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ARGENTINA
A trégua sindical tem seu preço
Redação Esquerda Diário Argentina

A Casa Rosada foi palco do encontro entre Mauricio Macri e parte das direções sindicais burocráticas. 2,7 milhões de pesos argentinos (aprox. R$585.000) é o custo da passividade diante do ajuste.

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Foto: DyN

O portal web do jornal argentino La Nación definiu o acordo assinado entre o Governo nacional e os dirigentes sindicais como um “acordo de estabilidade”.

A definição não tem nada de exagero. Em um momento em que as tendências econômicas não deixam de mostrar um declive: a baixa taxa de emprego ao mesmo tempo em que a inflação continua crescendo apesar da crescente recessão.

É evidente que, nesse sentido, é necessário garantir a continuidade dos mecanismos de governabilidade que permitiram a coalizão Cambiemos avançar com seu plano de ajustes.

2,7 bilhões de razões para a trégua

Foi assim que na tarde de terça-feira, no Salão Branco da Casa Rosada, Macri falou diante de um auditório marcado pela presença de dirigentes sindicais, governadores e parte do gabinete nacional.

O círculo sindical contou com a presença daqueles que já estão habituados a passear pelos corredores do lugar: Antonio Caló, Armando Cavalieri, Ricardo Cirielli, Omar Plaini, Gerardo Martínez, José Luis Lingeri, Gerónimo Venegas, Carlos Acuña, Andrés Rodríguez e Victor Santa María, entre outros, participaram do convite.

O amplo arco dos sindicatos de categorias representados entenderam que os fundos para as obras sociais configuram um tema que cruza o conjunto da burocracia sindical, mais além de suas alienações imediatas. Os interesses da casta são mais fortes que qualquer princípio político.

Os 2,7 bilhões de pesos argentinos (aprox. R$585.000) que serão entregues imediatamente – somados aos 30 bilhões de pesos (aprox. R$ 6,5 bilhões) em bônus – será o mecanismo que permite lubrificar e dar continuidade a trégua sustentada há meses, apesar do avance do ajuste, das demissões e das suspensões.

Vale a pena recordar que muitos dos dirigentes presentes na sede da presidência argentina foram parte, até dezembro do ano passado, do auto-definido “modelo nacional e popular. Não é preciso se esforçar muito na procura para encontrar as fotos onde Cristina Kirchner aparece sorrindo pelos palcos, atos e reuniões ao lado de Caló, Martínez ou André Rodríguez, o dirigente milionário do sindicato União do Pessoal Civil da Nação (UPCN) que tem sua própria tropa de cavalos de corrida.

Vários deles estiverem entre aqueles que falavam de uma “resistência” ao ajuste que nunca houve e que, no calor das cifras recebidas, parece seguir se distanciando dessa “resistência”.

Dirigentes em perpetuidade

Tanto os dirigentes sindicais da categoria como o próprio Governo falaram de “saudar uma dívida histórica” com a entrega desses fundos para obras sociais.

No entanto, o que é verdadeiramente “histórico” por sua duração são os dirigentes que estão a frente das organizações sindicais. A média de exercício do cargo de secretário geral na Argentina chega aos 28 anos de duração. Uma cifra gigantesca.

A própria Cristina Kirchner confirmou o fato há poucos dias atrás quando destacou – em entrevista a Roberto Navarro – que os dirigentes sindicais estavam no cargo “antes de sua chegada a presidência” e “continuam ainda hoje”. Obviamente, isso não pareceu ser um “problema” quando se tratou de incorporá-los como parte do “modelo” por mais de uma década.

Contagem regressiva e círculo infinito

O anúncio ocorre a poucas horas da celebração do plenário de secretários gerais da categoria que integram as três Confederação Geral do Trabalho (CGT), como parte do processo de reunificação anunciado para o dia 22 de agosto. A data não tem nada de inofensiva, mas deixa claro o objetivo do Governo de condicionar essa unificação para remover, se houver, qualquer indicio adversário.

Além disso, o Governo nacional tem a seu favor a enorme vantagem que representa a divisão interna das direções burocráticas. Até o momento, as divisões entre aqueles que pugnam uma direção conjunta (triunvirato) e aqueles que o fazem por uma direção unipessoal dividem os diferentes setores. Os que se opõem a esse tipo de direção são aqueles que ficarão de fora da mesma, se esta for integrada efetivamente pelos representantes das três CGT atuais.

O que divide esses setores são os focos políticos. Enquanto Palazzo (bancários) marca sua posição com um discurso claramente opositor, o “Momo” Venegas exibe oficialismo e posa para foto junto a Mauricio Macri a todo momento. Essa diferença impõe um limite na hora de poder negociar com o bloco.

Um trégua que já virou traição

A trégua sustentada por essas direções sindicais se torna uma verdadeira traição aos interesses da classe trabalhadora e ao conjunto do povo trabalhador. Sua passividade permite que as patronais e o Governo avancem em direção aos ajustes.

O caráter da casta burocrática afasta os interesses do conjunto da classe trabalhadora que emergem a cada instante. Como destacou ontem o dirigente dos trabalhadores metroviários, Claudio Dellecarbonara “dão privilegio, mais uma vez, a seus interesses como casta. Não perguntaram aos trabalhadores de que forma querem que as centrais sindicais se reunifiquem, não fizeram assembléias em nenhum lugar de trabalho para perguntar ou votar quem deveriam ser os dirigentes que liderariam a central unificada; e tampouco analisaram que tipo de estatuto querem ter os trabalhadores”.

Contudo, isso não impede o desenvolvimento de uma crescente resistência frente ao ajuste. Amanhã haverá um novo panelaço contra os tarifaços, convocado a nível nacional. Já o primeiro “barulhaço”, do dia 15 de julho, evidenciou um enorme descontentamento, muito bem exposto pelo Esquerda Diário.

Por outro lado, a esquerda e o sindicalismo combativo convocam uma marcha para o dia 9 de agosto na Praça de Maio contra o ajuste. Na importante assembléia realizada ontem, os trabalhadores ferroviários da zona Oeste contra o ataque ao direito de greve, decidiram participar dessa convocatória.

Como informamos aqui, o Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS) e a Frente de Esquerda (FIT) vêm ressaltando a necessidade de que a direção sindical abandone a trégua e convoque uma paralisação nacional para enfrentar e derrotar o ajuste.

Como é evidente, Macri faz o possível para que o ajuste seja mantido. Esse é o valor político dos acordos econômicos assinados ontem.

Tradução: Cassius Vinicius

 
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