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LUTA PELA EDUCAÇÃO
UNICAMP: Quais rumos da mobilização queremos?
Tatiane Lima
Artemis Lyrae
Guilherme Zanni
Professor da rede municipal de Campinas.
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Um movimento de luta estudantil histórico na UNICAMP em meio à crise política nacional

A luta dos estudantes da UNICAMP se desenvolve em meio à crise política e econômica que sacode todo o país. O golpe institucional que ergueu Temer como o atual governo de ataques aos direitos da juventude e dos trabalhadores é assinado em baixo pela FIESP, por todos os conservadores e fundamentalistas da câmara dos deputados e pelos verdadeiros árbitros que são os membros do Judiciário. Essa realidade é o pano de fundo dos ataques profundos que todos os governos buscam impor à educação, à saúde e à cultura.

Em São Paulo não é diferente, o projeto para o aprofundamento do desmonte da educação, com maior restrição do acesso e a privatização das universidades estaduais paulistas, sempre foi disputado pelo próprio governo e seus pares, inclusive ele dá conteúdo ao oportunista discurso de setores como o Movimento Brasil Livre, como vimos em seus inúteis esforços e rídiculas ações, no entanto, a forte luta protagonizada pelos estudantes e trabalhadores é um obstáculo.

Na UNICAMP o amplo movimento já supera em mobilização a grande luta de 2007, com greve das três categorias e com destaque a greve geral estudantil, que alcançou 20 dos 24 institutos e faculdades da universidade, sendo uma ilustração dessa força a inédita greve da Medicina, além de todas as paralisações, Mesas, Rodas e Grupos de Discussão, as oficinas, atos lúdicos, festas e centenas de atividades diversificadas. O movimento dos estudantes expressou sua radicalização com um amplo movimento, com piquetes que se enfrentaram com os professores contrários à greve, com a ocupação da reitoria da universidade e reivindicações centrais que confrontam o projeto de precarização, como o questionamento dos cortes, a luta por melhores condições de estudo, a exigência da ampliação da moradia estudantil e de políticas de permanência que atendam a demanda, além de, e principalmente, questionar o racismo estrutural dessa dita universidade de excelência ao exigir a implementação das cotas étnico-raciais.

Projetos de educação em disputa: As ameaças e a estratégia da reitoria

A reitoria da UNICAMP, bem como a rede de diretores de institutos e professores que a apoiam, possuem um falso discurso democrático e do “diálogo”, porém antes de abrir qualquer discussão emitiu um pedido de reintegração de posse e ameaçou colocar a polícia no campus contra o movimento legítimo de ocupação realizado pelos estudantes. Além de violar a conquista dos estudantes que lutaram contra a polícia no campus em 2013, concretizar essa ameaça seria fazer como Alckmin: chamar a polícia para violentar quem defende a educação.

A enrolação diante de promessas de anos com relação à permanência estudantil, a intransigência absoluta em suspender os cortes que afetam o ensino e a pesquisa, além das atividades administrativas, bem como a omissão com relação a falta de uma política de cotas étnico-raciais para a inclusão de estudantes negrxs, além da irresponsabilidade que permite a terceirização e condições de subemprego na UNICAMP, essas posições todas revelam uma reitoria que conta com o apoio de professores petistas, diferente na forma abertamente repressora e anti-sindical da reitoria da USP, que cortou salário de trabalhadores grevistas e que colocou a polícia para reprimir a moradia dos estudantes, entretanto profundamente ligada ao mesmo conteúdo: o projeto de universidade também defendido pelas reitorias da USP e UNESP, que não se enfrenta e é base para a aplicação dos planos privatistas do governo do estado.

Essa reitoria e seus aliados, que compõem a alta casta dessa burocracia privilegiada, bem como os representantes conservadores que constituem a maioria do Conselho Universitário, são responsáveis pela UNICAMP ser completamente desvinculada dos interesses da população e da sua produção “de ponta” ser alheia à resolução de problemas sociais elementares. Esse é o motivo da sua intransigência, o forte movimento que estamos construindo ataca seu projeto frontalmente!

Alcançados mais de um mês e meio da nossa, a intransigência da reitoria permanece e sua tática passou ao terrorismo contra os estudantes. Com chantagens de chamado da polícia, anunciadas em notas públicas, disseminando boatos, apoiados pela mídia, e até mesmo através de alguns professores interessadamente “intermediadores”, a reitoria seguiu sua linha de não negociação, buscando impor suas posições contra nossas reivindicações.

