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OLIMPÍADAS
Propaganda polêmica das Olimpíadas com Ronaldinho mostra Rio de mentira
Simone Ishibashi
Rio de Janeiro
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Uma propaganda com ares de superprodução estrelada pelo ex-jogador de futebol da seleção, Ronaldinho, está gerando na polêmica. Nela aparece um garoto numa favela, que vê cair do bolso de uma pessoa de moto uma carteira. O garoto pega a carteira na intenção de devolvê-la ao seu dono, mas é interpelado pela polícia, que o trata como ladrão. Agressivamente os policiais mandam que ele entregue a carteira. Inicia-se então uma perseguição policial ao menino, que em sua fuga vai cruzando diversos locais, dentre os quais favelas e locais turísticos, em que atletas se preparam para os jogos olímpicos. A perseguição só cessa quando o garoto, após ter fugido por boa parte da cidade, esbarra numa praia naquele mesmo rapaz que deixou cair a carteira na rua, e esse revela ser Ronaldinho. A partir de então os policiais sorriem, todos se abraçam, e jogam juntos uma pelada na praia. Num passe de mágica, todas as hostilidades cessam, e o Rio de Janeiro se transforma no palco da confraternização geral.

Para além do roteiro absolutamente inverossímil da propaganda, o que salta aos olhos é a tentativa desesperada dos patrocinadores das Olimpíadas, bem como do próprio governo, de transmitir uma mensagem de que apesar de todos os problemas sociais e econômicos evidentes e não raro chocantes do Rio de Janeiro, os jogos seriam um momento em que isso poderia ser deixado para trás. E a polícia e o povo da favela magicamente poderiam, frente a um gesto de uma celebridade do esporte, se reconciliar. Nada mais longe da realidade.

Com isso se tenta justificar o injustificável. E são vários, quando se trata das Olimpíadas. A começar pelos bilhões gastos para a realização de um evento no qual a imensa maioria da população do Rio não poderá participar. Isso em um momento em que o governo alega não ter dinheiro para o que realmente importa, com a cidade amargando um péssimo transporte público, e Saúde e Educação em franca decadência.

As cifras ainda não foram atualizadas, mas o último dado indicava que foram gastos R$ 38,26 bilhões nas Olimpíadas, com ingressos que podem chegar a até R$ 1200. Escândalos de superfaturamento das obras não cessam de surgir, e iniciativas que poderiam ser úteis para o povo carioca, como a despoluição da Baía de Guanabara, um dos anúncios do legado das Olimpíadas, parecem mais longe de se obter que antes.

Além disso, o megaevento fará com que o povo pobre do Rio seja alvo de ainda mais hostilidade por parte da polícia e do exército, que aumentarão a militarização ostensiva da cidade. Um contingente de força repressiva, que será composta por 41% de efetivos estatais, e 59% por efetivos privados, com destaque para a Força Nacional, tomará as ruas do Rio de Janeiro, aumentando ainda mais o clima repressivo contra o povo. A dicotomia entre a zona sul da cidade turística e romantizada pelas novelas da Globo, e a dura realidade da ampla maioria dos trabalhadores e jovens das favelas se fará ainda mais cruel.

No Rio de Janeiro recentemente 5 garotos que passeavam de carro foram assassinados com 111 tiros pela polícia. Engrossaram a estatística de que 77% das 644 pessoas mortas oficialmente pela polícia no ano passado eram negras e pardas, número que aumenta expressivamente quando considera-se os assassinatos extraoficiais feitos pelas forças repressivas. Numa cidade com essa realidade, marcada profundamente pela violência capitalista em suas mais variadas formas, a mensagem transmitida pela propaganda feita com Ronaldinho é não apenas utópica. É regressiva.

Veja aqui a propaganda das Olimpíadas:

 
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