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CRÔNICA
Alcoolismo e outras derrotas operárias
Fábio Nunes
Vale do Paraíba
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Esta é a história de um trabalhador da construção civil que se entregou ao consumo de álcool na década de 1990 e destruiu a própria vida. Uma história anônima parecida com outras vidas operárias que viram estatística, "suco" ou filme. Nada de novo no front, apenas mais um trabalhador derrotado no "neoliberalismo".

Em São Paulo terra de arranha-ceu...

Década de 1970, auge da Ditadura Militar, são os "anos de chumbo", a classe trabalhadora brasileira está estrangulada. O nosso trabalhador, com seus vinte e poucos anos, foi para a capital do estado tentar uma vida melhor e conseguiu emprego em empreiteiras como a Camargo Corrêa. Era um "peão do trecho" nesta época, como costumava dizer. Tinha o cabelo comprido, ouvia Roberto Carlos e baladas da Black Music. Capoeirista, bateu num "sordado" e ofendeu um padre. Não gostava de política em 1978-1979 e apenas ouviu falar do ascenso operário no ABC.

Tudo azul?

A Ditadura acabou em 1985 e a democracia dos ricos vai entrar em cena com todo o aparato repressivo em pé. Agora pai de dois filhos, o trabalhador da construção civil vive entre a família e o trabalho em São Paulo. Vida difícil. Caiu do oitavo andar de um prédio mas por sorte ficou preso entre as estruturas do guincho. Nunca se sindicalizou e continuou distante da política. Não confiava no Lula mas não votou no Collor em 1989. Nunca votou.

O louco meu!

Década de 1990, vitória do "neoliberalismo" e derrota do proletariado mundial. A burguesia decretou o "fim da classe trabalhadora" e o trabalhador assistia a noite do "Domingão do Faustão" e sonhava embriagado com a ideia de ser empresário. Álcool e cigarro o dia inteiro enquanto o capitalismo assumia o discurso do "fim da história". A degeneração veio a galope. Assim como outros trabalhadores que foram jovens nos anos 1970 ele também foi arrastado para a derrota (pessoal? social?) nos anos 1990.

Completamente debilitado pelo álcool (depressão?) nos anos 2000, viu que a sua tragédia não era particular, pois os seus amigos operários da construção civil também estavam doentes ou mortos. Na TV ele assistiu as alianças da Camargo Corrêa com o governo Lula. Não apoiou o impeachment mas não defendia a volta da Dilma. Conseguiu abandonar o álcool mas o cigarro acabou com os seus pulmões. Morreu numa cidade que no passado era uma fazenda cujo proprietário tinha o mesmo nome que o seu.

 
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