Como está sendo analisada a tentativa de golpe de Estado da noite passada, sexta-feira ao sábado?
“A tentativa de golpe por um setor do exército turco surpreendeu a todo mundo, acima de tudo, é sintoma de uma crise mais profunda que atravessa o regime islamoconservador de Erdogan. Depois das primeiras horas de grande confusão, a situação foi se aclarando progressivamente. Se trata de um setor minoritário do exército que saíram dos quartéis, no entanto Erdogan terminou por retomar o poder”.
Quais foram as razões para o golpe?
Em seu comunicado, os militares acusaram o governo de AKP e Erdogan de serem responsáveis pelo fracasso político turco no exterior. Porém, não encontraram apoio algum, nem a nível nacional nem internacional. A nível dos setores da burguesia turca, incluindo organizações patronais mais laicas e hostis a Erdogan, condenaram o golpe de Estado. Em relação aos chanceleres ocidentais, não duvidaram durante nenhum segundo em condenar o golpe e chamar pelo “restabelecimento da ordem constitucional”. O Departamento de Estado norteamericano afirmou, apesar dos atritos entre a Casa Branca e Erdogan, seu apoio ao presidente, às instâncias da União Européia e do governo alemão.
Alguns analistas sugeriram, num primeiro momento, que Erdogan poderia estar por trás do golpe de Estado, ou que ele “havia desejado passar”, para logo instrumentaliza-lo pelo AKP e fortalecer suas intenções presidenciais e bonapartistas.
“Está é uma hipótese para se levar em consideração”, responde Barand Serhad, “porém não altera o fundamental: a necessidade de definir uma posição política independente frente a estes fatos”.
“Os combates entre a polícia, que se posiciona ao lado do governo, e dos militares golpistas, foi muito violento, tendo sido a rádio tomada pelos militares durante duas horas, sem falar dos voos rasantes sobre Estambul e Ankara por parte da aviação militar. Podemos considerar diferentes causas para o golpe, avaliar inclusive a possibilidade de um autogolpe de Estado. Porém, o que é seguro, independente de uma possível manipulação, é que, em última instância, o golpe permite a Erdogan reforçar o presidencialismo e suas políticas fortemente reacionárias”.
“De agora em diante, Erdogan tem todo o terreno livre e já começou, anunciando uma ‘limpeza’ ou ‘caça as bruxas’ contra os golpistas, que se transformarão em mais políticas repressivas contra toda a população, a oposição e o povo curdo”, conclui Baran Serhad.
“É preciso considerar o fato de que o conjunto das coordenadas políticas e geopolíticas foi transformado, tanto a nível interior como a nível regional. Por hora, é uma das frações reacionárias em disputa, que triunfou. Resta saber por quanto tempo. Mas, para o mundo do trabalho, da juventude e das classes populares da Turquia, sem falar nos Curdos, o panorama se obscurece um pouco mais”.
“O que reafirmamos é a necessidade de seguir lutando por uma alternativa política independente para os trabalhadores, as mulheres e o povo Curdo”.
Tradução: Julia Rodrigues
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