Um balanço sobre as propostas de recuo diante das chantagens da reitoria

Conscientemente a reitoria quer nos dividir, semeando o medo da punição e separando o grande movimento de greve da ocupação, duas frentes que juntas promovem a força da nossa mobilização. Ela insiste em negociar apenas sobre a ocupação, mas a nossa pauta é unificada, os documentos que debatemos e levamos à mesa de negociação não é um documento restrito à ocupação, ele corresponde às pautas prioritárias de todo o movimento de greve.

Foi essa pressão e separação da totalidade do nosso movimento que fez com que na última assembleia geral, a partir da defesa de alguns setores do Núcleo de Consciência Negra, alguns representantes discentes da Moradia, o PSTU e alguns estudantes autônomos, defendessem alterações no documento que retiraram das nossas reivindicações exigências centrais, como a reivindicação do posicionamento do reitor favorável à implementação de cotas étnico-raciais, a suspensão dos cortes e a garantia de direitos elementares aos trabalhadores terceirizados da universidade. Mesmo com todas as alterações, a reitoria não aceitou esse documento e segue em aberto o espaço de reflexão acerca dos rumos que ainda podem tomar a nossa luta, não no sentido do recuo, mas no sentido das conquistas que a sua força pode impor.

Com a força da nossa luta já conquistamos um plano concreto de ampliação das 600 vagas da moradia estudantil, a ser iniciado ainda em 2016. O amplo movimento que estamos construindo já forjou uma geração de estudantes que quer acabar com o elitismo e racismo na UNICAMP, que quer ver implementadas as cotas étnico-raciais e não aceitam que a “Melhor do Brasil” continue excluindo as negras e negros, ou lhes relegando o trabalho ultraprecário. Foi para mudar a ordem errada das coisas que nos levantamos e paralisamos a normalidade, por isso não podemos ter qualquer confiança na reitoria, nem na burocracia universitária, mas seguirmos afirmando a força da nossa mobilização e exigindo que nenhum de nós sejamos punidos por lutar. Devemos seguir firmes contra as punições, para que nenhum estudante que ocupou e que nenhum grevista seja punido, a reitoria deve nos garantir isso!

Radicalizar, conquistar o apoio da população e unificar com os trabalhadores

A busca do apoio da população é fundamental, colocar a nossa greve na rua, aprofundar o diálogo que já temos com estudantes secundaristas da cidade, realizar as panfletagens no HC e Terminais de ônibus, realizar as campanhas de doação de sangue e do agasalho, buscando o convencimento de que a luta pelas cotas, contra os ataques à saúde e os cortes no Hospital são nossas lutas comuns. Devemos, também, expandir a unidade com os trabalhadores da universidade, que já se mostrou estratégica nas ações radicalizadas que fizemos juntos e na solidariedade que nos deram, além de nos ligarmos aos estudantes e trabalhadores da USP e UNESP para disputar outro projeto para as estaduais paulistas.

Por isso deve ser feito o balanço do Diretório Central dos Estudantes, dirigido pela organização 1º de Maio/Domínio Público, que desde o início da greve não incentivou e nem construiu com suas forças nenhuma ação de unificação e nem de diálogo com a população, bem como contrapôs o movimento dentro da UNICAMP à estadualização com a USP e UNESP, além de desarmar o debate sobre os ataques do governo Alckmin e os reflexos da política golpista de Temer no projeto que unifica as reitorias paulistas. Foi por isso que o DCE não construiu na base dos estudantes o Encontro Estadual, que mandou apenas 3 representantes ao trancasso da entrada de Barão Geraldo no dia 3 de junho, não compareceu à Plenária Unificada com os trabalhadores, mandou apenas três representantes ao ato unificado no Palácio do Governo em São Paulo etc. Essa estratégia corporativista só contribuiu para o isolamento do conflito e não foi uma contrapressão à reitoria e os ataques da mídia conservadora.

Com radicalização, unificação com os trabalhadores da UNICAMP e diálogo com a população podemos assegurar que a força do nosso movimento arranque as conquistas que desejamos e não deixe passar nenhuma punição aos que lutam!

Cotas SIM! Cortes NÃO! Contra o golpe e pela educação! Por permanência e ampliação!

 
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