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GRÉCIA REFUGIADOS
Milhares de refugiados presos na Grécia com epidemias e sem atenção sanitária
Josefina L. Martínez
Madrid | @josefinamar14

Os campos de refugiados da Grécia são um pesadelo: sarna, gastroenterite, psicose e suicídios aumentando.O sistema sanitário grego, arrasado pelos cortes, lhes nega a mínima atenção.

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Os refugiados que ficaram presos na Grécia não podem seguir viagem para Europa, que fechou suas fronteiras, mas também não podem voltar a um país arrasado pela guerra. Grecia se transformou em sua armadilha, um país afogado pelos apertos da Troika e seus próprios governos, com um sistema sanitário destruído que poupa a mínima atenção aos refugiados.

Um artigo publicado neste 28 de julho na revista Foreing Affairs (FA) por Sonia Shah expõe a terrível situação de dezenas de milhares de refugiados na Grecia, afetados por epidemias, sem atenção sanitária.

O campo de refugiados de Ellikino, uns quilômetros de distância de Atenas, apresenta um panorama deplorável, descreve a cronista. Como em uma cena de um filme pos apocalíptica, as instalações desportivas que em seu momento foram construídas para os jogos olímpicos de 2004 e que logo foram abandonadas agora albergam a uns 3.000 imigrantes.

Há uma novela do escritor grego Petros Markaris, sobre o detetive Kostas Jaritos, que começa quando se descobre um cadáver nestas instalações abandonadas depois das olimpíadas. Toda uma metáfora sobre a crise grega: o colapso da burguesia depois de anos de falsa “prosperidade” tornou-se a maior catástrofe das últimas décadas para o povo grego.

Mas a crua metáfora literária fica ofuscada pela brutalidade da realidade. O campo de refugiados é a mesma imagem do abandono. O cronista descreve um verdadeiro inferno em meio ao agonizante verão grego, com mais de 30 graus de temperatura e o sol queimando sem cessar. As tendas instaladas pela ONU não protegem o suficiente do calor.

“As tendas oferecem pouca proteção contra o sol e são quase uns 30 minutos a pé, através dos estacionamentos vazios e das rampas não verificadas , através da estrada principal. Muitos tem optado por ocupar as calçadas do cimento ao redor das grades do estádio e as escritórios vazios do lugar, convertendo as instalações em uma favela de emergência em expansão.

Neste contexto precário, as enfermidades, vírus, traumas e padecimentos psicológicos se multiplicam.

“Cerca de três, de cada quatro residentes de Elliniko sofrem infecções gastrointestinais, de acordo com Leo Vandenbossche, um médico da ONG Médicos do Mundo (MDM). A sarna, uma enfermidade contagiosa causada por um ácaro microscópico que penetra abaixo da pele também esta aumentando. E como a sensação de abandono se assenta em cima de lembranças de terror e do trauma, as mentes começam a transtornar-se. Ao longo de todo país, a ONG de médicos que trabalham nos campos tem informado de um aumento dos suicídios e das enfermidades psiquiátricas agudas. Um médico voluntário no campo de Koutsochero em Larissa, uma cidade da região de Tesalia na Grecia, disse-me que ele tem visto psicose, adição às drogas, abuso sexual e automutilação”.

O acordo da União Europeia com a Turquia estabeleceu que os refugiados poderiam ser deportados se não pedissem asilo na Grécia. Os que o fizeram, seriam alojados em campos de refugiados enquanto sua situação fosse avaliada. Nestes campos a atenção sanitária é a mínima, mas quando passa o tempo e as enfermidades se agravam, os refugiados não tem aonde recorrer.

“Estes pacientes requerem os serviços de especialistas, o que significa que devem ter acesso ao sistema de atenção sanitária grego. No entanto, não há um plano em curso para proporcionar o pagamento por seu tratamento, e os hospitais sitiados [ pelas guarnições] da Grécia se negam a pagar o custo”.

Inclusive chegar até um hospital se transforma em uma odisseia, já que os imigrantes estão sem documentos, está proibido que sejam transportados para fora do campo. Faz uns meses um voluntário do Médicos sem Fronteiras foi detido por levar um refugiado até o hospital.

Desde que começou a crise na Grécia o orçamento sanitário foi cortado a metade. Por sua vez, enquanto que um terço das propriedades imobiliárias estão vazias, os refugiados estão acampados em campos deploráveis, aponta a jornalista.

“A saúde da população grega já se degradou. Entre 2008 e 2010, a taxa de mortalidade infantil no país aumentou em mais de 40 por cento, e as novas infecções por HIV entre usuários de drogas injetáveis aumentou de menos d 50 no período de 2008-2010 a cerca de 800 no período de 2011-2012. Mas estas tendências, junto com os surtosde varicela, disenteria e sarna que as ONG médicas tem observado em campos de refugiados tais como Elliniko, são provavelmente somente a ponta do iceberg. O verdadeiro impacto da destruição do sistema de saúde do país não ficará claro até que apareça um considerável surgimento de surtos”.

O panorama é desolador. A acumulação de cortes, privatizações, e ajuste sobre a população grega, agora se soma a crise migratória e a irrupção de enfermidades que não recebem a atenção correspondente.

O governo de Syriza é responsável por esta situação trágica, porque executa os cortes da Troika e condena o povo grego e os refugiados a uma vida miserável.

Tradução: Milena Bagetti

 
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