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EUROPA EXTREMA DIREITA
Leon Trotsky: O fascismo é “o partido da desesperança contrarrevolucionária”
Josefina L. Martínez
Madrid | @josefinamar14

O ascenso da extrema direita na Europa, mescla de nacionalismo, xenofobia e populismo neoliberal. As responsabilidades da ‘esquerda’ e a desesperança frente a crise social.

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Foto: Concentração da extrema direita na Alemanha, EFE.

Em 1930 Leon Trotsky escrevia que o crescimento gigantesco do nacional-socialismo era reflexo de dois fatores: uma crise social profunda que desequilibrava as classes médias e a ausência de um partido revolucionário da classe trabalhadora, que pudesse se consolidar como uma alternativa progressista frente a crise. O fascismo, como movimento de massas, era o partido da “desesperança contrarrevolucionária”. [1]

Um exercício histórico comparativo com o fascismo dos anos 30 permite compreender algumas chaves do presente, ainda que devem estabelecer-se importantes diferenças específicas para não forçar a analogia. Em linhas gerais, o fato é que hoje não estarmos atravessando um enfrentamento aberto entre revolução e contrarrevolução, que a crise econômica, aberta em 2007, não derivou de um crack como em 1929, mas sim de uma grande recessão, e que os grandes partidos stalinistas que falavam em nome da revolução de outubro se transformaram em sua sombra, assimilados completamente pelo neoliberalismo.

Se o fascismo dos anos 30 representava a resposta contrarrevolucionária (posterior ou preventiva) frente a revolução proletária e expressavam um ataque em toda a linha contra o movimento operário e suas organizações, os fenômenos atuais são ainda preparatórios, em uma situação onde não há radicalização política da classe trabalhadora na Europa.

Ainda assim, a comparação histórica é produtiva para pensar que os movimentos de extrema direita ganham influência em um momento de profunda crise social, quando as classes médias se “desequilibram” em decorrência do impacto de décadas de políticas neoliberais, igualmente setores da classe trabalhadora que enfrentando uma deterioração de suas condições de vida. Este “desequilíbrio” social rompe todos os esquemas tradicionais de representação política, o “centro político” agoniza.

Na Áustria, o FPÖ (Partido da Liberdade) obteve 48% no segundo turno das eleições ocorridas em maio, ficando a um passo de chegar ao governo; no Reino Unido, o UKIP (Partido da Independência do Reino Unidos) obteve 12,6% em 2015 e a um mês festejou triunfante os resultados do referendo pelo Brexit; na Alemanha, o partido AfD (Alternativa para Alemanha) em março de 2016 no estado de Saxônia-Anhalt atingiu a marca de 24,3% dos votos e se posicionou como a segunda força política no país; na Dinamarca, o Partido Popular com a consigna “Dinamarca para os dinamarqueses” obteve 21% dos votos em 2015; nos Países Baixos, o PVV (Partido para a Liberdade) alcançou 10,1% nas eleições de 2012; a Frente Nacional na França terminou as eleições regionais com 27,4%.

Marine Le Pen, candidata da Frente Nacional da França e Heinz-Christian Strache, líder do Partido da Liberdade da Áustria.

Extrema direita, neofascista, nacionalismo ou populismo de direita? Qual é a definição mais adequada para definir estes fenômenos aberrantes em assenso?

Mas além de suas diferenças nacionais, em pontos gerais estes movimentos compartilham uma ideologia nacionalista eurocética, um mix reacionário de xenofobia e islamofobia que se soma a um discurso populista “antiestablishment” que golpeia o centro político pela direita. Por sua vez, defendem um programa econômico neoliberal que aprofunda o corte de diretos sociais e democráticos. Com desigualdades, desde o ponto de vista social capitalizam o apoio de setores da classe média empobrecidos ou arruinados pela crise, setores da classe trabalhadora que tem visto deteriorar suas condições de vida e que apresentam um desencanto pelos “partidos tradicionais” conservadores e socialdemocratas, além de setores das burguesias imperialistas, ou seja, sua base é bastante policlassista.

Enquanto alguns partidos têm passado por um processo de “aggiornamiento” (atualização, termo em italiano) discursivo para tentar se distanciar do estigma do neofascismo e não perder votos, como a Frente Nacional na França, outros tem feito o caminho inverso, como o AfD da Alemanha que aprofunda cada vez mais seu discurso xenófobo e reacionário.

Por sua vez, no flanco da ultradireita, existem grupos diretamente neonazistas como Pegida (Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente) na Alemanha, movimentos nacionalistas neofacistas na Ucrânia ou de forma mais minoritária, como os grupos de “faccios”, no Estado Espanhol e outros países, que levam adiante “ações diretas” contra imigrantes, homossexuais ou políticos. Na Alemanha e outros países os ataques contra refugiados e centros de acolhida tem crescido nos últimos anos.

Manifestação neonazista contra imigrantes em Bruxelas, Bélgica.

A chegada de centenas de milhares de refugiados a Europa tem sido instrumentalizada por estes partidos para estimular o racismo e a xenofobia, estigmatizando os imigrantes, os identificando como um “inimigo externo” a quem culpabilizar pela crise social profunda.

Os reacionários atentados do Estado Islâmico, que tem crescido no último ano, agudizam a tensão social e permitem os governos inflamar o fantasma do ódio contra os imigrantes e as populações árabes. Por outro lado, a política belicista do imperialismo francês, britânico, alemão e espanhol, que mantem tropas no estrangeiro e bombardeia em coalizões militares com os EUA na Síria e Iraque, não faz mais do que avivar o fogo do ódio “contra o ocidente” e criar um caldo de cultivo de novos recrutas para o Estado Islâmico.

A esquerda: da esperança ao desencanto

É necessário incorporar um elemento fundamental nesta equação que explica o crescimento de movimentos de extrema direita: o papel que tem cumprido a “esquerda tradicional” e a “nova esquerda” reformista frente a esta crise.

Os partidos comunistas europeus assimilaram durante décadas o neoliberalismo e chegaram ao estopim da crise sendo parte dos regimes políticos tradicionais, pelo que dificilmente poderiam despertar “grandes esperanças”.

Com a abertura da crise econômica e social nos últimos anos, a ânsia de sair do marasmo foi capitalizada por novas organizações reformistas como o Syriza e o Podemos. Mas a ilusão inicial se transformou em desencanto rapidamente. Na Grécia a capitulação aberta do Syriza tem sido um ponto de inflexão, com profundas consequências. Alexis Tsipras passou de representante da “nova esquerda” para gestão direta dos ajustes e cortes da Troika, passeando sorridente pelos corredores das cúpulas europeias ao lado de Merkel e Hollande. No Estado Espanhol, o Podemos cria um culto a moderação política, rechaçando toda a radicalidades e adotando um programa socialdemocrata light para se transformar em um “partido tradicional” no Congresso dos Deputados.

Diferente da esquerda reformista “europeísta” e moderada, a extrema direita tem radicalizado seu discurso, propondo um retorno reacionário ao estado-nação e avivando os fantasmas da xenofobia.

Para contrapor ao crescimento destes novos movimentos da “desesperança reacionária” será necessário reconstruir as bases de uma esquerda radicalmente internacionalista e anticapitalista, que ascenda novamente a esperança da transformação social contra o capitalismo e a solidariedade dos trabalhadores e dos povos.

 
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