sociedade, sobretudo, determinadas indagações que remetem aos problemas que ainda não foram resolvidos pelo poder público, como os problemas que acontecem em áreas que preparam crianças e jovens para um futuro próximo, caso da área da educação.

Neste sentido, um assunto que se fez presente nesta área foi sobre o trabalho do professor, especificamente, da possibilidade dele falar ou não em sala de aula sobre temas contemporâneos, como: gênero, religião e política.

Para determinados grupos políticos, liderados por religiosos e militares, a educação do país está um descaso. Afirmam até que, se a educação vive um fracasso, logo a culpa dessa situação toda é do marxismo. Isto é, atribuem o fracasso da educação a um determinado pensamento, o culpam dizendo que por sua causa não apenas a escola não cumpre mais com o seu papel de ensinar, mas também há professores que interferem na educação dos jovens com assuntos que não são inerentes a função de professor, como falar sobre temas atuais sob uma perspectiva histórica e social.

Em outras palavras, defendem uma ideia que esse tipo de pensamento afeta a personalidade dos jovens, incitando atitudes que se diferem do que está posto como tradicional, ou seja, não só atribuem um sentido negativo a esse conhecimento, de modo que para esses grupos políticos, se as pessoas tomarem posse desse saber, desconstruiria tudo o que está posto no mundo até hoje, e provavelmente levaria a sociedade ao caos, mas também endossam a seguinte ideia de neutralidade em que toda ideologia é falsa, o marxismo, por sua vez, é uma ideologia. Logo, o marxismo é falso.

Todavia, de fato, a culpa dessa situação toda nunca foi do marxismo, muito pelo contrário. Pois, inicialmente toda ciência é no mínimo um modo de conhecer o mundo. A saber, existem diversas formas de conhecer o mundo, tais como: a mitologia, a religião, a filosofia, o senso comum e a ciência.

A ciência, por seu lado, se serve de alguns fundamentos básicos, como a razão para se desvencilhar de todos os enganos. E uma metodologia rigorosa para trilhar um caminho seguro para chegar a uma descoberta.

Entre essas descobertas, está o marxismo. Isso mesmo, o marxismo, no que lhe diz respeito, é uma ciência em termos gerais, pois se destaca como um pensamento constituído de razão e uma metodologia própria, a qual está presente na Filosofia. E, notadamente, como descoberta importante para a humanidade, esse pensamento auxiliou como fundamento para várias ciências, tais como, a História.

Da História, propriamente, o marxismo contribuiu como uma metodologia para construir todo um discurso histórico sobre o que aconteceu na sociedade até o presente. Ou seja, a ciência História possui várias metodologias investigativas, as quais são utilizadas para compor o seu discurso. Por exemplo, entre as metodologias historiográficas mais conhecidas estão: o positivismo, o marxismo e a Escola dos Annales. O marxismo, neste caso, é somente um olhar para entender a história da sociedade, a qual especificamente se fundamenta em dois aspectos centrais, o capital versus o trabalho.

Para tanto, ainda sobre o marxismo, mesmo que a escola ensine sobre o marxismo, situação que é totalmente inerente a sua função, a escola nunca foi marxista. Em detrimento de algumas razões simples: o país, a sociedade e a formação docente.
A propósito do Brasil, sempre foi um país atrasado intelectualmente. Pois, além de ser o último país da América do Sul a abolir a escravidão, também foi o último país a construir uma universidade pública. Impactos que até hoje sentimos na pele, especialmente, os grupos excluídos pela elite brasileira. Como explica Darcy Ribeiro, “O Brasil, último país a acabar com a escravidão tem um perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso.”.

A propósito da sociedade, de modo geral, a educação não é reconhecida de fato como algo preponderante para o país, pois existem outras prioridades que tomam mais atenção da política nacional. Haja vista a nossa contradição histórica cuja mídia estampa praticamente todos os dias nos cadernos de educação e de política, em que no momento que estabelecemos uma relação percebemos que, embora o país se mantenha com um produto interno bruto elevado, por outro lado, ocupamos as últimas colocações na área de educação. Resumindo, o Brasil possui um alto acúmulo de capital, mas uma péssima divisão de renda.

Enfim, a propósito da formação docente, não há formação política específica para professores, principalmente, sobre o marxismo, quer dizer, a formação de licenciaturas no país, sobretudo, na área de Humanas são constituídas de inúmeros pensamentos filosóficos sobre educação. Assim, não existe curso institucional sobre o marxismo.

Ao mesmo tempo, o marxismo no país já se aproximou da igreja católica no que diz respeito à democracia. Por exemplo, durante o regime militar alguns sacerdotes compartilharam da dor da opressão em que determinados cidadãos marxistas estavam vivendo no país, pois compreendiam que havia uma luta em comum, a luta contra a miséria social.

Em síntese, a ideologia é uma concepção de enxergar o mundo e a educação nunca viveu um fracasso por causa do marxismo.


Kleber Marin. Atualmente é professor de Educação Básica I e professor de Filosofia no município de Barueri, região metropolitana de São Paulo.

 
Izquierda Diario
Redes sociais
/ esquerdadiario
@EsquerdaDiario
[email protected]
www.esquerdadiario.com.br / Avisos e notícias em seu e-mail clique aqui