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MULHERES NEGRAS 2016
A terceirização e a luta das trabalhadoras terceirizadas da UERJ
Isa Santos
Assistente social e residente no Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ
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É evidente para aqueles que frequentam a UERJ o rosto da terceirização. Esses postos de trabalho são preenchidos, em sua esmagadora maioria, por mulheres negras que acabam por ocupar os postos mais precarizados de trabalho na sociedade.

Infelizmente, essa realidade não se restringe apenas a UERJ, compõe mais de 26% do mercado formal segundo os últimos dados oficiais sendo realidade nos quatro cantos do país. Os trabalhos nos setores de serviços limpeza e alimentação (que são historicamente impostos pela sociedade como deveres femininos) são onde se concentram grande parte dos terceirizados. Estes enfrentam, além do salário quase 25% menor que os contratados de forma direta para os mesmos serviços, cotidianamente o desrespeito das empresas que não oferecem condições dignas de trabalhos.

Nos últimos anos, para as trabalhadoras terceirizadas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro foi destinado um cenário um constante desrespeito aos mais básicos direitos trabalhistas por parte da UERJ e da empresa contratante. Efetivamente é esses desrespeitos significaram na vida dessas mulheres seguidos meses sem salários, seguidos meses sem conseguir garantir o sustento das suas famílias, repetidos meses de incerteza quanto ao seu futuro e por fim uma demissão em massa depois de meses de trabalho gratuito.

Tais situações acarretam uma série de efeitos na saúde tanto física quanto psicológica dessas mulheres. Trabalhar sem receber submetidas a condições e trabalho e vida precárias vendo as contas vencerem e sem previsão para seus pagamentos adoece e mata. Em Janeiro de 2016, numa segunda feira, Cleide faleceu. Terceirizada do HUPE, faleceu depois de mais um dia de trabalho dentro das condições imposta pela terceirização e pelos governos que são coniventes com essas condições análogas a escravidão que são destinadas as mulheres negras, periféricas, nordestinas e aos outros setores oprimidos que são parte dos mais de 12 milhões de terceirizados do país.

Na UERJ, porém, desde quando os atrasos de salários e benefícios se intensificaram as trabalhadoras terceirizadas foram linha e frente de greves, atos e mobilizações: nos atos pela manhã no HUPE, nos atos na Reitoria da UERJ e na porta da própria empresa Construir, compuseram junto com o movimento estudantil piquetes nos elevadores da Universidade. Essas mulheres lutaram bravamente enfrentando a burocracia de um sindicato aliado aos interesses da empresa, contra a Reitoria e o governo do estado que, em prol das suas alianças com empresários, ignorava a situação de fome daquelas mulheres e a cada dia mantinham (e ainda mantém) os ataques aquelas trabalhadoras. As trabalhadoras da Construir lutaram buscando arrancar com as suas forças e mobilizações os direitos que lhes eram negados. São elas um exemplo da força e solidariedade da mulher negra e da classe trabalhadora.

A terceirização permite, com a conivência do Estado, que empresas lucram em cima da saúde, da vida, do trabalho precário de mulheres negras. É a forma de escravidão moderna e destina a mulheres negras por todo país uma realidade de precarização, atraso e falta de salário, adoecimento e incerteza. A luta pelo seu fim não pode significar dar a essas trabalhadoras o mesmo destino de demissão que foi dado pela Construir e pela UERJ.

A luta pelo fim da terceirização e do trabalho precário precisa estar atrelada a uma resposta real e que signifique condições dignas de trabalho e vida para essas mulheres, a equiparação salarial entre negros e brancos para garantir as mulheres negras condições dignas de vida e equidade em relação. Deve estar atrelada a incorporação sem concurso e pelo fim de toda forma de precarização do trabalho.

 
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