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BASTA DE VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES
Não à cultura do estupro: governo, justiça, igrejas e mídia são responsáveis
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED

Na última semana o ódio diante do estupro de uma jovem por mais de 30 homens tomou conta do país. É preciso dizer não à cultura do estupro: a mídia difunde, a justiça revitimiza, congressistas defendem, os governos perpetuam e as Igrejas abençoam. Sejamos milhares nas ruas.

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Em apenas algumas horas, o vídeo retratando o estupro de uma jovem de 16 anos por mais de 30 homens no Rio de Janeiro tomou conta das redes sociais fazendo um verdadeiro levante de indignação contra esta escandalosa violência. Da redes sociais foi para as salas de aulas, foi para os intervalos nas fábricas, durante o trajeto do ônibus, nos almoços e jantares de família, nas ocupações e greves, adentrou em todos os espaços, fazendo da questão da violência à mulher um tema nacional.

Tudo isso acontece em meio a um governo golpista, de um senhor Michel Temer que se vangloria de ser casado com uma mulher que deve ser “bela, recatada e do lar”. Provavelmente baseado nesta “conduta feminina”, o delegado Alessandro Thiers, já afastado do caso, perguntou se a jovem estuprada praticava “sexo grupal”, buscando revimitizar a jovem e perpetuando a cultura do estupro, ou seja, buscando algo na conduta da jovem que pudesse justificar a atrocidade. A Polícia continua afirmando que precisa de mais provas para ter certeza de que não foi consentido.

O PT, em todos os seus anos de governo abriu caminho para fortalecer esta direita que hoje avança em incentivar a violência. Mesmo a Lei Maria da Penha não impediu que os números aumentassem enormemente.

Uma longa teia de violência contra as mulheres

Este caso escancarou o problema da violência contra as mulheres no Brasil. Os femicidios, antecedidos pelos estupros, são a pior expressão da desigualdade de gênero. Escancaram que as mulheres são convertidas em propriedades privadas ou que existem proprietários da vida das mulheres. Como disse Andrea D’Atri “Essa violência fatal machista não é exceção, mas sim rotineira, cotidiana, permanente e ajuda a perpetuar uma ordem social no qual as mulheres estão subordinadas. É o último elo de uma larga teia de violências contra as mulheres originadas nas sociedades de classe, legitimada e reproduzida pelo Estado, suas instituições e sua casta política de administradores”.

Esta enorme teia de violência contra as mulheres começa com os assédios nos locais de trabalho, abusos sexuais diretamente de chefes e gerentes, o assédio que vemos nas ruas, a violência dentro das casas, mas também se expressa com força na ideia de que a mulher não podem decidir sobre seu próprio corpo mesmo que isso signifique sua morte como resultado de um aborto clandestino. Em tudo isso as propagandas de TV e os produtos vendidos pelo capitalismo contribuem para tornar a mulher uma mercadoria, um objeto sexual ou alguém infeliz em busca de um modelo de beleza inalcançável – em especial para aquelas mulheres que possuem as mais altas jornadas de trabalho. A mídia dá sua contribuição difundindo o preconceito de gênero retratando as mulheres sempre em lugares subordinados, ou então incentivando a violência e o estupro, como vimos no grotesco episódio de Ratinho chutando uma atendente de palco e Alexandre Frota, agora “conselheiro” do Ministério da Educação do governo golpista de Temer.

Por isso, lutar contra a cultura do estupro passa em primeiro lugar por responsabilizar as instituições declaradas e não declaradas desta sociedade capitalista, que buscam mais exploração ou dominação sobre as mulheres. Neste âmbito, a justiça cumpre sempre um papel de proteger o Estado, revitimizando as mulheres, como vimos novamente no caso da jovem carioca. Além do afastamento do delegado seria necessário constituir um júri popular para tratar do caso. As Igrejas, instituições que lucram sobre a fé de milhões de pessoas, querem impor sua crença sobre a vida das mulheres, impedindo que possam decidir. Em nome da “vida”, milhares de mulheres morrem por abortos clandestinos, e a Igreja condena mais o aborto, do que as mortes. Tudo isso mostra que a cultura do estupro está a serviço também de perpetuar esta ordem capitalista de exploração e opressão.

Sejamos milhares nas ruas contra a violência às mulheres

Em primeiro lugar, é preciso todo apoio e solidariedade à jovem que sofreu revoltante violência nesta semana, ao mesmo tempo em que exigimos justiça já para ela e todas as vítimas de violência de gênero. Nós devemos saber que o fim da opressão a nós mulheres não virá deste Estado burguês, no governo, no congresso e na justiça, que incentiva e protege a violência de gênero, e por isso ao mesmo tempo que lutamos contra cada forma brutal de opressão e por cada direita mais elementar devemos direcionar nossa luta contra nossos verdadeiros inimigos: o estado capitalista.

No próximo dia 1º de junho devemos ser milhares nas ruas pra dizer um basta a violência as mulheres e lutar pra que essa bandeira seja tomada também pelos homens e pelo conjunto da população que se coloca contra essa barbárie. Precisamos lutar por um plano de emergência para assistir as vítimas de violência, que deve começar por subsídios garantidos pelo estado (com licenças do trabalho), todo acesso à saúde pública e de qualidade, e a criação de casas abrigo transitórias para as mulheres em situação da violência com planos de obras públicas, tudo baseado na criação de impostos progressivos à grandes fortunas.

Construir em cada local de trabalho, de estudo e de moradia essa enorme luta, que os sindicatos, entidades estudantis, organizações de direitos humanos e de esquerda tomam essa luta em suas mãos. Basta de violência contra as mulheres! Pão e Rosas chama todas e todos a marcharem neste 1º de junho.

Publicado originalmente em 30 de Maio de 2016.

 
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