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INTERNACIONAL
O diálogo e os “acordos” de Maduro com a direita
Milton D’León
Caracas

A direitista Mesa de Unidade Democrática informou a libertação de 28 dos 37 presos que eles consideram presos políticos. O anúncio se dá no marco das negociações que têm os mediadores com o governo e a oposição

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Nessa terça 26, o secretário executivo da chamada Mesa de Unidade Democrática (MUD), Jesús Torrealba, assegurou que “se deram avanços para um diálogo com o governo de Maduro” dado que foram postas em liberdade 28 pessoas, consideradas pela coalizão de direita como “presos políticos”.

Cinco dias antes (21) Maduro declarava que “ Vai se abrindo o caminho, na consolidação de um processo de diálogo político sobre temas fundamentais dos venezuelanos, com a intenção de reforçar a paz no país”. Afirmava isso logo após uma reunião com José Luis Zapatero e outros mediadores internacionais.

Jesús Torrealba remarcava em uma conferência de imprensa que “Devo informar que estão sendo produzidos avanços (...) das 37 pessoas que estão nessa condição, umas 28 pessoas foram liberadas, ainda que com algumas restrições que também queremos que sejam eliminadas”.

O porta voz da direita explicou que uma das condições que exige a coalizão é a libertação das 37 pessoas que foram detidas “por motivos políticos” desde o 19 de maio passado, data da chegada do ex chefe de governo espanhol José Luis Rodriguez Zapatero para atuar como mediador do diálogo.

Enquanto se distrai por baixo... se “acorda” por cima

Até a publicação deste artigo ninguém da assessoria de comunicação do governo Maduro, nem do PSUV, havia dado declarações sobre a libertação dos presos, que corroborassem as afirmações da MUD, pois seria a admissão de que se está cedendo à direita. Apesar das declarações enfáticas que estavam lançando ambos os lados por cima, governos e opositores estariam avançando em acordos por baixo.

Naquele momento Jorge Rodriguez, representante do governo no diálogo, declarou em uma conferência de imprensa que havia ocorrido “reuniões privadas, secretas, entre setores da direita venezuelana e setores do governo bolivariano com o intuito de criar um clima que permita o que está a ponto de se concretizar”.

Chamava atenção que nesses dias também a direita estava enviando mensagens de certa “flexibilidade”. Em um comunicado no qual expunha cinco pontos como condições para o diálogo escreviam que “é fundamental que se posa contar com um cronograma público [para o referendo], no marco de nossos esforços para que esse tenha lugar em 2016”. Começava a se falar de realizar “esforços’ para que se leve a cabo este ano e sem condição sine qua non.

Não só um tom completamente distinto tinha essa expressão, mas que inclusive, e sem necessidade de ler entrelinhas, escrevíamos nesse momento, que a direita poderia estar aceitando a hipótese da eventualidade de que o revogatório realize-se no próximo ano. Inclusive chegou-se a se cogitar um eventual encontro entre o governo e a MUD para meados de julho.

Porém sem nenhum tipo de declaração as reuniões entraram em estado de stand by, até que novamente se deram as visitas dos mediadores internacionais encabeçados por Zapatero e de Ernesto Samper, por parte de Unasur a Caracas, nas quais novamente se abriria outra rodada de reuniões entres eles e o governo nacional assim como com a oposição.

Porém não só questões de “presos” ou “revogatórios” é o que se discute ente o governo e a oposição. A agonizante crise econômica está incluída no pacote de negociações, difícil crer que não possa estar dado o estado de catástrofe eminente que se avizinha, no qual medidas econômicas que se possam consensuar para buscar uma saída.

Qualquer acordo feito exclusivamente no plano político, poderia significar nada, se o país termina de caminhar de vez para uma implosão econômica com cenários pouco previsíveis no terreno social. Se em algo coincidem, é que ajustes tem de ser feitos, já o governo de Maduro os vêm implementando, realizando acordos com empresários, e por sua parte a direita já declarou que " um novo governo tomará medidas antipopulares”

Nesse sentido os atuais “diálogos” são parte de toda a discussão sobre a transição do pós chavismo, no qual as Forças Armadas vem ocupando um papel preponderante. Sua atuação cada vez mais central no governo de Maduro, se interpreta como o papel que já estão assumindo, e não como uma questão para o futuro. É de conhecimento público também que as Forças Armadas já vêm tendo um poder cada vez maior nos rumos econômicos do país, e causou muito furor a participação do General Maior Padrino López, ministro da Defesa, no lugar de Maduro, nas comemorações do nascimento de Simon Bolívar.

O papel do Vaticano

Também na conferência de imprensa da MUD, Jesus Torrealba manifestou que “produziu-se avanços como (..) a aceitação por parte do governo na ampliação da mediação com participação da Santa Sé”, pelo que sinalizou a aliança opositora como um fato “positivo” de que o Executivo cedeu à petição que eles fizeram. “Nós o saudamos porque isso oxigena e reafirma um gesto de facilitação”, disse Torrealba.

Ainda que a participação do Vaticano, na verdade faz tempo que vem caminhando por baixo, e com bons olhos pelo governo de Maduro, antes mesmo que a oposição começasse a colocar como condição, buscando demonstrar que eles que conquistaram essa ampliação dos mediadores.

É um segredo que durante todo o tempo o Vaticano tem atuado por de baixo dos panos em todas as negociações que vem sendo realizadas, inclusive apoiando a equipe de mediadores encabeçados por José Luis Zapatero do Estado Espanhol e os ex presidentes Leonel Fernández de República Dominicana e Matin Torrijos de Panamá. Atuando, além disso, em concordância com Obama e toda a política de aproximação com o governo de Maduro.

Por isso foi fácil para o secretário geral da União de Nações Sul americanas (Unasur), Erneso Samper, anunciar a quinta-feira passada que o governo havia aceitado a participação de um representante do Vaticano no diálogo, pois já estava acontecendo.

Se trata, então, meramente, de uma formalização por “cima”, e a participação com voz e rosto público. Por isso em um artigo no começo de julho escrevíamos que “ o Papa se prepara para por a Igreja como protetora ante a crescente instabilidade política venezuelana, chamando a uma saída negociada entre setores do chavismo e a oposição direitista”. Até aqui nada de novo a respeito.

Tampouco é novo que enquanto os de cima “discutem”, “dialogam” e “acordam”, decidindo sua sobrevida e futuro, os de baixo, o povo pobre e trabalhador, seguem em meio a um dos maiores sofrimentos. Por isso nada de bom pode esperar o povo de todas essas negociações que se vem realizando. O que temos de ter claro, é que assim como temos de nos opor aos ajustes que o governo já vem aplicando, também temos de nos opor frente a toda política de direita que carregada de demagogia busca convencer o povo.

Tradução: Yuri Marcolino

 
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